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Ladeira do Alves

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Da Redação

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Atualizado em 24 de outubro de 2007 16:27


Ladeira do Alves

A rua localizada na Praça Horácio Sabino, na Zona Oeste de São Paulo, pode ser recapeada graças à pressão de skatistas que freqüentavam o local.

Impedidos de descer a ladeira em função de barreiras criadas com a remoção do asfalto em diferentes trechos, os praticantes pressionam o poder público.

A remoção do asfalto na via foi feita em junho, após pressão da Associação de Amigos do Jardim das Bandeiras, sob pretexto de que a obra ajudaria a drenagem do local.

A intenção da Secretaria de Esportes Municipal é criar um espaço exclusivo e tirar o esporte das ruas da cidade. "Para essa modalidade há algumas impossibilidades. Quando se esta cruzando uma rua com o skate ou passando em frente a uma residência, há riscos. Não fugimos de trazer o esporte para cidade, mas o skate na ladeira traz algumas particularidades", defende Thiago Lobo, assessor técnico da Secretaria de Esportes indicado pelo secretário Walter Feldman para tratar da questão.

A jornalista Phydia de Athayde, uma das freqüentadoras, enviou à redação alguns trechos da carta que ela enviou ao MP em agosto desse ano. Confira abaixo:

"Meu nome é Phydia de Athayde, sou jornalista, tenho 30 anos, resido e trabalho na cidade de São Paulo. Em meus momentos de lazer, gosto de andar de skate, um esporte comunitário, praticado na rua. Até existem modalidades praticadas em pistas construídas para este fim, mas não é meu o caso, assim como não é o caso da maioria dos skatistas, que gostam exatamente do caráter libertário e socialmente democrático do esporte.

Há cerca de oito anos, nas obras para a linha verde do Metrô (estação Vila Madalena), uma das ruas do entorno da praça Horácio Sabino, no Jardim das Bandeiras, recebeu asfalto novo para agüentar o tráfego desviado da rua Heitor Penteado. Finda a obra, a praça, com asfalto liso e inclinação perfeita para o skate, começou a se tornar um ponto de encontro de skatistas.

É sabido o quanto São Paulo é carente de praças e espaços para o lazer gratuito. Para os skatistas, a praça Horácio Sabino é um verdadeiro oásis. Apesar de localizada em um bairro de classe média alta, lá conviviam skatistas de toda a cidade, muitos, inclusive, de bairros mais pobres. O clima formado pela convivência entre skatistas, crianças, velhos, adultos, bicicletas, bolas, etc, sempre foi extremamente pacífico. A praça era pública e de todos. Nos finais de semana, o pobre e o rico compartilhavam o mesmo espaço.

Há cerca de três meses, porém, uma medida segregacionista da subprefeitura de Pinheiros expulsou, proibiu, exterminou os skatistas da praça. A subprefeitura instalou, no asfalto liso, faixas de paralelepípedos, de lado a lado da rua, com o único propósito prático de impedir a passagem dos skates. Oficialmente, a subprefeitura alegava que as faixas de paralelepípedo são parte de uma "obra para contenção de enchentes" - o que se comprovou inverídico.

A instalação dos paralelepípedos provocou surpresa e revolta nos freqüentadores da praça - não apenas os skatistas, mas todos que valorizavam a diversidade social do local. Nas últimas semanas de junho, um abaixo assinado recolheu 180 assinaturas repudiando a violência contra o espaço público promovida pela subprefeitura. Na comunidade virtual "Orkut" há 494 membros inscritos na comunidade "Ladeira do Alves". Todos perderam a ladeira, perderam a praça.

No último dia 3 de julho, o secretário de Esportes do município, Walter Feldman e o subprefeito de Pinheiros, Nilton Nachle, convidaram alguns skatistas para conversar. No encontro, o subprefeito admitiu que a "obra" é, na verdade, resultado da pressão da Associação de Moradores do Jardim das Bandeiras. A Associação não gosta da presença de skatistas e pressionou a subprefeitura por uma providência que os expulsasse até o ponto em que esta, subserviente, cedeu. É bom destacar que a ojeriza aos skatistas não é unanimidade entre os associados. Muito menos entre os moradores da praça. Nem mesmo entre aqueles em cuja área de frente costumam (costumavam) passar os skates.

Ao fim da reunião, o subprefeito prometeu encontrar um meio termo para a questão. Mesmo atrasado, mediaria o conflito em vez de sucumbir à vontade do mais forte. Pois bem: nada foi feito. Os paralelepípedos continuam lá. Por vontade arbitrária e segregacionista de alguns, simplesmente matou-se uma praça.

A partir deste ponto, está claro que a subprefeitura não está disposta a voltar atrás em sua decisão"

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