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Abertura de seminário OAB/SP - FGV avalia crise e perspectivas

Da Redação

terça-feira, 25 de março de 2008

Atualizado às 10:12


Debate

Abertura de seminário OAB/SP - FGV avalia crise e perspectivas

O jornalista Carlos Alberto Sardenberg abriu o seminário "Risco e Oportunidades de Empreender", promovido pela OAB/SP e FGV, ontem às 9h30, no auditório da FGV. William Eid, Walter Cardoso Henrique e Pedro Anan Jr foram os moderadores do debate.

Sardenberg iniciou dizendo que os jornalistas tem dois "truques". Primeiro, a habilidade de ficar em "cima do muro", ao ouvir todos os lados de um fato e deixar para o leitor/ouvinte, as conclusões. O segundo, a habilidade de defender qualquer ponto de vista, uma vez que trabalha ouvindo todas as versões. Assim, sua palestra pretendia mostrar os fatos e tentar expor as conclusões, lembrando que a economia é uma ciência humana, portanto, incapaz de extrair, como na ciência exata, um único resultado.

Exemplificou, dizendo que o Banco Central dos Estados Unidos tomou uma série de medidas para controlar a crise que, num primeiro momento deu uma sensação de alívio ao mercado e num segundo momento deixou o mercado nervoso, porque se medidas como estas vinham sendo tomadas é porque algo de grave estava acontecendo. "Foi um pacote do bem, com a devolução de dinheiro do imposto de renda para os contribuintes. Será que vai funcionar ? Não sabermos, porque se as pessoas gastarem, fazendo a economia girar, funcionou; se optarem por poupar, não vai funcionar. Não é possível saber como as pessoas vão reagir, nem mesmo comparando crises, porque há muitas variáveis entre os dois cenários", afirmou Sardenberg.

Brasil surfa na crise

Para o jornalista, quando se analisa a economia é importante entender os fatos e as interpretações. Na sua avaliação, o Brasil vem surfando na onda da crise, porque vem de um período de bom crescimento mundial, que deixou de fora pouquíssimos países. Dois fatores, segundo Sardenberg, contribuíram para este crescimento: a internet, pelo brutal ganho de produtividade, e a entrada da China na era de produção capitalista, com um mercado de 1,3 bilhão de pessoas; "O Brasil deu sorte em decorrência do crescimento da matéria prima, commodities e alimentos, áreas de competência do Brasil", afirmou Sardenberg. Ele lembrou que a China consegue hoje metade do cimento do mundo, 1/3 do aço mundial e 7 milhões de barril de petróleo / dia. Também cria novas classes de consumidores. No ano passado, a China importou 177 Ferraris e a América Latina, 80.

Sardenberg afirmou que neste ano a economia mundial vai crescer menos, mas em 2009 não se sabe o que vai acontecer. Os bancos centrais não estão assistindo a crise de barcos cruzados. Os Eua reduziram as taxas de juros, fundos compraram ações dos bancos, resgataram mutuários e empresas. "Não se busca salvar o banqueiro, mas o banco e os recursos de clientes e investidores. Quando o banco quebra, todos perdem", disse. Segundo Sardenberg, não se sabe se o problema é falta liquidez, ou seja, se os bancos possuem dinheiro, mas não conseguem empresas por crise de confiança, ou se já insolvência bancos estão sem dinheiro para pagar correntistas, investidores, o que é mais grave e poderia gerar uma recessão como a de 1929.

Crise norte-americana

Sobre a crise imobiliária americana, avaliou que o fundamental hoje é esperar para ver até onde os preços das casas caem para que, a partir da estabilidade, saber quando valem os ativos e poder mensurar os problemas. Para Sardenberg, ainda não é possível antever se a recessão ou desaceleração será breve ou longa. Citando "The Economist", avaliou que em março o preço de todas as commodities caíram porque haviam subido demais, puxados pelo consumo alto e pela especulação, que agora caem para um patamar mais realista. "A não ser que haja um desastre muito grande nos Estados Unidos, as commodities continuarão a crescer. Certamente se a crise nos EUA for longa, ninguém escapará", Comentou.

Na avaliação de Sardenberg, a economia brasileira vai muito bem. Comparando com a última crise, em 2002, as exportações saltaram de 60 bilhões de dólares para 160 bilhões no ano passado, o saldo comercial de 13 bilhões de dólares foi para 40 bilhões e a dívida externa caiu de 210 para 199 bilhões de dólares. A inflação foi dominada, a taxa de juros caiu, assim como o risco brasil, a massa de rendimento salarial subiu e o crédito também cresceu no volume e nos prazos. "A mudança foi da água para o vinho, sendo o resultado de 20 anos de reforma de uma polícia econômica que não sofreu mudanças de rumo", avaliou.

A despeito deste quadro positivo, Sardenberg afirmou que o Brasil ainda é o mais atrasado dos paises emergentes, porque tem uma carga tributária alta, de 37%, quando o ideal seria 22%; um gasto com previdência de 13% , quando deveria ser 6%; uma taxa de juro de 7%, quando deveria ser 2/3% e um dívida pública liquida de 43%, quando deveria ser 30%. ' O Brasil tem três doenças, na visão do palestrante - baixa qualidade dos políticos, baixa qualidade da burocracia publica e visão dominante no aparelho público de que o Estado é bom e inclusivo e que o capital produz desigualdades. "A grande revolução que falta ao Brasil fazer é um choque capitalista de infra-estrutura, pois o país tem poucos recursos para investir, mas restringe a atuação do setor privado, caso dos aeroportos", finalizou.

Após a palestra, o público pôde fazer perguntas. Inquirido por Walter Cardoso Henrique, presidente da Comissão de Assuntos Tributário da OAB/SP, se uma reforma tributária neutra teria sucesso no país, Sardenberg respondeu que uma reforma como está somente será aprovada no Congresso Nacional com o empenho de uma grande liderança. "Por isso o presidente Lula não pode dizer que encaminhou o projeto de reforma tributária para o Congresso e que sua atuação acaba aí", comentou.

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