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OAB lamenta a morte do jornalista e ex-deputado Márcio Moreira Alves

Da Redação

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Atualizado às 09:00


Falecimento



Aos 72 anos, morre o jornalista e ex-deputado Moreira Alves

Faleceu na tarde desta sexta-feira, aos 72 anos, no RJ, o jornalista e ex-deputado federal Márcio Moreira Alves.

Moreira Alves nasceu no Rio de Janeiro em 14 de julho de 1936 e ficou conhecido pelo discurso que fez na Câmara sugerindo o boicote às comemorações do 7 de Setembro de 1968. Logo depois, o governo militar instaurou o AI-5, que dava poder irrestrito aos governantes com direito à censura a meios de comunicação e permitia o fechamento do Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais.

Por causa do discurso, Moreira Alves - na época deputado federal eleito pelo MDB - encabeçava a lista de 11 deputados que teriam o mandato cassado. O pedido de cassação foi rejeitado pelo plenário da Câmara.

Com o agravamento da crise política no país, ele deixou o Brasil ainda em 1968 e foi para o Chile, onde ficou exilado até 1971. Depois morou na França, Cuba e Portugal. Retornou ao Brasil em 1979, beneficiado pela Lei da Anistia.

De volta, filiou-se a o PMDB e tentou se reeleger novamente como deputado, mas não conseguiu. Em 1984, passou a assessorar Bresser Pereira na Secretaria de Governo do Estado de São Paulo e, em 1987, foi Subsecretário para Relações Internacionais do governo do Estado do Rio de Janeiro. Três anos depois desfiliou-se para montar uma assessoria política.

Como jornalista trabalhou no Correio da Manhã e colaborou com os jornais O Globo, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil. Ganhou o prêmio Esso de jornalismo pela cobertura da crise política em Alagoas, em 1957, quando a Assembleia Legislativa do Estado foi invadida. Ele foi atingido por um dos tiros mas mesmo ferido conseguiu passar a reportagem por telegrama.


OAB lamenta a morte do jornalista e ex-deputado Márcio Moreira Alves

O presidente nacional da OAB, Cezar Britto, lamentou a morte do jornalista e ex-deputado Márcio Moreira Alves, ocorrida na noite desta sexta-feira, 4/4, no Hospital Samaritano, após cinco meses de internação vítima de falência múltipla dos órgãos.

Segundo Britto, "a morte de Márcio Moreira Alves evoca mais uma triste página da história contemporânea do Brasil, em que figurou ao lado das forças da democracia, em franca resistência à ditadura". Ele lembrou que o jornalista sempre protestou contra o véu de silêncio do que ocorreu naqueles tempos sombrios. "Não há melhor forma de homenageá-lo que insistir no esclarecimento do que ainda está encoberto, nos arquivos oficiais, a respeito da tragédia autoritária do regime militar".

Segue a nota oficial do Conselho Federal da OAB :

"A morte de Márcio Moreira Alves evoca mais uma triste página da história contemporânea do Brasil, em que figurou ao lado das forças da democracia, em franca resistência à ditadura.

Cassado por 'delito' de opinião - um discurso da tribuna da Câmara dos Deputados, em 1968 -, serviu de pretexto para um dos mais nefastos capítulos do regime militar: a edição do ato institucional nº 5, que agravou ainda mais o ambiente autoritário em que o país vivia, aprofundando a repressão e a violência política.

Márcio tornou-se emblema do inconformismo de sua geração. Como jornalista, foi o primeiro a publicar um livro relatando o que se passava nos porões do regime, denunciando a prática sistemática e institucionalizada da tortura a prisioneiros políticos.

Purgou o exílio, deu aulas e conferências no exterior, contextualizando o drama autoritário que padecia a América Latina e, em seu regresso, reassumiu sua tribuna de jornalista, com independência, tornando-se voz influente no processo político.

Beneficiário da anistia, protestou sempre contra o véu de silêncio que ainda cobre parte substantiva da história daqueles tempos sombrios. Não há melhor forma de homenageá-lo que insistir no esclarecimento do que ainda está encoberto, nos arquivos oficiais, a respeito da tragédia autoritária do regime militar.

O repórter Márcio Moreira Alves, que antes dos 20 anos foi agraciado com um Prêmio Esse de Jornalismo, certamente aplaudirá."

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