Gramatigalhas

Eu ou Mim – Como empregar?

Eu ou Mim – Como empregar?

6/1/2021

O leitor Paulo Ortigosa envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:

"Prezado senhor, estamos, nós aqui em casa, com uma dúvida na Língua Portuguesa. Tentamos já, por várias maneiras resolvê-la, mas foi em vão; não chegamos a um acordo. A dúvida é qual das duas formas abaixo é a correta de se dizer: 'ela paga mais do que eu' ou 'ela paga mais do que mim'. Desde já obrigado"

1) Um leitor, demonstrando total dúvida sobre como empregar os pronomes eu e mim, indaga qual das seguintes frases está correta: (i) "Ela paga mais do que eu"; (ii) "Ela paga mais do que mim".

2) Embora pareça complexa, a questão se reveste de facilidade técnica, o que não significa que sempre seja simples resolver os casos concretos.

3) A regra fundamental nesse campo diz que o pronome eu é do caso reto, o que significa que serve para funcionar como sujeito. Enquanto isso, o pronome mim é do caso oblíquo, o que quer dizer que ele desempenha uma função sintática própria de um complemento (jamais de um sujeito).

4) No caso da indagação do leitor, pode-se fazer a seguinte análise, da qual resulta conclusão óbvia: (i) quando se diz a frase "Ela paga mais do que eu", existe, em termos técnicos, um verbo oculto, de modo que o período completo é "Ela paga mais do que eu pago"; (ii) nesse quadro, não é difícil perceber que, quando a última oração está com todos os seus termos expressos, eu é o sujeito de pago; (iii) e, se assim é, como o sujeito de uma oração deve sempre ser do caso reto, só se pode dizer eu pago, e jamais mim pago.

5) Atente-se, em continuação, a dois outros exemplos, ambos com o emprego correto dos pronomes pessoais eu e mim: (i) "Ela estava distante de mim"; (ii) "Ela estava mais distante do que eu". No primeiro caso, o pronome é efetivamente oblíquo e desempenha a função de um complemento, o que se percebe pela impossibilidade de existência de um verbo ao final. Já no segundo caso, o pronome é do caso reto e desempenha a função de sujeito de um verbo oculto (o exemplo estendido com todos os seus termos é "Ela estava mais distante do que eu estava").

6) Apenas para ilustrar, deve-se dizer que envolvem exatamente essas questões os seguintes exemplos, todos corretos: (i) "Ele trouxe os autos para mim"; (ii) "Ele trouxe os autos para eu ler"; (iii) "Para mim, ler os autos é tarefa demorada"; (iv) "Para eu ler os autos, preciso de umas duas horas"; (v) "Ler os autos é tarefa demorada para mim"; (vi) "Para mim, ir ou ficar não faz diferença"; (vii) "Ir ou ficar, não faz diferença para mim".

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.