Enviar um filho para cursar uma universidade nos Estados Unidos é o sonho de muitos pais brasileiros, e uma meta que exige planejamento financeiro, conhecimento dos trâmites educacionais e adaptação cultural.
O advogado Daniel Toledo, especialista em Direito Internacional e fundador da Toledo Advogados Associados, compartilhou em detalhes a experiência com a matrícula do próprio filho em uma instituição americana.
A jornada, segundo ele, vai além de boas notas no boletim escolar, envolve foco, documentação detalhada dos pais e uma análise minuciosa de perfil por parte da universidade. "Meu filho não era o melhor aluno da sala. Sempre passou de ano, ia bem nas disciplinas de humanas, mas não tinha um GPA excepcional. O que fez a diferença foi o conjunto, quem ele é, quem somos nós como família e o que ele pode se tornar", afirma Toledo.
Etapa 1: Foco e escolha da universidade
Ao contrário da estratégia comum nos EUA, aplicar para várias instituições e escolher entre as opções aprovadas, Toledo decidiu concentrar os esforços em uma única universidade. "Assumi o risco. Se não desse certo, teríamos que rever tudo. Mas preferi apostar em foco e preparo, conhecendo de perto o campus, conversando com coordenadores e visitando a faculdade antes de aplicar".
Segundo dados do NCES - National Center for Education Statistics, há mais de 4 mil instituições de ensino superior nos EUA. A taxa média de aceitação nas universidades é de 68%, mas nas mais competitivas, como Harvard ou Stanford, esse índice cai para menos de 5%.
Etapa 2: Documentos e comprovação de renda
Mesmo após a aceitação inicial, a matrícula não é garantida sem uma segunda triagem, a análise do histórico familiar. A universidade solicitou do advogado todos os documentos acadêmicos, currículos, certificados e declarações fiscais nos quatro países onde atua, Brasil, Estados Unidos, Itália e Panamá.
"Não foi só o imposto de renda dos EUA. Tive que enviar os rendimentos do exterior também. A universidade quer entender quem está por trás do estudante. Eles avaliam o potencial de contribuição futura do aluno e o histórico da família", explica.
Além da comprovação de capacidade de pagamento, Toledo optou por não solicitar bolsas nem financiamentos públicos. "Quis que meu filho estudasse com tranquilidade, sem depender de aprovação de auxílio. Preferi me preparar financeiramente com antecedência".
Etapa 3: Custo e planejamento financeiro
Estudar em uma universidade americana é um investimento significativo. De acordo com o College Board, o custo médio anual de uma universidade pública para residentes fora do estado (como é o caso da maioria dos estudantes estrangeiros) é de US$ 27 mil. Já nas universidades privadas, esse valor ultrapassa US$ 38 mil por ano.
No caso da família Toledo, o custo estimado foi de US$ 150 mil a US$160 mil para os quatro anos de graduação, fora despesas com moradia, alimentação, plano de saúde, livros e transporte. "Universidades mais renomadas ultrapassam os US$ 60 mil por ano. Mas há boas opções na faixa dos 20 a 40 mil dólares anuais que oferecem estrutura e reconhecimento."
Etapa 4: Curso, inglês e adaptação
O filho de Daniel Toledo optou por iniciar o curso com foco em Political Science, com intenção de seguir para a área de Direito (Law School) no futuro. A graduação tradicional em Direito nos EUA exige primeiro um Bachelor's Degree, seguido por mais três anos de Juris Doctor (JD) e aprovação no exame da ordem (Bar Exam).
Sobre o domínio do inglês, o advogado é direto. "O aluno brasileiro que estudou inglês no Brasil não está preparado. A diferença de sotaques nos EUA é brutal. Meu filho convive com colegas indianos, chineses, hispânicos e americanos de diferentes regiões. Se o jovem não fez o ensino médio nos EUA, vai ter mais dificuldade para acompanhar".
Por isso, Toledo recomenda que, quando possível, os estudantes brasileiros concluam o High School nos Estados Unidos. "Ajuda na fluência, na adaptação à cultura acadêmica local e facilita a entrada em boas universidades".
Etapa 5: Carga horária e diploma duplo
Uma vantagem destacada na experiência foi a flexibilidade do sistema americano. Com a estrutura de créditos e janelas de horário, o estudante pode aproveitar disciplinas eletivas para obter mais de um diploma.
"Com o planejamento certo, meu filho vai sair com três graduações em áreas complementares: Political Science, Business e Criminal Justice. Isso amplia muito as possibilidades futuras".
Toledo acredita que o maior erro dos pais é criar expectativas descoladas da realidade. "Muitos acham que os filhos vão direto para Harvard. Isso pode gerar frustração se não acontecer. O importante é alinhar a escolha com o perfil do aluno e entender que a faculdade americana está buscando quem tem potencial para agregar à marca dela, seja no mercado, no empreendedorismo ou na carreira acadêmica".
O passo mais importante, segundo ele, é se planejar com antecedência e conhecer bem o que está por trás das exigências. "A universidade quer saber se o aluno é capaz, se os pais podem sustentar o projeto e se a trajetória da família pode trazer orgulho para a instituição no futuro. Quando isso está claro, as portas se abrem", conclui.