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Um olhar sobre o cenário pós primeiro turno. E a contradição entre o frentismo e a narrativa

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Atualizado às 08:56

1) Finalmente acabou a Nova República

O primeiro turno fechou a era da Nova República, inaugurada em 1985. Os dois pilares básicos dela finalmente ruíram: o governo dos políticos e a política no governo. O frentismo centrista neste segundo turno é exigido do PT apenas como gesto de capitulação final. Pois não se exige o mesmo do nome do PSL. O vetor dominante agora é antifrentista. A hora é dos bonapartes.

2) Próximo movimento será o Executivo retomar o Poder Moderador

O Brasil já teve um bocado de Constituições, mas nunca deixou de ter um Poder Moderador, como o imposto desde D. Pedro I. Quando Executivo e Congresso foram para o ralo nos acontecimentos recentes a coisa escorreu para o Judiciário e as Forças Armadas. Se o novo presidente quiser governar mesmo, não ser só um figurante, vai ter de retomar esse poder.

3) Narrativas têm consequências. Frentismo? Difícil

Os criadores da narrativa da "ameaça dos extremos" tiveram mais sucesso na difusão da tese na imprensa do que entre os eleitores. Mesmo com a ideia maciçamente martelada na campanha. Mas se poucos dias atrás o sujeito dizia que PT e Bolsonaro eram ameaças iguais, como explicar agora a necessidade de se aliar a um para derrotar o outro? Complexo.

4) O tsunami pegou em cheio quem estava na praia

Se você tem o poder de provocar um terremoto, não é prudente esperar na praia pelo tsunami. O terremoto começou em 2013 e ganhou intensidade em 2015/16. Agora veio a onda, que atingiu muita gente, mas principalmente quem está no governo central. Quem havia sido empurrado para a montanha, mesmo contra a vontade, teve mais chance de sobreviver.

5) Engenharia de obra feita é fácil. E pode ser útil de vez em quando

O "se" não joga. E depois de a coisa acontecer é fácil falar. Mas se o nome do PSDB fosse de direita raiz, e não nutella, é razoável supor que seria mais competitivo e as bancadas não sofreriam tanto. Retrospectivamente, foi errado Alckmin acreditar na teoria do "candidato de centro" e foi errado Dória não se apresentar para a disputa política aberta dentro do partido.

6) O apreço pela democracia detectado nas pesquisas é duvidoso

As pesquisas garantem que o brasileiro adora a democracia. Mas talvez não se tenha explicado direito aos pesquisados o que é "democracia". Qual seria o resultado se se perguntasse algo como "você acha aceitável o governo oferecer cargos aos partidos para eles apoiarem o governo, inclusive no Congresso?" Eu tenho um palpite sobre a resposta.

7) Quem quiser ser candidato em 22 tem de começar já

O debate "TV x redes sociais" ainda corre, e sem que haja evidências definitivas a sustentar as opiniões definitivas. Mas uma coisa é certa. Se a campanha eleitoral de 2018 foi longa, a de 2022 será mais longa ainda. Na real, o segundo turno deste ano já é em certa medida um ensaio para daqui a quatro anos. Quem chegar antes no córrego vai beber água limpa.

8) É possível a guerra política contornar a agenda econômica

Mesmo antes da eleição já se nota alguma convergência nas agendas econômicas, como era previsível -e foi previsto. Mas a guerra política terá combustível de sobra na agenda não econômica. Ensaia-se um cenário tipo Trump. Uma quase guerra civil em assuntos não econômicos mas a economia contornando a confusão, pelo menos até certo ponto.

9) As pessoas falam mal das pesquisas mas continuam obcecadas por elas neste segundo turno.

Até mais.