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Morreu o juiz Rubens Ely

Irmão do juiz Sidney Celso de Oliveira e do procurador de Justiça Carlos Irahy de Oliveira, ele era conhecido pela severidade de suas sentenças e, quando mais novo, pelas peripécias no colégio de Ribeirão Preto.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Atualizado em 9 de novembro de 2011 15:49

 

Sérgio Roxo da Fonseca

Morreu o juiz Rubens Ely 

Faleceu em São Roque no dia 5 de novembro deste ano o juiz Rubens Ely de Oliveira, irmão do juiz Sidney Celso de Oliveira e do procurador de Justiça Carlos Irahy de Oliveira, todos eles vividos e criados em Ribeirão Preto, onde cursaram o Instituto de Educação Otoniel Mota, até então intimamente conhecido como o nosso Ginásio do Estado.

O juiz Rubens Ely, o terrível Rubinho, foi um dos mais extraordinários oradores que conheci. Registro um episódio que serve de exemplo.

Os fatos ocorreram por ocasião das comemorações do cinquentenário do Ginásio. O então diretor solicitou que indicássemos um aluno para representar o corpo discente. O Rubinho foi escolhido, é claro. Falou em nome dos ex-alunos o então desembargador Edgard Moura Bittencourt que, dez anos depois, seria cassado pelo governo militar, sob a acusação de escrever sobre o concubinato.

Dada a palavra aos alunos, o Rubinho encostou-se desajeitadamente na parede e, em lugar de saudar as autoridades, fez um colóquio íntimo com o seu e nosso querido Ginásio. Ainda me lembro de sua pequena figura e da sua capacidade de eletrizar as pessoas com a sua palavra fluente. Meu Ginásio do Estado, dizia ele, como se se tratasse de uma pessoa amiga. Quase todos os professores e alguns alunos não esconderam as lágrimas. Especialmente a querida professora Neusa Michelutti Marzola. A frase que registra a cerimônia é da professora Léa Florianette e está gravada em mármore na parede. Penso que consigo repetir: "Você é o orgulho do meu ideal".

O segundo episódio não foi único. Foram vários. O terrível Rubinho Levou muita bomba. Certa vez uma professora pediu que parasse de bater a mão na carteira. Pois não, disse ele, virando a mão e passando a bater as costas dela. Levava os professores ao delírio para os aplausos dos alunos.

Acabou sendo eleito presidente do grêmio que até então se chamava Grêmio Nacionalista Olavo Bilac. Sérgio Arouca, a atriz Walderez de Barros e o jornalista Roberto Muller, o médico Mantovani, o desembarador Rodrigues da Silva, entre outros, foram seus companheiros de chapa.

Em 1959, resolveu fazer uma excursão de alunos, sem autorização dos diretores. Sofreu a pena de expulsão. Foi o único aluno de minha geração a ser expulso do velho e sempre novo Ginásio do Estado.

Mudou-se para São Paulo. Casou-se. Teve filhos. Formou-se em Direito. Tornou-se juiz criminal, notabilizando-se pela severidade de suas sentenças. Após aposentar-se, retirou-se para São Roque onde veio a falecer. Foi um dos alunos mais extraordinários entre os meus contemporâneos. O Ginásio ganhou uma figura histórica. Perdi um amigo insubstituível.

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*Sérgio Roxo da Fonseca é advogado e procurador de Justiça aposentado pelo MP/SP


 

 

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