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Descartes

"O amor queima brando e lento, mas queima sempre, aquecendo. A paixão irrompe, queima, mas devasta". Confira a crônica.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Atualizado em 14 de setembro de 2012 14:22

Sem essa de antes que o amor acabe porque quando se pensa que em algum momento vai acabar, então não é amor. Talvez paixão, um incêndio que vai devastando, devastando, até queimar tudo e aí só cinzas, cinzas e um poeta triste nem conseguindo cantar - morena, olha eu aqui...

Amor não é como incêndio que se acha algum vento aí então é que se dana queimando, queimando, até segundo aviso, você prometeu me amar. Sem essa.

Amor é fogo brando, é queimação lenta que vai pegando o ritmo da dança da vida e vai queimando, vai queimando, e não acaba.

Estás ouvindo o barulho invadindo o silencio no quarto pelas frestas da janela? O sol ainda nem despertou. É marulho. Quero dizer é esse amor lento e constante do vento de além-mar tangendo as águas, fazendo ondas alvas que se renovam nessa sequência incansável, nessa energia renovável, inesgotável, uma onda após outra, uma após outra e esse marulhar fazendo fundo musical, ora garota, está na cara que isso é incitação de amor.

Não é de hoje que os automóveis parecem voar. E nós, todo dia, temos é que mais aprender mais alguma coisa a mais. E quanto mais achamos que aprendemos, mais vemos que ainda nos faltam mais coisas e vamos ter que mais aprender. Vivemos aprendendo, aprendendo. No minuto final do ultimo dia vamos querer mais tempo para aprender pelo menos um pouco do que ainda nos falta aprender. E há sempre um sabido solto pela aí achando que sabe tudo, mas não querendo ensinar. Ainda bem.

Vejo ali os navios em fila que nem os pacientes dos serviços públicos, dos hospitais públicos, dos transportes públicos.

Para tudo que tem Governo pelo meio há que se ter muita paciência, mas para cada gota de paciência há que corresponder um megafone de indignação. Só assim nos tornamos cidadãos.

A vida é mesmo um oceano de duvidas, de surpresas, de mistérios, de aprendizados. Se não cultivarmos o amor dentro de nós e na relação com os outros, não vai adiantar muito, não. Há que haver muita boa vontade.

Imagina então esse amor na exclusividade de nós dois. Esse direito aos silêncios no amanhecer e à mansidão do sol se repartindo pelas frestas da janela em focos de lanternas como se quisesse, ele também, o sol, descansar sobre os lençóis da nossa paz.

É quando a gente quer ter o poder que todos querem ter e ninguém nunca, por mais poderoso que o seja, vai ter - o poder de parar o tempo, ainda que só um pouquinho. Mas não pode.

Você pode se iludir parando os relógios, atrasando-os em minutos ou horas, ou até adiantando-os. Nos relógios você pode fazer o que quiser com o tempo. Mas com o tempo, o tempo, o propriamente dito, você não pode fazer nada. Ele é ele, mais que tudo. (Não tornarás branco ou negro um só fio dos teus cabelos, antes que tudo seja cumprido...).

O amor queima brando e lento, mas queima sempre, aquecendo. A paixão irrompe, queima, mas devasta. Isso não quer dizer que de suas cinzas não escape uma brasa, uma centelha para incensar um amor no futuro. Futuros amantes.

Estilhaços sobre Copacabana, o mundo em Copacabana. Aí de ti, Copacabana.

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*Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA






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