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A professorinha

Uma das profissões mais antigas, o professor devia ter nas escolas todos os instrumentos necessários para poder contribuir com a educação do povo; ao revés, mal possuem as ferramentas para cuidar da instrução.

domingo, 15 de junho de 2014

Atualizado em 13 de junho de 2014 10:26

Uma das profissões mais antigas, o professor devia ter nas escolas todos os instrumentos necessários para poder contribuir com a educação do povo; ao revés, mal possuem as ferramentas para cuidar da instrução. Falta-lhe digna remuneração, condição de trabalho, respeito, treinamento, reciclagem.

A educação infantil, o ensino fundamental até o ensino superior são os responsáveis pela formação do cidadão do amanhã e quem mais concorre mais para isso, induvidosamente, são as professorinhas, responsáveis pelos primeiros ensinamentos, abrindo as mentes infantis para descobertas de um novo mundo.

Quem não se lembra de sua primeira professora! Se guardamos reminiscência desse longo tempo que ficou para trás é porque influenciou muito nossas vidas.

O cidadão letrado passou pelos bancos escolares e aprendeu a ler e escrever, a respeitar o outro, através da professorinha, da pró. Com ela conviveu, em certos casos, mais intensamente do que com a própria família.

A professorinha, no interior, gozava de significativa autoridade sobre as famílias e sobre a sociedade local. Sua situação social era singular e repercutia até mesmo na vida sentimental. Casava cedo, e gozava de boa condição econômica no meio em que vivia. O quadro de professores do infantil e do fundamental era, em sua maioria, composto por mulheres. Pedagogia não era do interesse dos homens. A labuta, em sala de aula, o estudo para aperfeiçoamento profissional, a correção de provas, a avaliação de trabalhos, o controle de frequência e o registro de notas, em casa, exigia muita dedicação e perseverança. Por tudo isso, ganhava a simpatia da comunidade.

O declínio da profissão deve-se fundamentalmente aos baixos salários, ao modelo de ensino massificado pelas salas de aula apinhadas de alunos, com os professores mal pagos, humilhados e desvalorizados.

Hoje a professorinha está sozinha, impotente e sem autoridade para garantir a disciplina, fundamentalmente, porque não encontra amparo nem mesmo junto à direção da escola onde ensina, vez que maior o proveito quando se dispensa atenção ao aluno, fonte de renda, de voto e de bons negócios. Entre o aluno rude e rebelde e a professorinha humilde e competente maior prestígio para o capital, representado pelos altos valores que se paga nas escolas particulares.

As escolas tornaram-se máquinas de fazer dinheiro ou voto, desviando-se de outra vocação mais consistente e segura de engenho apto a fazer bons cidadãos e bons profissionais. O resultado da opção seguida é um a transformação para um mundo cheio de violência, de corrupção e de desrespeito.

Os valores do capitalismo engoliram as benesses das comunidades, influenciadas pela mídia que criou a aldeia global.

Grande parte dos segmentos da sociedade, na área privada ou pública, no campo político, jurídico ou empresarial, desconsidera o alto valor da missão das professorinhas.

Esse descompasso aparece com a falta de educação, de cultura e de futuro para os jovens. Já se disse que não há país civilizado sem boa educação e não há boa educação sem bom professor.

Além desses problemas externos, esses profissionais sofrem com o estresse do dia a dia da carreira, com obrigações dentro e fora da sala de aula. E quando, vencidas pelo desgaste da atividade, aposentam-se, na certeza de colher frutos para compensar o intenso e sacrificado trabalho desenvolvido durante anos; ledo engano, porque encontram os malefícios da redução do salário, queda-se no desespero de uma vida difícil, porque sem força para gritar pelos seus direitos, surripiado inclusive pela invenção dos governantes do fator previdenciário.

A politica de melhorar a educação perde-se nos discursos vazios e nas incoerências dos governantes; a valorização do magistério é inversa, porque situada na condição de reunir governadores e buscar os tribunais para celebrar pacto de redução de salários ou conseguir decisões que implicam em derrubar o piso salarial.

Não foi assim sempre, pois, a começar pela remuneração, mostrava-se suficiente para oferecer uma vida digna e apta a manter a família.

Não se quer dizer que naqueles tempos, havia valorização da classe dos professores; não é isso. Todavia, os mestres de antanho, não encontravam, em salas de aula, xingamentos, rispidez, não ouviam comentários obscenos, não eram furados com lápis, lesionados com faca, nem mortos com revólver.

As punições arbitrárias, a exemplo da transferência das professorinhas da sede do município para a zona rural ou o corte de vantagens acumuladas no curso do tempo e garantidas pelas leis, são providências arbitrárias que se prestam para usar a educação como trampolim para subir na vida política eleitoral.

Anos atrás, havia um programa na televisão, denominado "Sai de Baixo", e o bordão usado por um personagem era: "Por favor, salvem a professorinha". Esse grito merece ser retomado, não na expressão humorística de Caco Antibes, mas no anseio de uma sociedade que esquece seus mais completos valores, simbolizados nas professorinhas.

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* Antonio Pessoa Cardoso é desembargador aposentado do TJ/BA.

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