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Feliz Natal, amigo migalheiro

A repetição de velhas fórmulas faz com que você se perca definitivamente no labirinto de sua memória e enterre cada vez mais a Rosa de Drummond.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Atualizado em 16 de dezembro de 2014 16:20

Quando há convergência de leitura entre as pessoas, selecionando um órgão que representa o anseio comum, todos se sentem confortados e ajustados em suas preferências. Parece até que, propositadamente, todos são escolhidos obedecendo a um rigoroso critério de seleção. Migalhas consegue, com a facilidade que lhe é peculiar desde o seu nascedouro, reunir profissionais de elevada estirpe e disseminar suas informações e lições jurídicas, pesquisadas e assentadas em fontes inesgotáveis, como se fossem migalhas colhidas de uma lauto jantar, que a cada dia se renova de forma mais prazerosa.

Nesta época do ano que já expira é o momento apropriado para renovar os votos de paz e prosperidade, não só para as pessoas com as quais você convive no seu círculo de vida, mas sim com abrangência a todas que indiretamente participam de sua vida, mesmo que seja pela leitura do mesmo informativo. Afinal, dependemos de todos para qualquer projeto de felicidade. Assim, meu amigo sem nome, sem cor, sem sexo, sem credo, mas com a identidade firmada nos bons propósitos, lanço esta breve reflexão, seguida da mensagem que você é merecedor.

Você já revelou, pela iniciativa de ler o texto, que a sua conduta vem sendo pautada por uma demonstração inequívoca de bom caráter, localizando-se no patamar do bom senso, equidistante das perigosas extremidades. A verossimilhança com as virtudes catalogadas na cartilha do bem viver faz com que você seja merecedor de cânticos de graça, entoados no mais harmonioso gregoriano.

No Natal, desejo a você que continue seu caminhar, sem queimar etapas, passo a passo, com a bandeira da renovação hasteada e inflada pelos ventos da espiritualidade. Faça um pit-stop na correria desenfreada deste mundo, penetre em seu interior e decrete o silêncio necessário para renovar-se. De nada adianta fazer de sua vida uma luta renhida que não traz nenhum dividendo, quer seja de conquista, quer de satisfação. Lembre-se que Saulo de Castro assim agiu, porém ao cair do cavalo na estrada de Damasco transformou-se, graças à oração e fé, em São Paulo, apóstolo dos gentios.

Orar é olhar para o seu interior e entrar em comunhão com você e com a humanidade, da qual é o todo e parte dela em sua individualidade. É fazer efervescer a luta "do si contra sigo mesmo", entoada por Guimarães Rosa. A oração, nesta dimensão, é universal e, como tal, traz o postulado comum do bem-estar da raça humana, independentemente do credo que cada um professa. A unidade do homem total reside no amor, de acordo com Hegel. Basta abrir as comportas da espiritualidade, estender suas súplicas que colherá no fundo de sua alma tudo que viu de belo na vida. É a oportunidade para ressuscitar a potencialidade do espírito.

Para o ano que se inicia, deixe a porta aberta para a entrada das boas novas e receba os votos de alegria, saúde e prosperidade, que serão solenemente entregues pelos elfos e duendes, aqueles que tomam conta do pote de ouro existente no final do arco-íris. Faça uma colheita de todos os seus pensamentos e recicle aqueles que se destacaram quando retirados com a pinça do joalheiro. É a escola de aperfeiçoamento do ser humano. A repetição de velhas fórmulas faz com que você se perca definitivamente no labirinto de sua memória e enterre cada vez mais a Rosa de Drummond. Não precisa rascunhar novo DNA e nem mesmo esmiuçar seu genoma. São imutáveis. Somente a vontade que existe dentro de você o torna superlativo. Explore seu potencial ainda envolto nos mistérios da vida e aposte todas suas cartas na paixão e emoção. Sem elas você não passa de um instrumento de ambulatório, meramente biológico, sem acesso à contemplação do belo. Por fim, abrace todas as fases de sua vida e viva-as intensamente. Se não guardar as cartas da juventude, não conhecerá um dia a filosofia das folhas velhas, profetizava Machado de Assis.

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*Eudes Quintino de Oliveira Júnior é promotor de Justiça aposentado, mestre em Direito Público, com doutorado e pós-doutorado em Ciências da Saúde. Advogado e reitor da Unorp - Centro Universitário do Norte Paulista.




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