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Por que Orwell?

Ele conseguiu, com 1984, transformar o sobrenome em adjetivo: "orwelliano", como é o que diz Assouline, igualando-se ao "kafkiano".

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Atualizado em 14 de janeiro de 2016 14:02

Quando, encerrando o ano de 2015, fui honrado com a publicação de um artigo a respeito do ingresso do yuan, a partir do próximo outubro, como integrante das moedas aceitas pelo FMI, para ser conservado como "reserva", no final do seu texto, diante da grande interrogação que o fato causou, ao que reflete sobre a contemporaneidade, propriamente, lancei que isso poderia ser motivo de preocupação e, consequentemente, Orwell estaria no contexto.

Bom, alguns amigos, com delicadeza, sugeriram que eu me explicasse. E, generosamente, tento fazê-lo, no mesmo veículo.

George Orwell (1903-1950) é um autor que se tornou uma referência onipresente.

Pouquíssimos, como ele, após o surgimento da sua obra 1984, "foram tão lidos, analisados, dissecados, comparados e, até, imitados. Numerosas são as obras literárias, filosóficas, poéticas, cinematográficas, televisivas e teatrais que lhe devem qualquer coisa", como pondera Pierre Assouline1.

A propósito, porque o escritor Boualem Sansal, autor de 2084, favorito nas vendas francesas, enfrenta o tema que, até esse ano, denunciou o totalitarismo islâmico, como possível contendor com a América, a Europa e a China, para conquistar o mundo, é o pensamento do precitado.

Apressado, o homem contemporâneo não se curva à necessidade da séria reflexão, porque o mundo capitalista exige resultados diários: sucesso e lucro. Ele vive dependurado como equilibrista, na gangorra das trevas.

Orwell, de vida tão precoce, como socialista, pensou no antitotalitarismo e, como anarquista, a necessidade de manter-se conservador nos seus princípios. Ele conseguiu, com 1984, transformar o sobrenome em adjetivo: "orwelliano", como é o que diz Assouline, igualando-se ao "kafkiano". Ele construiu a figura do Big Brother, como expressões eternizadas em conceitos, tais como "commom decency"; "sociedade vigiada" e "fim da vida privada".

E, seguramente, a ninguém é dado contestar que foi genial.

Ora, como foquei o fato - dado a pouca repercussão com imprensa enganchada no cordão umbilical da queda de Dilma -, propus a reflexão aos que se aventuram a fazê-lo neste deserto esquelético de Cabral: que fará a China nos próximos cinco anos com tantos dólares em caixa e o que tentará mostrar com seu exército aos ocidentais? Basta ler, para começar, cada número da revista Science (americana), as dezenas de páginas de recrutamento de cientistas para as universidades chinesas, e, filosoficamente, os salários pagos aos nossos treinadores e jogadores de futebol, de outro lado.

Avanço: creiam ou não, vejo e constato hoje o que ocorreu com um cliente chinês, no fim dos anos 80 (século passado), em Hong Kong.

Disse-me ele: "Vocês, ocidentais, contratavam mordomos chineses para fazer-lhes reverência, em suas casas. E eu, tenho um inglês, de linhagem nobre, além de um chef francês, para preparar iguarias e enganar os compradores ocidentais com que lhes vendo".

Concluo com uma assertiva criada por Napoleão I (1815), que se realizou, com a Revolução de 1949: "Quand la Chine s'éveillera. le monde tremblera"2.

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1 Editor do "Le Magazine Littéraire", publicou no mês de novembro de 2015, com o título "Big Orwell".

2 PEYREFITTE, Roger. Quand la Chine s'éveillera... Le monde tremblera. Paris: Fayard, 1973. A propósito, clique aqui.

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*Jayme Vita Roso é advogado e fundador do site Auditoria Jurídica.

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