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Home office em escritórios de advocacia - Uma miragem?

A implantação do home office deveria ser visto pelas bancas e seus sócios como uma evolução natural do atual mercado de trabalho.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Atualizado em 20 de junho de 2016 08:54

O escritório tal como o conhecemos hoje é uma criação relativamente recente. Nasceu em meados do século XIX nas companhias ferroviárias americanas. Para solucionar o grande número de divisões existentes, elas segmentaram a administração do negócio por áreas, com espaços reservados para cada uma delas e complementaram com a tecnologia da época: o telégrafo, a máquina de escrever e o telefone.

A separação das pessoas por posição, com hierarquia de comando bem definidas é mais recente. Surgiu no início do século XX, quando as técnicas de aumento da produtividade foram aplicadas à administração e os espaços físicos de trabalho passaram a ser padronizados, a fim se tornarem mais eficientes.

E desde então, várias tendências surgiram não apenas para transformar o local de trabalho em um lugar mais produtivo e eficiente como para proporcionar bem estar aos funcionários.

Entretanto, esse modelo tradicional de se ir para o escritório, sentar-se em uma mesa numa sala reservada ou em uma baia junto com outros colegas e um computador à frente, ou ainda em espaços mais descontraídos e informais não é mais a única opção.

O trabalho em casa já é uma realidade dentro das empresas e vem se mostrando bastante benéfico para as organizações que se dispuseram a implementá-lo. Pena que não se veja um movimento neste sentido por parte dos escritórios de advocacia.

Não está se dizendo que não existam iniciativas pioneiras de alguns escritórios mais inovadores que já adotam essa prática em seus domínios. Contudo, são iniciativas ainda isoladas, sem grandes repercussões.

Na verdade, se vê poucas discussões sobre este tema no mundo do Direito. No ano passado houve um debate acalorado no grupo da OAB no LinkedIN e uma palestra ministrada no evento Fórum Advogado 360º em junho que tratou deste assunto. E quase nada mais.

Será que essa atitude decorre da crença dos sócios de que esta modalidade de trabalho não serve para as bancas de advocacia ou o receio de que sem a presença de advogados no escritório ficaria difícil fazer a sua gestão?

Provavelmente seja um pouco de tudo isso e mais o tradicionalismo que ainda impera no universo jurídico que impedem os escritórios e respectivos sócios de discutirem este assunto de forma séria e profunda.

De fato, muitos advogados acreditam que esta modalidade de trabalho a distância funciona para o universo corporativo, em especial para empresas de tecnologia, start ups, ou para determinadas áreas de uma organização, mas não para as bancas de advocacia. Como se atualmente um escritório de advocacia não fosse também uma empresa.

O fato é que em um mundo tecnológico como o que vivemos, as pessoas, aí inclusos os advogados, sem distinção de geração, estão sempre conectados de qualquer lugar e a todo o momento. O advogado checa seus e-mails, avalia documentos, envia arquivos e troca e-mails assim que acorda, no café da manhã, no caminho para o trabalho, no almoço, etc., sem pausa. Portanto, pode-se afirmar que os advogados já trabalham a distância.

Assim sendo, a implantação do homeoffice deveria ser visto pelas bancas e seus sócios como uma evolução natural do atual mercado de trabalho.

Ademais, como mencionado acima, já estão comprovados os benefícios que este sistema traz tanto para pessoas, quanto para as organizações.

Pelo lado dos advogados temos como principais benefícios a flexibilidade do seu trabalho, permitindo um melhor aproveitamento do tempo, a diminuição de gastos, o aumento da produtividade e o maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Por parte dos escritórios de advocacia, além de passarem a ter advogados mais engajados e produtivos, também teriam uma redução nos custos com locação de imóveis, equipamentos e espaço, dentre outros, em razão da menor frequência de advogados no lugar de trabalho.

A mobilidade decorrente do trabalho em casa também promove benefícios ambientais, como a economia de energia, água e papel nos escritórios e a redução de poluentes pela menor necessidade de deslocamento, com melhoria significativa no trânsito.

Por todas essas razões já mencionadas, este é o momento para os escritórios repensarem a sua forma de trabalhar, dando espaço para novas possibilidades mais sintonizadas com os novos tempos e com as necessidades de uma geração hiper conectada.

E não se está falando em simplesmente a banca de advocacia permitir que os advogados cheguem mais tarde no trabalho, ou mesmo, em situações específicas ou excepcionais, que trabalhem em casa. O que se está propondo é uma mudança cultural do escritório, com a criação de uma política de home office estruturada, em que estejam definidas as diretrizes e procedimentos básicos para a sua implantação.

Dessa política constaria, entre outros pontos, a definição do modelo de home office, as suas principais condições, jornada de trabalho, periodicidade, pessoas elegíveis e recursos a serem disponibilizados.

Ademais, caberia aos sócios e demais líderes do escritório buscar novos modelos de gestão, que respondessem ao desafio de se gerenciar, controlar e determinar tarefas para os advogados que trabalham a distância. A estipulação de objetivos, indicadores e mensuração de resultados, medidas poucos utilizadas atualmente nos escritórios de advocacia passariam a ser uma necessidade primordial. Enfim, a liderança mudaria, na medida em que o trabalho não presencial exigiria uma visão mais estratégica de trabalho e com novas formas de controle.

Em suma, se atualmente a produtividade não está mais ligada ao espaço físico de trabalho; se independentemente de onde se encontrem, os advogados têm acesso as informações e recursos de que necessita e contatos, ainda que não fisicamente, com colegas, superiores, clientes; se a jornada é o resultado atingido e não a quantidade de horas trabalhadas, é imperiosa a implantação de um modelo de trabalho que seja mais motivador, produtivo e independente, e nestes pontos o trabalho a distância seria a resposta ideal para essas necessidades.

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*Ana Barros é coach, advogada e sócia da Thelema Coaching para Advogados.






*Maria Olívia Machado é coach, advogada e sócia da Thelema Coaching para Advogados.





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