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Um novo centro para São Paulo

Há muito se fala em revitalizar o Centro de São Paulo, mas efetivamente pouco se consegue fazer. O que falta é ter um novo marco, que se transforme em símbolo da mais que necessária recuperação do núcleo inaugural da grande cidade. E esse marco seria nada menos que uma torre imponente, um arranha-céu com pelo menos 100 andares de escritórios, hotéis, flats, apartamentos, lojas, cinemas, teatros, praças aéreas interligando-se com outras praças em prédios vizinhos, uma cidade vertical dentro da nossa imensa metrópole. Será possível realizar um projeto como esse, aparentemente mirabolante?

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Atualizado em 5 de julho de 2006 14:38

 

Um novo centro para São Paulo

 

Alexandre Thiollier*

 

Há muito se fala em revitalizar o Centro de São Paulo, mas efetivamente pouco se consegue fazer. O que falta é ter um novo marco, que se transforme em símbolo da mais que necessária recuperação do núcleo inaugural da grande cidade. E esse marco seria nada menos que uma torre imponente, um arranha-céu com pelo menos 100 andares de escritórios, hotéis, flats, apartamentos, lojas, cinemas, teatros, praças aéreas interligando-se com outras praças em prédios vizinhos, uma cidade vertical dentro da nossa imensa metrópole.

 

Será possível realizar um projeto como esse, aparentemente mirabolante?

 

Particularmente, acredito que sim, desde que se tenha ousadia e coragem. A ousadia e a coragem que se espera para encarar o imenso desafio de resgatar o Centro de São Paulo, transformando-o em área irradiadora de pujança, como aconteceu nas fases iniciais de desenvolvimento da capital. Em uma de suas últimas edições, a revista The Economist traz uma reportagem sobre um novo boom da construção de arranha-céus pelo mundo. A primeira onda foi nos anos 1920 nos Estados Unidos, quando surgiram gigantes como o Empire State Building, em Nova York. Nos anos 1980 as grandes torres despontaram em Hong Kong, ainda sob domínio britânico.

 

Toda cidade que queira ser levada a sério necessita de uma ou duas torres altas, acrescentam os jornalistas da The Economist. São Paulo teve o seu boom de arranha-céus há muito tempo, com a construção dos edifícios Martinelli, Terraço Itália, Banespa e Mirante do Vale (antigo Palácio Zarzur Kogan, concluído em 1960), que é pouco conhecido, fica no Vale do Anhangabaú e é atualmente o prédio mais alto da cidade e do país, com 180 metros distribuídos em 51 pisos. Lamentavelmente, é um verdadeiro monumento à decadência do nosso Centro, ao lado de outros monstrengos de cimento e ferro, entre os quais cito o São Vito, até hoje uma incógnita na barafunda urbana.

 

Está na hora de São Paulo se levar a sério e decidir pela construção de um novo símbolo da cidade, uma torre moderna, que seja vista à distância pelos moradores e visitantes. Na avenida Paulista, a Fundação Casper Líbero planejou construir um arranha-céu de cujo topo seria possível avistar até a Baixada Santista, mas o projeto não foi realizado em toda sua plenitude. Neste início de século, a despeito dos ataques às Torres Gêmeas em setembro de 2001, acontece uma nova onda de construção de edifícios altos, tendo como epicentro a Ásia, em franca expansão econômica. The Economist afirma, baseada em suas fontes, que cerca de 40% dos 200 prédios mais altos do mundo ficaram prontos a partir do ano 2000, nada menos que 80 arranha-céus. Outros 8%, aproximadamente 15 edifícios, ainda estariam sendo erguidos neste exato momento. São empreendimentos arrojados, que desafiam forças econômicas e políticas. Quando ficam prontos, passam a ser ponto de referência das cidades onde estão plantados.

 

Como são prédios com grande visibilidade, normalmente apresentam linhas inovadoras e agregam modernos processos construtivos, até para tornar o empreendimento rentável. O desafio é utilizar materiais mais leves e resistentes, que permitam uma redução no tempo de construção e assegurem um espaço útil acima de 80%. Pelo próprio gigantismo, um espaço considerável dessas torres é ocupado por vigas e colunas, necessárias para dar sustentação à estrutura.

 

O empreendimento mais ousado é a Torre Dubai, em construção na capital dos Emirados Árabes Unidos, com projeto de arquitetos americanos e construção a cargo da Samsung. Quando ficar pronta, em 2008, será de longe a mais alta do mundo, com impressionantes 800 metros de altura, quase 300 metros acima da atual recordista, a Torre Taipei, em Taiwan, que ascende a 508 metros do solo. O edifício, com 160 pisos, será ocupado por escritórios, residências, hotéis e shoppings, criando em torno de si uma movimentação econômica equivalente a de uma cidade de médio porte.

 

A tecnologia para a construção de torres altas evoluiu muito nas últimas décadas, reduzindo os custos e ampliando as chances de sucesso econômico do empreendimento. Entre as inovações estão técnicas para utilização de luz natural e de ar para circulação, sem necessidade de equipamentos de ar condicionado. Também a segurança foi aprimorada, facilitando a evacuação em casos de emergência.

 

O momento é este. Onde conseguir os recursos? Estima-se que US$ 2 trilhões circulem diariamente pelo planeta globalizado. Muita gente procura investimentos atraentes para aplicar seu dinheiro. Proponho a criação de PPPMs - Parcerias Público Privadas Municipais, para dar garantia de que o poder político apóia o empreendimento, além da criação de um Fundo Imobiliário administrado pela iniciativa privada, que captaria recursos de investidores externos e internos. São Paulo tem grandes empresários e investidores que podem se interessar por um projeto desse porte. Além disso, o Fundo Imobiliário permitiria que pequenos e médios aplicadores também entrassem no projeto, especialmente os atuais proprietários de prédios, terrenos e fundos de comércio na área deteriorada, evitando com isso processos expropriatórios.

 

Nenhuma cidade séria deu as costas ao seu Centro. Quando viajamos para Paris, Nova York, Chicago, Berlim, Lisboa ou qualquer outra capital importante, para onde vamos? Para a área central, onde a vida pulsa mais forte e mais vibrante. Mas fica aqui uma observação: a construção de uma torre no Centro seria apenas o arranque de um grande projeto de recuperação, que exigiria a criação de uma Agência Reguladora para a Recuperação do Centro de São Paulo. Essa agência seria responsável pelo planejamento e execução de projetos de revitalização, abrangendo uma área de oito milhões de metros quadrados, mínimo necessário para garantir resultados práticos e mudar de vez a degradação a que está condenada a região. Detalhar essa proposta é assunto para outra oportunidade.

 

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*Advogado do escritório Thiollier Advogados e senador suplente pelo PFL em São Paulo. Foi diretor de Patrimônio da Cohab-SP em 2005

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

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