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A liberdade de importunar

Elas vêm à frente um novo inimigo - os extremistas religiosos e reacionários, "inimigos da liberdade sexual.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Atualizado em 11 de janeiro de 2018 18:07

No caso aqui não há o risco de liminar. Catherine Deneuve mora na França, agora sob novos oxigênios de liberdades e esperanças reinventadas.

Na contramão do que vem rolando nos Estados Unidos contra pessoas do mundo das artes cênicas, acusadas de assédio sexual, celebridades francesas, dentre elas Deneuve, divulgaram um manifesto em defesa dos direitos à paquera reciproca.

O tema, aliás, já havia sido abordado num filme de 1994 em que Demi Moore, na época emparelhando com Vera Fischer, instigavam em Zeca Baleiro inspirações apaixonadas.

Na trama, Tom, personagem de Michael Douglas, é preterido por Meredith, personagem de Moore, que frustrada em suas investidas passa a persegui-lo, ameaçando destruí-lo no emprego.

As francesas, em mais de uma centena, incluindo escritoras, atrizes e acadêmicas, sustentam que nós, os homens, temos de ser "livres para abordar" mulheres.

O movimento que tem ocupado os noticiários sobre os assédios, principalmente em Hollywood, a meca do cinema, são definidos pelas francesas como "caça às bruxas", uma ameaça à liberdade sexual.

"Seduzir alguém, ainda que de forma insistente - afirmam - não é crime. Crime é o estupro". Elas vêm à frente um novo inimigo - os extremistas religiosos e reacionários, "inimigos da liberdade sexual.

Deneuve, hoje com 74 anos, celebrizada por sua personagem em "A Bela da Tarde", ("La Belle d'Jour"), de Luis Buñuel (1967), se opõe aos métodos das militantes do movimento "#MeToo" (eu também) de oposição à onda de assédios. "É excessivo".

- "Nós defendemos a liberdade de importunar, indispensável à liberdade sexual", é o título do manifesto no qual lamenta-se a onda de repreensões públicas que vieram à tona após os escândalos envolvendo produtores, atores e diretores nos Estados Unidos.

O manifesto foi divulgado menos de 72 horas depois da festa de premiação do Globo de Ouro onde atrizes famosas e outras celebridades compareceram vestidas de preto, o que levou a nossa Danuza Leão a dizer que o clima lembrava um velório.

Elas, as francesas, ressalvam que consideram legitimo e necessário protestar contra o abuso de poder por parte de alguns homens, mas consideram que as constantes denúncias saíram do controle.

"Os homens têm sido punidos sumariamente, forçados a sair de seus empregos, quando tudo que fizeram foi tocar o joelho de alguém ou tentar roubar um beijo" (...) "Cavalheirismo não é uma agressão machista".

As autoras e signatárias do manifesto francês denunciam o que entendem como um novo puritanismo no mundo. "Essa febre de enviar porcos ao matadouro, longe de ajudar as mulheres a serem mais autônomas, serve realmente aos interesses dos inimigos da liberdade sexual, dos extremistas religiosos, dos piores reacionários".

Segundo elas, a onda de acusações induz à percepção de que as mulheres são impotentes e eternas vítimas. "Como mulheres, não nos reconhecemos neste feminismo que, além de denunciar o abuso de poder, incentiva um ódio aos homens e à sexualidade".

Não tive acesso à integra do manifesto das mulheres francesas. O que transcrevo aqui decorre de leituras e anotações tiradas de fontes como a BBC Brasil, a mais importante e de maior credibilidade. Na minha opinião.

Penso que em tudo não devemos perder de vista os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Quem levar em conta esses princípios não defere liminar. E no mérito, nem pensar.

 

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*Edson Vidigal é advogado e ex presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.

 

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