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Prudência e prevenção

Em resumo, a longevidade ou não do negócio depende das medidas preventivas tomadas hoje, pautadas por um alto grau de prudência, virtude que, aliás, deveria estar inserida nos valores da empresa.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Atualizado em 27 de março de 2018 07:12

Nos últimos tempos, dois livros chamaram-me a atenção. Livros de estilos diferentes, mas com algo em comum.

Do primeiro tive conhecimento por meio de um amigo, cujo filho de cinco anos tem uma estranha obsessão. Praticamente todos os dias, antes de dormir, pede que lhe seja lida a famosa história dos três porquinhos e, para não ficar tedioso para a criança e (principalmente) para o pai, esse conto tem sido lido em suas várias versões. Em uma dessas versões, meu amigo pôde verificar que essas aventuras suínas foram publicadas no final do século 19 pelo escritor australiano Joseph Jacobs (1854 - 1916). Em sua obra, Jacobs registrou uma série de contos originários do folclore inglês e, dentre eles, encontra-se a até então pouco conhecida história "The Three Little Pigs". Nela, as metáforas empregadas são claras. Dois dos três pequenos porcos representam o imediatismo e a imprudência, em maior ou menor grau. O terceiro representa o bom planejamento, a prudência, o valor da prevenção. O lobo, por sua vez, o grande vilão no imaginário europeu, exerce o papel da força destruidora que se aproveita dos pontos fracos de sua vítima.

Quanto ao segundo livro, trata-se do excelente "Pequeno Livro das Virtudes para Grandes Líderes", de autoria dos professores Arménio Rego, Thomaz Wood Jr. e Miguel Pina e Cunha. Pequeno pelas suas 144 páginas, mas gigante quanto a seu conteúdo. Destacam os autores que os resultados positivos de uma empresa devem ser baseados em condutas pautadas pela ética e pela sustentabilidade e que seus líderes devem cultivar algumas virtudes, tais como coragem, autoconfiança e humildade. E, dentre as virtudes apresentadas, marcou-me com mais intensidade a prudência.

Tanto o primeiro quanto o segundo livro, ainda que voltados para leitores diferentes, apontam a grande importância dessa virtude, que parece estar sendo muito descuidada por uma parte significativa do empresariado. No Brasil, os empreendedores costumam dar pouca importância ao planejamento de médio e longo prazo. Optam preferencialmente pelos resultados que podem ser obtidos no presente ou no futuro imediato, o que leva a consequências nada animadoras.

Segundo o SEBRAE1, a expectativa de vida de uma empresa no Brasil é muito baixa. E o que explica esse fenômeno? Em grande parte, a ausência de um bom planejamento estratégico e tributário e de um business plane que não dispense um apoio jurídico preventivo. Ou seja, falta de prudência.

No emanharado de decretos, leis e normas em que as empresas brasileiras encontram-se enredadas, torna-se muito difícil para um empreendimento desenvolver-se saudavelmente sem uma orientação jurídica preventiva (diria, prudente). Essa área preventiva do Direito, contudo, tem sido ainda pouco explorada no Brasil, ao contrário, por exemplo, do que ocorre nos Estados Unidos.

Cabe destacar, porém, que nesse labirinto legislativo e burocrático muitos empresários de forma equivocada veem nessa prevenção somente uma forma de proteger-se contra demandas jurídicas que gerem um indesejável e às vezes inviável passivo. Trata-se também de um cuidado, de um respeito ao consumidor dos bens e serviços e isso deve ser capitalizado como um benefício à imagem da empresa. Lembrando da história que encanta o filho de meu amigo, o sopro mais perigoso do lobo pode ser o da insatisfação dos clientes por sentirem-se mal cuidados.

Em resumo, a longevidade ou não do negócio depende das medidas preventivas tomadas hoje, pautadas por um alto grau de prudência, virtude que aliás deveria estar inserida nos valores da empresa.

Faço votos de que a sabedoria do conto de Joseph Jacobs esteja formando na mentalidade do filho de meu amigo uma forte convicção quanto à importância da prevenção e que, no futuro, caso torne-se um empreendedor, incorpore a suas práticas empresariais a prudência de um daqueles porquinhos, que não esperou pela chegada dos problemas para, somente então, optar por uma construção sólida.

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*William Fernandes Chaves é advogado com especialidade no direito do Trabalho e Empresarial e fundador da Chaves Advocacia.

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