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Concorrência entre equipes - Como evitar a departamentalização entre times de uma mesma banca

Utilizar a concorrência interna como oportunidade de crescimento é um caminho excelente, gerador de benefícios positivos para as bancas de advocacia.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Atualizado às 10:24

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Gerir pessoas é tarefa árdua. Construir equipes de sucesso mais ainda. O complicado é quando se consegue ter êxito na gestão de uma carteira ou setor dentro da sociedade de advogados e, de repente, a coisa começa a desandar por embate direto com equipes de outros líderes.

Muitos gestores já vivenciaram ou experimentam atualmente esta situação. E não há nada mais desgastante para um líder do que precisar lhe dar com uma concorrência interna. 

Inúmeros fatores podem levar à essa desarmonia. A existência de diversos setores em uma mesma banca, a falta de diálogo entre os líderes e o não conhecimento dos propósitos de cada equipe são exemplos importantes. Aponta-se ainda aquela dose básica de um leve ciúme por uma time ter alcançado êxito em determinada atividade solicitada a todos, fato que gera alegria para uns e desconforto para outros.

Quando uma equipe se destaca em detrimento de outra, ou até mesmo quando colaboradores de um time são mais sorridentes, trabalham com mais leveza, têm o líder como escopo, outros colaboradores "abrem os olhos" para o fato, que pode ou não ser causador de complicações na sociedade.

Buscando o lado positivo, quanto mais um incentiva o outro, na métrica ganha-ganha, os benefícios são amplos e estendidos a todos. Mas, o outro lado da moeda existe e é fator de disputa de egos entre times de uma mesma organização.

Pequenas desavenças diárias acabam por consumir as energias dos gestores e colaboradores, o que prejudica o bom desempenho das equipes, afetando diretamente o rendimento e resultados do escritório. Quando os problemas de relacionamento ultrapassam a esfera do saudável, o declínio negativo é inevitável e cabe aos gestores, juntamente com o corpo societário, tomar as medidas necessárias para trazer o foco de volta ao time.

Cito abaixo práticas simples que, quando utilizadas em constância, são capazes de trazer harmonia para a vida social do escritório, elevando os níveis de comunicação, entretenimento, interação entre equipes que, via de consequência, multiplicam resultados.

1 - Uniformização e Unificação da cultura do escritório

Dentro de um escritório de advocacia, um dos principais objetivos é deixar bem claro qual é o VALOR que rege a sociedade. O valor é formador da CULTURA do escritório e é uma "virtude" inegociável. Será ele o guia principal para a tomada de decisões da organização.

É o valor que move todos os colaboradores em prol da sociedade e por isso deve ser entendido, internalizado e respeitado por todos. E não somente o valor: missão, metas, estratégias de negócio, planejamento, todos são métricas que definem a sociedade e dão corpo à concretização do objetivo maior da organização.

Quando um colaborador é conhecedor dos valores do escritório para o qual trabalha, ele passa a se dedicar e agir de acordo com aquela "virtude", traçando seus atos e ações em prol de um bem maior. Ao respeitar esse objetivo comum, as equipes de cada setor tem como referência aquela determinada forma de agir, que traz o sentimento de unificação em razão do objetivo principal da banca.

Se a cultura, baseada no valor da sociedade, não é difundida entre seus internos, as pessoas agirão tal qual sua maneira, sem parâmetros, sem algo que os determine e os tragam um objetivo comum. É esse "desalinho" que gera desarmonia e deve ser evitado, cabendo ao líder divulgar as orientações entre seus liderados e, principalmente, dar exemplos desta atuação.

2 - Interação e comunicação entre as equipes

A base de qualquer acordo é a comunicação. Quando membros de uma equipe interagem diretamente com outras, cria-se um ambiente favorável e positivo. Conhecer as funções do outro, o espaço no qual trabalha, a personalidade, gostos e preferências do parceiro de trabalho é essencial para essa aproximação. 

O incentivo ao silêncio e ao segredo faz com que as pessoas imaginem algo inexistente, que em nada condiz com a realidade, o que não é nada salutar para nenhuma organização. No momento em que a interação acontece, aumenta-se o espaço para que ideias sejam criadas e o interesse pelo negócio da banca seja elevado. 

Muitos escritórios criam situações para que essa comunicação seja quase que obrigatória. Um exemplo é se colocar o cafezinho em um setor específico e, em um outro ambiente, máquinas que forneçam bebidas e alimentos instantâneos. Isso faz com que as pessoas se desloquem, encontrem umas com as outras, e o movimento cria a interação entre elas.

Iniciativas como estas trazem possibilidades de relacionamento, rompe barreiras, desfaz preconceitos e, consequentemente, ocasiona o equilíbrio de ideias e interesses comuns. É desse estimulo que surgem as melhores criações e será com ele que desavenças internas perderão forças para dar lugar ao êxito.

O mesmo deve ocorrer entre membros de diretorias distintas. Um gestor deve conhecer o papel e função de outro gestor para que ambos desenvolvam um sentimento comum que envolva os valores da organização. Nesse processo, o líder replica o incentivo aos liderados, que o seguirão pelo exemplo, diminuindo qualquer impasse entre colaborados em prol de uma meta única, o bem estar da sociedade.

3 - Evolua os times conjuntamente

Promover ações sociais, debates, estudos de determinadas áreas entre as equipes são exercícios positivos e de sucesso. O desenvolvimento dessas atividades cria uma INTERAÇÃO POR ENTRETERIMENTO, fator excelente que desmitifica padrões não existentes.

Aquela conversa de que "a equipe do consultivo não se mistura com a equipe do contencioso" perde espaço quando o assunto é diversão. Uma brincadeira simples, uma dinâmica em grupo ou um happy hour em um dia comum ajudam a reforçar valores essenciais para o cotidiano e cria um clima amistoso e agradável em todos. Perceba que sempre após um bate papo casual, os corredores do escritório ficam cheios de animação. Essa interação quebra barreiras e faz uma equipe se aproximar da outra espontaneamente.

Fóruns de debates e workshops internos são outros exemplos que engajam e misturam times, além de abrir espaço para uma área ser conhecedora do trabalho da outra. Quando um trabalho desenvolvido por uma equipe é apresentado a todos, o interesse pelas áreas e setores diversos cresce entre os colaborados, aumentando o estimulo e curiosidade, ao mesmo tempo que todos evoluem tecnicamente.

4 - Transforme a concorrência em fato positivo

A concorrência produz vantagem competitiva e é assim que ela deve ser encarada e vivenciada nas sociedades de advocacia. Quando existe um impasse e um desconforto por ameaça de uma equipe em detrimento da outra, o líder deve estar com o radar ligado para transformar uma cenário concorrencial negativo em totalmente positivo.

Uma excelente forma de exercitar a concorrência positiva é criar a colaboração entre os setores para que todos consigam bater as suas metas e resultados previstos, um ajudando o outro, com prêmios o bônus ao final da tarefa.

O autor do livro "Líder de Resultado"1, Elias Leite, em sua obra, chama esta atividade de concorrência colaborativa, definindo-a como como a concorrência saudável na qual a competição que se estabelece é aquela que premia quem colabora mais para que todos entreguem na mesma intensidade.

Premiar com consciência e sabedoria, com métodos que trazem o engajamento das equipes como objetivo é uma estratégia interessante que pode ser utilizada pelas bancas como forma de instigar essa concorrência colaborativa. O ganho é de todos, principalmente quando a produção e bons resultados são atingidos.

Conclusão

Escritórios que desenvolvem ações como as citadas são capazes de transformar um ambiente entre equipes, antes hostil ou desagradável, em grandes exemplos de colaboração mútua, com profissionais que buscam por soluções inovadoras, alcance de resultados práticos, elevação da produtividade e, principalmente, interesse pela cultura da sociedade.

A ação do líder sempre em consonância com o corpo societário é essencial para sucesso da tarefa. Investir em pessoas, no engajamento dos times e no aproveitamento das oportunidades do dia a dia como forma de valorização do grupo é fator diferencial para se alcançar as métricas da estratégia de negócios da sociedade.

Utilizar a concorrência interna como oportunidade de crescimento é um caminho excelente, gerador de benefícios positivos para as bancas de advocacia. Iniciativas simples transformam pessoas e ampliam a satisfação, tanto das equipes quanto da sociedade.

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1 Leite, Elias Bezerra. Líder de resultado: o poder da gestão que entende de gente, desenvolve pessoas e multiplica resultados - 1ª edição - São Paulo: Editora Gente, 2017. Pag. 43.

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*Mariana Leão é advogada com pós-graduação em administração, especialista em desenvolvimento e treinamento de pessoas e equipes, gestão de processos, controladoria jurídica e gestão estratégica de serviços jurídicos.

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