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O Compliance sob a vertente da Inteligência Emocional

Como é que, enquanto Gestor e, devidamente acompanhado do suporte do Compliance Officer e das demais áreas chaves da empresa, irei cuidar efetivamente das pessoas?

terça-feira, 28 de abril de 2020

Atualizado às 13:00

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A escolha do tema Compliance sob a vertente da Inteligência Emocional, se deve ao fato de que muito se tem aprendido e, até mesmo reaprendido, sob uma nova ótica nesta fase de pandemia e, no Compliance isto não é diferente, em que pese para muitos o tema ainda pareça novidade.

Neste aspecto, um grande diferencial no momento em que estamos vivenciando, que repito, é uma fase e, assim que passar, tornar-nos-á mais fortalecidos, eis que, enquanto indivíduos antifrágeis, superaremos esta crise e com ela cresceremos, pois é impossível retornarmos à neutralidade ou ao estado existente anteriormente à ela.

Nesta linha de raciocínio é fundamental esclarecer que Compliance é sistema complexo de gestão sim, porque apenas denominá-lo como programa deixa lacunas ou algo a desejar, tamanha sua importância! Isto porque programa possui começo, meio e fim e Compliance não se esgota!

Mas, afinal de contas o que gerir? Obviamente que, ao pensar em gestão vem à cabeça fluxos, procedimentos e processos, como também layout e logística, entre tantos outros aspectos. Mas, aqui eu diria que, até mais importante que todos os pontos que acabei de citar, precisamos gerir pessoas, ou seja, o aspecto humano. E isto realmente tem um peso enorme para o sucesso, bom andamento e sustentabilidade de qualquer empresa/instituição.

Sim, porque ao gerir corretamente as pessoas estamos evitando, na grande maioria das vezes, a ocorrência de fraudes e desvios, que além de comprometer a parte financeira da empresa, gera, sobretudo, riscos reputacionais, maculando a imagem da empresa e também de seus dirigentes, eis que, no aspecto penal, por exemplo, temos a teoria da cegueira deliberada, segundo a qual, se você não sabia das graves irregularidades na sua empresa/instituição, simplesmente deveria saber!

Mas voltando ao ponto da inteligência emocional, surge a seguinte pergunta: como é que, enquanto Gestor e, devidamente acompanhado do suporte do Compliance Officer e das demais áreas chaves da empresa, irei cuidar efetivamente das pessoas? É exatamente isto que caracteriza o Compliance como multidisciplinar, pois alinhado ao RH, bem assim a todas as áreas significativas, às políticas da empresa, como também ao código de conduta e levantamento dos riscos, entre tantos outros aspectos importantes, é que preciso verificar se meus colaboradores possuem o suporte de saúde necessário, por exemplo. E aqui, não falo apenas de saúde física, mas também mental, ou seja, consigo proporcionar um ambiente saudável, no qual haja respeito mútuo e condições dignas de trabalho? Meus colaboradores possuem alimentação adequada e condições psicológicas para gerir a própria vida? E, voltando ao ambiente de trabalho, este é livre de qualquer tipo de assédio, seja ele moral ou sexual, ou até mesmo consigo evitar um ambiente de favorecimento pessoal, muitas vezes disfarçado de meritocracia?

Importante ressaltar que, ao se falar de ambiente adequado, não me refiro apenas ao aspecto trabalhista, mas também ao penal, como falei anteriormente, eis que ao evitar o risco reputacional, também evito o cometimento de crimes, sobretudo de aspecto financeiro, através das fraudes e desvios dentro da instituição.

Oportuno demonstrar, neste contexto, através de bons exemplos neste tempo de pandemia, que algumas empresas, através do Compliance, têm marcado horários para um simples bate-papo online, como uma espécie de happy hour, para que seus colaboradores não se sintam abandonados e desmotivados durante o isolamento social e, aqui reside a verdadeira empatia, o pensar no outro, o acolhimento, bem assim um significativo gerenciamento de relacionamento, no qual como líder, oportunizando abertura à equipe, consigo deixar um legado positivo, consciente de que sem esta equipe fortalecida e diferenciada minha verdadeira liderança simplesmente não existe.

Aliás, gostaria de destacar outro ponto de mudança de cultura nas gestões realmente comprometidas: anteriormente ao contratar pessoas, as empresas buscavam sempre os melhores currículos, dispensando o caráter emocional, íntegro e ético e isto, considerando a atual experiência de mercado e necessária mudança de mindset, está refletindo em um cenário infinitamente melhor. Traduzindo, é melhor contratar pessoas íntegras e treinar habilidades para a perenidade das empresas/instituições e este fato só vem comprovar que o sistema de Compliance e Integridade deve sim andar de mãos dadas com a boa Governança.

Além disso, em concordância com as palavras de Ana Paula Assis, Presidente da IBM para a América Latina: "É preciso trabalhar a autoestima das pessoas/colaboradores!" Isto se justifica porque essas mesmas pessoas possuem um imenso potencial, embora, muitas vezes, não saibam disso ou, devido aos mais variados motivos, foram desacreditadas. Aliás, outro ponto igualmente importante é recapacitar estas pessoas, de modo que fiquem cada vez mais afiadas, se isto for preciso. Logo, temos aqui um grande insight para as empresas do futuro, sem esquecer que estas atitudes que devem ser aplicadas desde já.

Então meu caro leitor, ao cuidar das pessoas, busca-se despertar o sentimento de pertencimento dos colaboradores no sistema de Compliance pela ética, integridade e retidão. O fazer o que é certo e, não somente por utopia, mas porque é bom para eles! E é lógico que aqui reside a verdadeira mudança de cultura, pois ao aplicá-la, no dia a dia e, na vivência das pessoas, é que haverá a mudança positiva tão esperada, eis que de nada adianta possuir a melhor estratégia se esta não for aplicada na cultura e na vivência da empresa/instituição.

Para finalizar, e buscando transmitir em uma única frase tudo o que foi dito até aqui: ao cuidar das pessoas e do fator humano, teremos a virada de página e o divisor de águas e, neste contexto, em que as pessoas caracterizam o mais importante ativo de qualquer empresa, oportuno citar George Washington: "As boas empresas serão sempre muito menos caras que as ruins."

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t*Andrea Wiezbicki Strapasson é especialista, professora e palestrante em Compliance. Fundadora da A.W. Strapasson Advocacia e Consultoria.

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