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Os enlutados, as outras vítimas do covid-19

Segundo os dados oficiais, em permanente atualização, no Brasil temos cerca de 40.000 casos acumulados de coronavírus, destes aproximadamente de 2500 falecidos, devido à infecção pelo coronavírus

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Atualizado em 30 de abril de 2020 07:54

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Com o passar dos dias, e com o aumento dos casos, reluze o número de mortes.

Assim, cada vez mais temos falado de pessoas concretas do nosso entorno que deram positivo nos testes ou que morreram com suspeita ou confirmação, colegas, chefes, vizinhos, amigos da infância...

Deixa-nos frustrados o isolamento obrigatório que devem ter os doentes graves no frio ambiente dos hospitais, todavia que os atarefados profissionais de saúde estão empenhamos no cuidado.

Alguns dos enfermos, os cientes da situação, poderão facilmente cair em depressão pela restrição às visitas, e até pelo fato de serem visitados por pessoas fardadas, e de rostos cobertos.

À dor do doente, acrescentasse o sofrimento da família, dos amigos, impedidos por precaução da prática de visitá-los. Anedoticamente, uns serviços de saúde do mundo, têm usado tecnologia para acompanhar os doentes, pelo menos durante alguma parte do dia.

De qualquer maneira, cada membro da família, cada amigo, passará sua própria experiência interior, desta vez, desprovida dos prezados abraços de consolo.

Onde quedam as histórias, os momentos? Quando a morte leva-se consigo aos seres queridos, sem tempo, sem espaços para as despedidas. Surge um luto enrarecido, sem poder segurar a mão, sem poder dar um beijo na testa.

Com as doenças infecciosas altamente contagiosas e letais como a do vírus de ebola, o vírus de Marburg (da África), e claro, a doença do coronavírus (covid-19), tem-se criado orientações particularmente importantes para um 'enterro seguro e digno' como o intitula a Organização Mundial da Saúde, nas quaispermitem-se os rituais religiosos, porémevitando os agrupamentos de pessoas, inclusive aconselhando o uso de meios virtuais em tempo real ou os vídeos evitando deslocamentos, ademais de guiar o manuseio dos corpos das pessoas mortas.

Soma-se a singela cerimônia religiosa, se houver, pois, é necessário um ambiente seguro para todos, precisandode um respeito pelos protocolos para evitar espalhar doenças infecciosas, e o distanciamento entre os presentes sob o mesmo argumento.

Soa duro, despedir-se sem tocar-se, e provavelmente isto afete o processo do duelo, ainda mais tratando-se de um óbito por uma enfermidade tão temida, e estigmatizante.

E é por isso que as pessoas que perdem os seus seres queridos - às mãos do coronavírus - precisam receber de nós, como sociedade, um suporte solidário, mesmosque à distância, um telefonema, um e-mail, uma mensagem pelas redes sociais, para auxiliar o seu processo de aceitação.

No entanto, os médicos e a equipe de saúde que fornecem a assistência clínica, também vivem um luto pelospróprios pacientes, que pode passar despercebido, e que também requer um apoio, uma escuta e um tempo.

Cabe-nos: lembrar com carinho as pessoas que já não estão conosco, e também sermos um suporte solidário, fraterno, aproveitando todos os meios tecnológicos, para dedicar palavras e atos de incentivo às famílias e amigos aflitos, oferecendo os pêsames, e demostrando diferentes maneiras de apoio.

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*Derly Judaissy Díaz Rodríguez é médica, especialista em Medicina Paliativa, especialista em Medicina de Família, Mestre em Cuidados Paliativos, Mestre em Saúde Coletiva. Aluna de Especialização em Direito Médico e da Saúde, do Centro de Estudos e Pesquisas no Ensino do Direito da CEPED UERJ.

*Jeffrey Andrés Díaz Rodríguez é médico, especialista em Cirurgia Geral, especialista em Geriatria, Plantonista de Unidade de Pronto Atendimento.

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