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A polêmica morte de Maradona e erro médico: Como caracterizar?

À princípio uma morte natural, de uma pessoa com suposto histórico de abuso no uso de álcool e cocaína, torna-se agora um processo na corte argentina, para investigação de erro médico: negligência.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Atualizado às 08:05

 (Imagem: Arte Migalhas)

(Imagem: Arte Migalhas)

Todos nós apaixonados por futebol sentimos a perda recente do gênio do esporte, Diego Armando Maradona Franco. Filho de uma família humilde da periferia de Buenos Aires morreu como viveu: cercado de polêmicas e conflitos. Como todo ser humano errou e acertou, mas inegavelmente deu grande alento ao sofrido povo argentino e latino-americano. Suas últimas atuações como técnico podem ser vistas no documentário da Netflix, Maradona no México, quando podemos observar que era um homem movido por paixões e pelo seu coração. Nota-se também o declínio físico e mental do craque, acometido por lesões osteomusculares generalizadas, sua obesidade, fadiga e irritabilidade extremas.

Na data de 25 de novembro Maradona faleceu, e conforme as últimas informações da mídia, a causa mortis seria miocardiopatia dilatada, insuficiência cardíaca e edema agudo de pulmão, em uma residência.

À princípio uma morte natural, de uma pessoa com suposto histórico de abuso no uso de álcool e cocaína, torna-se agora um processo na corte argentina, para investigação de erro médico: negligência.

Apenas como exercício teórico das informações obtidas pela mídia, pois evidentemente não temos acesso à integralidade das oitivas das testemunhas e ao principal, o prontuário médico, há que se fazer algumas indagações pertinentes ao caso:

1. Consta que o craque foi operado de um hematoma subdural crônico (coágulo no cérebro, ocorre em consequência de trauma, muitas vezes só é constatado anos após o acidente). Obteve alta hospitalar para a sua residência nove dias após o procedimento, com acompanhamento domiciliar do seu médico, de enfermeiros, um psicólogo e um psiquiatra.

2. Há depoimento de um profissional de que Diego sofreu uma queda na residência e bateu com a cabeça, não tendo sido removido para a devida avaliação hospitalar: investigação da causa e consequência da suposta queda.

3. A assistência domiciliar prestada no caso deixa margem para dúvidas se houve solução de continuidade no atendimento da enfermagem, das visitas do médico assistente, da necessidade de outros profissionais (fisioterapeuta, médico diarista ou supervisor).

4. Outra questão levantada é o tempo excessivo para a chegada da ambulância no domicílio de Maradona, já que para caso de tal gravidade, o caso deveria estar dentro do conceito de área protegida, com a chegada do resgate assim que acionado.

5. Falta de equipamentos básicos para reanimação cardiorrespiratória: desfibrilador, equipamentos de assistência respiratória, medicamentos de emergência entre outros, no domicílio.

Certamente a Justiça argentina, mediante a realização de perícia médica irá encontrar a verdade nesse caso, e se for estabelecido nexo causal entre eventual negligência na assistência médica e a morte de Diego, os culpados sofrerão as sanções éticas e legais previstas naquele país.

¡Quedate bien dios!

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 *Álvaro Luiz Pinto Pantaleão é médico perito e responsável técnico da Clínica Médicos Peritos Dr. Álvaro Pantaleão em São Paulo. Perito do quadro auxiliar do TRT2 e TJ/SP.

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