MIGALHAS DE PESO

  1. Home >
  2. De Peso >
  3. E, a palavra da semana foi: "lawfare". Mas, qual o significado? Qual seu uso estratégico no sistema jurídico e na política?

E, a palavra da semana foi: "lawfare". Mas, qual o significado? Qual seu uso estratégico no sistema jurídico e na política?

Nicolau Maquiavel escreveu em seu famoso livro "O Príncipe": "Há duas maneiras de lutar, com força ou com leis". Entenda esse instrumento de guerra e o traga para o campo de batalha legal.

sexta-feira, 30 de junho de 2023

Atualizado às 10:23

Durante a sabatina ocorrida no dia 21 de junho de 2023, perante a CCJ o, então advogado, Cristiano Zanin, foi questionado sobre o tema "lawfare", em diversas oportunidades. Em uma delas, declarou Zanin:

"Eu penso que o combate à corrupção é fundamental para sociedade, ele deve acontecer, agora, sempre com a observância do devido processo legal. O que não se pode fazer, e aí pode configurar o lawfare, é usar o combate à corrução como pretexto para perseguir pessoas, empresas e instituições".

Claro que, vários outros temas foram abordados. Mas, a proximidade do Presidente Lula, assim como o possível impedimento ou suspeição do sabatinado, em processos que tratem da Operação Lava a Jato foram trazidos por diversas vezes. E, nas redes sociais o termo "lawfare" foi trending topic.

O termo não é novidade para os que conhecem a biografia do mais novo Ministro do STF. Além de tornar o tema relevante a partir de suas defesas processuais, onde apresentam como base as várias dimensões desta guerra. Além de ser co-autor de livro denominado "Lawfare - Uma Introdução", ele também é fundador do Instituto Lawfare, criado em 2017.

O termo é fruto do neologismo, em duas palavras: Law (direito) e Warfare (guerra). E, há muito vem sendo estudada.

Charles J. Dunlap Jr., em texto escrito para Kennedy School de Harvard (2001) diz que: "o direito é muito parecido com uma ferramenta ou arma que pode ser usada adequadamente de acordo com as virtudes mais altas do Estado de Direito - ou não. Tudo depende de quem a está empunhando".

Por ser "guerra", o Lawfare atua em dimensões: a geográfica, o armamento e as externalidades.

Exércitos fazem o uso estratégico da paisagem, da geografia. Os campos de batalha são cuidadosamente escolhidos. A geografia é decisiva para a vitória. No lawfare o campo de batalha se dá na escolha dos juízes, do tribunal, naquele que seja mais propenso a tese jurídica proposta.

A segunda dimensão, o armamento.  Na guerra escolhemos as armas mais eficazes para abater nossos inimigos. No lawfare esse armamento será representado pela escolha da lei, ela permitirá o atingimento de nosso objetivo. Todas as manobras jurídico-legais substituem o uso da força armada. A política se torna a continuidade da guerra.

A terceira dimensão é o comum à guerra e ao lawfare: A externalidade. O ambiente criado de forma que possamos usar a arma escolhida contra nosso inimigo escolhido e ainda termos a opinião pública a nosso favor.

Aqui atentamos para o uso da mídia como meio que permita criar o ambiente propício para a aceitação e legitimação da perseguição jurídica. A "guerra da informação" é prática que depende de planejamento, que aparente estar acontecendo dentro da normalidade. O ambiente de aceitação, de compreensão da necessidade desta guerra é o que cria a justificativa plausível ao homem comum para guerrear.

Analise uma guerra. Seja ela qual for. Não há guerra sem apoio popular. O objetivo é a conquista da opinião pública, impondo-se uma história como se fosse a própria verdade.

Em seu livro Zanin propõe: "lawfare é o uso estratégico do Direito para fins de deslegitimar, prejudicar ou aniquilar um inimigo".

Mas, se em um estado democrático de direito não existem inimigos. Se subsistem garantias fundamentais e a ordem constitucional com regras claras, não há como se aceitar decisões impostas a eleitos como "inimigos".

Gostaria de deixar claro que, este texto não foi escrito com a finalidade de analisar casos concretos, ou de corroborar ou não com as teses defendidas por Zanin. Apenas porque estudo inovação no direito e acredito na descoberta de novas possibilidades de atuação na carreira, mesmo nas áreas mais tradicionais. E que, ao estabelecer novas formas de defesas ganha-se credibilidade e cria-se outras possibilidades de mercado para advogados e clientes.

E, principalmente que, ao reconhecer o lawfare como instrumento de guerra, quero também lembrar a lição de Sun Tzu (2013) quando diz que "a habilidade suprema não consiste em ganhar cem batalhas, mas sim em vencer o inimigo sem combater" (p. 45).

Lucinete Cardoso

VIP Lucinete Cardoso

Mestre em Direito. Prof. Universitária. Advogada com experiência em assessoria empresarial, Contratos, personificação jurídica, estrutura societária, governança, mercado de capitais, novas tecnologias

AUTORES MIGALHAS

Busque pelo nome ou parte do nome do autor para encontrar publicações no Portal Migalhas.

Busca