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Parcerias público-privadas (PPPs) e concessões como estratégias de gestão urbana em destinos turísticos inteligentes (DTIs)

O turismo impulsiona a economia global e regional. Parcerias público-privadas e concessões são essenciais para desenvolver Destinos Turísticos Inteligentes, promovendo modernização, sustentabilidade e inclusão social através de soluções inovadoras.

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Atualizado às 14:52

1. Introdução

O turismo é indiscutivelmente um dos fenômenos econômicos e sociais mais impactantes da atualidade, emergindo como um pilar fundamental na dinâmica da economia global. Este setor não só impulsiona o crescimento econômico em escala nacional, como também desempenha um papel crucial no desenvolvimento regional. Em particular, o turismo é visto como um instrumento essencial para mitigar problemas como a desertificação e a estagnação econômica, especialmente em regiões menos desenvolvidas.

As PPPs - Parcerias público-privadas, juntamente com estratégias de concessões, são cada vez mais reconhecidas como métodos eficazes para melhorar a gestão e a infraestrutura em DTIs - Destinos turísticos inteligentes. Tais estratégias não só facilitam a modernização necessária para atender às demandas cada vez mais sofisticadas dos turistas, mas também promovem a sustentabilidade e a inclusão social. PPPs e concessões permitem uma colaboração estratégica onde o setor público e o privado unem forças, combinando recursos públicos com a eficiência e inovação do setor privado. Esta sinergia é fundamental para desenvolver destinos que não só atraem turistas devido à sua infraestrutura avançada e serviços de qualidade, mas também por serem ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis.

Em um mundo onde a conectividade e a tecnologia estão na vanguarda da transformação urbana, os DTIs utilizam tecnologias inteligentes para melhorar a experiência turística e gerenciar recursos de maneira eficiente. As PPPs e concessões desempenham um papel crucial neste processo, ajudando a implementar soluções inovadoras que vão desde sistemas de transporte inteligente e gestão de resíduos até a melhoria de serviços públicos e privados que são essenciais para a sustentação de um destino turístico atraente e responsável.

Portanto, ao considerar o desenvolvimento futuro dos DTIs, as PPPs e concessões são estratégias indispensáveis que oferecem múltiplos benefícios, incluindo a ampliação do acesso a capital, expertise e tecnologia. Estas parcerias são essenciais para garantir que os destinos não apenas sobrevivam no competitivo mercado turístico global, mas também prosperem como exemplos de inovação e sustentabilidade urbana.

2. Concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs)

As PPPs representam uma colaboração estratégica entre entidades do setor público e investidores do setor privado. Esta modalidade de parceria envolve a concepção, planejamento, financiamento, construção, operação ou manutenção de infraestruturas e serviços que são, tradicionalmente, áreas de responsabilidade do setor público. As PPPs são projetadas para aproveitar a eficiência do setor privado, trazendo inovação e capacidade de investimento ao serviço público, sem necessariamente passar por um processo completo de privatização (Linder, 1999).

Uma das principais vantagens das PPPs reside na sua capacidade de reduzir os custos governamentais para projetos de grande escala, ao mesmo tempo que se mantém ou até melhora a qualidade dos serviços oferecidos. Os governos conseguem, através das PPPs, compartilhar os riscos associados a grandes investimentos com o setor privado, o que pode incluir desde riscos financeiros até riscos operacionais e de conformidade (Kim et al., 2005). Além disso, as PPPs podem trazer uma melhoria significativa nas receitas através da implementação de tarifas que refletem os custos reais dos serviços, introduzindo ao mesmo tempo fontes inovadoras de financiamento e operação que não estão disponíveis através dos métodos tradicionais de provisão pública.

No entanto, as PPPs também apresentam desafios específicos, principalmente relacionados à partilha de controle e responsabilidade entre o público e o privado. A perda potencial de controle sobre serviços essenciais pode ser uma preocupação para os órgãos públicos, bem como a garantia de que os objetivos de longo prazo de políticas públicas serão mantidos. Além disso, as PPPs exigem uma estruturação cuidadosa de contratos para assegurar que todos os riscos sejam adequadamente identificados e gerenciados. Questões de responsabilidade e transparência são também críticas, uma vez que os projetos de PPP frequentemente envolvem significativos recursos públicos e compromissos de longa duração (ECLAC, 2007).

Para maximizar os benefícios das PPPs, é essencial que exista uma estrutura regulatória clara e robusta, bem como processos transparentes e responsáveis de tomada de decisão. Isso inclui a implementação de mecanismos de governança eficazes, que assegurem que as PPPs operem de maneira que seja tanto vantajosa quanto sustentável para todas as partes envolvidas. Além disso, a adaptação e flexibilidade são necessárias para responder às mudanças nas condições econômicas e nas necessidades da população.

3. Turismo e Parcerias Público-Privadas

O turismo é fundamental para o desenvolvimento econômico de diversas regiões, especialmente aquelas com poucas alternativas econômicas. Esta atividade tem o potencial de revitalizar áreas menos desenvolvidas, explorando seus recursos naturais e patrimônios culturais. Segundo Cabugueira (2005), o turismo pode ser decisivo no desenvolvimento de regiões que, de outra forma, enfrentariam estagnação econômica e desertificação. Adicionalmente, Jackson e Murphy (2002) destacam que governos frequentemente veem o turismo como uma estratégia para impulsionar o desenvolvimento econômico, especialmente em locais com baixa oferta de empregos em setores tradicionais.

As redes globais são essenciais no setor de turismo, fortalecendo as conexões entre fornecedores e empresas, como operadores turísticos, para manter a competitividade em um mercado global (Erkus-Ozturk, 2008). A OMT - Organização Mundial do Turismo em 2003 enfatizou que a cooperação em várias áreas do turismo é crucial para estabelecer parcerias formais entre o público e o privado, aumentando assim a competitividade do setor e garantindo um desenvolvimento sustentável dos produtos turísticos.

A aplicação da teoria dos stakeholders no turismo envolve considerar todas as partes interessadas, desde as populações locais até turistas e operadores. Buhalis (2000) descreve um destino turístico como uma combinação de produtos, serviços e experiências em uma área geográfica delimitada, onde a gestão eficaz deve considerar os impactos do turismo para maximizar os benefícios para todos os stakeholders. Além disso, a teoria dos stakeholders é vista como uma ferramenta normativa que ajuda a promover a colaboração entre os principais atores envolvidos no planejamento turístico, o que é crucial para alinhar e coordenar seus interesses diversos e muitas vezes conflitantes (Roberts e Simpson, 2000).

As parcerias no setor de turismo são vistas como vitais para a sobrevivência e sucesso de pequenas empresas em um mercado globalizado e altamente competitivo. Witt e Moutinho (1995) argumentam que alianças estratégicas e a criação de redes podem ser a chave para pequenas empresas no setor hoteleiro e de viagens. Long (1997) sugere que parcerias no turismo envolvem colaboração entre stakeholders autônomos de múltiplos setores, criando uma base comum para tomar decisões sobre o desenvolvimento do turismo. A colaboração entre os setores público e privado, assim como a cooperação estreita com fornecedores locais, é essencial para oferecer produtos de alta qualidade que superem as expectativas dos consumidores e assegurem a sustentabilidade do destino a longo prazo.

4. Potencial das Parcerias Público-Privadas para o Turismo Brasileiro em Destinos Turísticos Inteligentes

O Brasil, com sua rica diversidade cultural e natural, oferece um terreno fértil para o desenvolvimento de DTIs por meio de PPPs. Essas parcerias são essenciais para modernizar a gestão urbana de equipamentos turísticos, melhorando a experiência do turista e a sustentabilidade dos destinos.

Um exemplo notável de aplicação de PPPs no Brasil é o projeto de revitalização do Porto Maravilha no Rio de Janeiro. Esta grande iniciativa de reurbanização foi desenvolvida através de uma PPP que transformou a zona portuária em um espaço vibrante de lazer, cultura e turismo, integrando tecnologia para melhorar a infraestrutura e os serviços urbanos, contribuindo para a experiência dos visitantes durante os jogos olímpicos de 2016 e além.

Outro caso é o desenvolvimento do Parque Ibirapuera em São Paulo, onde uma PPP foi proposta para melhorar a gestão e conservação do parque, visando aumentar sua capacidade de atrair e satisfazer turistas e moradores locais com melhor infraestrutura e serviços mais eficientes.

A gestão eficiente de equipamentos turísticos públicos através de PPPs permite não apenas a melhoria da qualidade e da oferta de serviços turísticos, mas também a implementação de soluções tecnológicas inteligentes. Por exemplo, a introdução de sistemas de gestão de tráfego e segurança baseados em tecnologia, melhoria na sinalização digital, e aplicativos móveis para orientação turística são algumas das inovações possíveis.

Os DTIs no Brasil podem se beneficiar significativamente das PPPs pela capacidade dessas parcerias de alavancar investimentos em tecnologia e infraestrutura. Isso é essencial para a criação de destinos que não só atraem turistas pela beleza natural e cultural, mas também pela facilidade, segurança e enriquecimento da experiência turística.

5. Conclusão

As PPPs e as concessões revelam-se como catalisadores cruciais para a evolução dos DTIs, abordando diretamente as necessidades de modernização, sustentabilidade e inclusão social nos centros urbanos turísticos. A integração destas estratégias não apenas alavanca o potencial turístico através da melhoria da infraestrutura e dos serviços, mas também impulsiona a eficiência econômica e a responsabilidade ambiental. Este modelo de gestão compartilhada permite que o setor público beneficie da agilidade e inovação do setor privado, garantindo ao mesmo tempo que os objetivos de longo prazo de desenvolvimento e conservação sejam atendidos.

No contexto dos DTIs, as PPPs e concessões permitem a implementação de tecnologias avançadas e soluções inovadoras que melhoram a experiência turística e a gestão de recursos. Estas parcerias facilitam a instalação de sistemas inteligentes de transporte, gestão de resíduos, e serviços digitais que são fundamentais para a sustentabilidade e atratividade dos destinos. Além disso, a colaboração entre os setores público e privado tem o potencial de transformar significativamente a competitividade dos destinos turísticos, tornando-os mais acessíveis e atrativos para um público global.

Entretanto, apesar dos benefícios evidentes, as PPPs e concessões enfrentam desafios como a partilha de controle e a necessidade de uma gestão de riscos meticulosa. A complexidade dos contratos e a clareza nas responsabilidades são essenciais para o sucesso dessas parcerias. Portanto, a implementação de uma estrutura regulatória forte e transparente é crucial para mitigar riscos e garantir que as parcerias sejam benéficas para todas as partes envolvidas. A flexibilidade e a capacidade de adaptação também são fundamentais para responder às dinâmicas econômicas e às exigências em constante mudança dos turistas.

Além disso, a experiência internacional e os estudos de caso de diversos países destacam a importância de uma abordagem colaborativa e integrada no desenvolvimento dos DTIs. As parcerias eficazes entre o setor público e privado podem servir como modelos para o desenvolvimento regional, incentivando não apenas o crescimento econômico, mas também a inclusão social e a preservação ambiental. Este modelo colaborativo é particularmente valioso em regiões menos desenvolvidas, onde o turismo pode desempenhar um papel decisivo na revitalização econômica e na redução da pobreza.

Em conclusão, as parcerias público-privadas e concessões são estratégias indispensáveis para o desenvolvimento sustentável dos destinos turísticos inteligentes. Elas oferecem uma via para a inovação, eficiência e competitividade turística, ao mesmo tempo que asseguram a conservação dos valores culturais e naturais dos destinos. O sucesso destas estratégias depende da capacidade de alinhar os interesses do setor público com a dinâmica e as capacidades do setor privado, garantindo assim um desenvolvimento equilibrado e sustentável que beneficie tanto os locais quanto os visitantes.

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BUHALIS, D. Marketing the Competitive Destination of the Future. Tourism Management, v. 21, p. 97-116, 2000.

CABUGUEIRA, A. A Importância Econômica do Turismo. Revista Turismo & Desenvolvimento, v. II, n. 2, p. 97-104, 2005.

ECLAC - Economic Commission for Latin America and the Caribbean. Tourism in the Caribbean: Competitiveness, Upgrading, Linkages and the Role of Public Private Partnership (PPP) and Public Policy. United Nations, 2007.

ERKUS-OZTURK, H. The Role of Cluster Types and Firm Size in Designing the Level of Network Relations: The Experience of the Antalya Tourism Region. Tourism Management, doi:10.1016/j.tourman.2008.10.008, 2008.

JACKSON, J.; MURPHY, P. Tourism Destinations as Clusters: Analytical Experiences From The New World. Tourism and Hospitality Research, v. 4, n. 1, p. 36-52, 2002.

KIM, J. H. et al. Public and Private Partnership for Facilitating Tourism Investment in the APEC Region. APEC Tourism Working Group (TWG) & Ministry of Culture and Tourism, Republic of Korea, Asia-Pacific Economic Cooperation, 2005.

LINDER, S. H. Coming to Terms with the Public-private Partnership: A Grammar of Multiple Meanings. American Behavioral Scientist, v. 43, n. 1, p. 35-51, 1999.

LONG, P. Researching Tourism Partnership Organizations: From Practice to Theory to Methodology. In: MURPHY, P. (Ed.). Quality Management in Urban Tourism. Wiley, Chichester, p. 235-251, 1997.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO (OMT). Cooperação em turismo: uma perspectiva global. Madrid: OMT, 2003.

ROBERTS, L.; SIMPSON, F. Developing Partnership Approaches to Tourism in Central and Eastern Europe. In: BRAMWELL, B.; LANE, B. (Eds.). Tourism Collaboration and Partnerships: Politics, Practice and Sustainability. Channel View Publications, p. 230-271, 2000.

WITT, S.; MOUTINHO, L. Alianças estratégicas no setor turístico. Travel and Hospitality Journal, 1995.

Thiago Roberto Aparecido Marcelino Ferrarezi

VIP Thiago Roberto Aparecido Marcelino Ferrarezi

Advogado especialista em Direito do Estado pela UFRGS e Licitações e Contratos Administrativos pela USP. Mestre em Administração Pública pela FGV. Doutorando em Inteligência Artificial na PUC-SP.

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