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As healthtechs pela ótica jurídica

As healthtechs integram saúde e tecnologia, representando uma revolução jurídica e ética. Esse texto explora o florescimento dessas inovações no Brasil.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Atualizado às 10:34

Não é segredo para ninguém que o setor de saúde é um setor à parte, algo que varia entre o desfrute de algo maravilhoso que é a nossa saúde e o bem-estar e algo desagradável, e muitas vezes fastioso e repulsivo, como a doença e aquelas "secreções" de todo o hospital. O setor da tecnologia acaba por ser algo a parte, mas como ela faz parte do nosso dia a dia, fica mais fácil entender. Para aqueles de fora desse jardim outonal pode parecer estranho, em especial para os advogados e para os empresários de fora do setor, que são os principais leitores aqui. Dessa forma farei de um jeito que possa chegar mais próximo do entendimento desse jardim de flores e espinhos, logrando-me da nossa prosa à brasileira e dessa forma atingir o objetivo de explorar o jardim florescente das healthtechs, onde a beleza da inovação convive com as ervas daninhas dos desafios ainda não superados.

Nas profundezas da jurisprudência brasileira, nasce uma concepção: as healthtechs, quimeras da saúde e tecnologia, carregam em si o DNA da revolução e do dilema. Este é um terreno onde o potencial de germinar a saúde floresce entre os espinhos da regulamentação e segurança. Nesse campo vasto de oportunidades, as healthtechs, semelhantes a flores tecnológicas que desabrocham no jardim da saúde brasileira, permeando nossas vidas com pétalas de inovação e semeando soluções que transformam nossas experiências com o cuidado à saúde. E nesse jardim, em que cada botão revela uma nova possibilidade, nos deparamos com uma paisagem que mistura o encanto do novo e o desafio do desconhecido além dos muros desse quintal.

As healthtechs são mais do que simples empresas: são entidades que portam em suas mãos virtuais o potencial de revigorar, e até mesmo reinventar, os caminhos pelos quais navegamos no universo da saúde. Imagine um médico que, apesar de não estar fisicamente presente, através da telemedicina, transpassa barreiras geográficas para diagnosticar e acalentar um paciente em uma região remota do Brasil. E as healthtechs não se limitam apenas à telemedicina! Essas entidades tecnológicas estão entrelaçando os dedos da tecnologia e da saúde para criar uma tapeçaria de acesso, eficiência e precisão, onde antes, muitas vezes, encontrava-se apenas obstáculos e desafios.

As sementes dessas healthtechs, plantadas no solo fértil da necessidade e regadas pela chuva da inovação, têm germinado por todo o território brasileiro. Do agito das metrópoles à quietude do interior, elas crescem, oferecendo frutos que vão desde consultas virtuais até algoritmos que ajudam a decifrar os mistérios de exames complexos. A tecnologia, com seus braços cibernéticos, alcança lugares onde os braços humanos, por vezes, não conseguem, erguendo uma ponte sobre o abismo que separa tantos brasileiros de um atendimento médico qualificado e compassivo.

No entanto, nesse pomar da modernidade, nem tudo são flores. Ao mesmo tempo que a tecnologia na saúde eleva a nossa capacidade de atendimento e distribuição de serviços, ela também nos lança em um mar de incertezas éticas e regulatórias, onde navegar requer uma bússola precisa e firmeza no leme. E, com essa entrada sutil e impactante no cotidiano, as healthtechs não apenas remodelam o modo como percebemos e interagimos com o universo da saúde, mas também nos convidam, ou melhor, nos incitam a repensar e a redefinir o futuro que desejamos para a saúde no Brasil.

1. Um jardim dentro do oceano das inovações e a Saúde

As healthtechs, como velozes embarcações no oceano da tecnologia da saúde, navegam em águas por vezes tempestuosas, onde as ondas da regulação se levantam, imponentes e desafiadoras. O mar de normativas é vasto e, em algumas ocasiões, aparentemente turbulento, exigindo uma habilidade perspicaz dos navegantes para garantir que a inovação não seja engolida pelo tumulto das exigências legais e éticas.

A conformidade legal é a bússola que direciona estas embarcações, assinalando o norte verdadeiro entre os recifes perigosos da não-conformidade. Por mais inovador que seja o vento que impulsiona estas veleiras tecnológicas, ele deve ser temperado com a serenidade e a precisão da bússola regulatória. Um curso desalinhado, mesmo que levemente, pode levar à deriva, distante das terras promissoras da inovação segura e eficaz.

Essa jornada ruma em direção a um porto onde a inovação e a segurança coexistem em equilíbrio. As healthtechs, ao adentrarem as águas da regulação, buscam não apenas sobreviver às tempestades, mas também aprender a dançar com a chuva, adaptando-se e moldando-se de modo que o fluxo da inovação continue, mesmo quando navegando através dos mais desafiantes mares legais.

Navegar pelos mares revoltos da regulação é uma arte e ciência que as healthtechs precisam aprimorar em cada etapa da viagem. E enquanto elas se aventuram, nós, observadores desta odisséia moderna, testemunhamos não apenas a destreza com que manobram suas embarcações, mas também como, por meio desta jornada, moldam e são moldadas pelo ambiente volúvel da saúde digital.

Cada onda, cada marola, apresenta uma nova aprendizagem, uma nova perspectiva sobre como a tecnologia pode, e deve, entrelaçar-se com os rigores da ética e da legalidade. O mar, por sua natureza, é um eterno movimento, assim como o campo da saúde digital: sempre flutuante, sempre desafiador, mas também, sempre cheio de possibilidades inexploradas. Segundo a OIH - Organização Nacional Francesa de Hidrografia, após 200 metros de profundidade, só desbravamos 10% do oceano. Ainda, para alguns cientistas, o universo sob as ondas é menos conhecido do que a superfície da Lua. O bebê jurídico brasileiro nesse oceano tenta amadurecer em vão à mesma medida que a maré sobe.

2. O terreno Jurídico para as healthtechs

Informações de saúde são mais que dados, são solos sagrados onde florescem elementos vitais da individualidade e dignidade humana. Cada detalhe, cada número, e cada letra germinam em uma terra vital que merece ser cultivada com o máximo respeito e integridade. Dados sensíveis e sigilosos não devem e nem podem ser expostos. E nas healthtechs, essa terra se torna um terreno fértil, onde as sementes da inovação são plantadas, porém, cuja fertilidade depende da saúde integral do solo da privacidade. Cada semente de informação, plantada com esperança e expectativa, tem o potencial de gerar frutos cujos sabores - de inovação, eficácia e revolução - podem alimentar gerações futuras com um sustento jamais degustado anteriormente.

O campo da tecnologia deve ser irrigado com um sistema ético eficaz, onde cada gota de integridade nutre as sementes da inovação. Uma irrigação ética é mais do que simples conformidade - é um compromisso com a sustentabilidade do campo digital, assegurando que cada planta, cada dado, seja nutrido com consideração e consciência, propiciando um crescimento que seja, em si mesmo, um testemunho de respeito e honra.

E ao colhermos os frutos da inovação, é imperativo que essa colheita seja protegida com veemência. O zelo deve ser tal que cada fruto, cada informação colhida, seja guardada com um manto de proteção, assegurando que os benefícios da colheita sejam desfrutados sem que a árvore da privacidade seja, de alguma forma, prejudicada no processo.

Esta é a jornada das healthtechs - uma exploração constante de como alimentar a humanidade com os preciosos frutos da tecnologia, enquanto respeitosamente honram o solo de onde estes frutos emergem. Como fiéis jardineiros destes campos virtuais, a missão é clara: proteger o solo, honrar cada semente, e assegurar que a colheita seja feita de uma maneira que permita safras futuras de inovação e progresso.

Alguns adubos construídos e manejados com o apoio da justiça Brasileira são necessários:

  • Proteção de dados:LGPD - Lei Geral de Proteção de Dados, um farol na noite escura do ciberespaço, guia as healthtechs através dos nebulosos mares dos dados sensíveis, demandando uma navegação astuta e respeitosa pelas ondas de coleta, processamento e armazenamento de dados.
  • Telemedicina: Este universo digital, onde médicos e pacientes colidem em uma dança celestial à distância, orbita firmemente em torno das regulamentações específicas. O CFM -Conselho Federal de Medicina, qual gravidade, direciona e forma as trajetórias dessa prática através de regras e diretrizes críticas.
  • Incorporação de tecnologia no SUS: Uma estrela, antes de ser aceita na constelação do SUS, é meticulosamente analisada, garantindo que seu brilho - eficácia, segurança e custo-efetividade - esteja em sintonia com as demais.

Publicidade e marketing: As ações de marketing, feixes luminosos das healthtechs, cruzam o espaço regulado por entidades como o Conselho Federal de Medicina e a ANVISA, garantindo que sua luz seja ética e verídica ao tocar os olhos dos espectadores.

Segurança de informação: O cosmos digital é vasto e inexplorado, exigindo que as robustas medidas de segurança da informação estejam a postos como sentinelas, salvaguardando as preciosas informações estelares de pacientes.

Inovação e pesquisa: Cada nova estrela de inovação, antes de ser lançada no espaço da saúde, é escrutinada através de lentes éticas e legais, assegurando sua segurança e eficácia em meio à constelação existente.

Relações contratuais e comerciais: Os corpos celestes das healthtechs, profissionais de saúde e pacientes, ao dançarem juntos no céu comercial, são regulados por princípios de transparência e ética, garantindo uma harmonia cósmica na prestação de serviços.

O céu jurídico, sob o qual as healthtechs brasileiras respiram, é uma expansão complexa e multifacetada, uma noite estrelada onde a inovação tecnológica e a conformidade regulatória dormem e criam forças para a fotossíntese do dia seguinte. E enquanto as estrelas da tecnologia e do setor de saúde continuam a nascer e morrer, a paisagem legal, uma noite eterna, provavelmente se transformará, trazendo novos horizontes de desafios e oportunidades. O sabor de um dia seguinte! A sabedoria reside em manter um diálogo estelar com profissionais jurídicos especializados, garantindo que o ciclo circadiano desse jardim seja não apenas eficaz, mas também um espetáculo digno de ser observado no teatro floral da saúde e tecnologia.

3. Benefícios e florescimentos tecnológicos

A regulamentação é o sangue que mantém o corpo da healthtech pulsante e robusto, conduzindo essência vital - conformidade e diretrizes - a cada ramificação da tecnologia da saúde, revitalizando e imbuindo cada célula com a responsabilidade e alinhamento legal.

Assim como o coração, imperativo e potente, funcionando como uma bomba propulsora de sangue rico em oxigênio e nutrientes, a conformidade deve ser central, vigorosa e intransigente, alimentando cada inovação com ética e integridade, garantindo que o corpo funcional da tecnologia mantenha a saúde, a força e a resistência para suportar os desafios do terreno digital. Um coração, robusto e vibrante, repousa no peito do campo da saúde tecnológica, e neste universo de bytes e bits, é ele que mantém o ritmo, o pulsar de um mundo que se entrelaça entre o digital e o orgânico. A regulamentação não é meramente um instrumento de restrição, mas o sangue que infunde vida, que assegura que este coração - a healthtech - bata com vigor e propósito.

Estendendo-se como veias, os canais de viabilidade e ética permeiam o corpo da tecnologia da saúde, distribuindo a vitalidade da integridade e sustentando o organismo em sua totalidade, certificando que cada aspecto da inovação seja nutrido com princípios éticos e autenticidade.

4. A inovação das healthtechs no jardim do vizinho: A justiça brasileira

O pólen que sai do seu jardim nutre o jardim do vizinho e vice-versa. O vento e as abelhas são condutores nesse processo rítmico da natureza. A justiça não serve apenas como o céu, servindo de manto e acalentando as noites de seu jardim, mas também funciona como o jardim vizinho. E assim como os jardins vizinhos, criam um ecossistema autossustentável e dinâmico, as healthtechs e a justiça entram nessa simbiose. O Supremo Tribunal Federal, em 2022, se posicionou, erguendo seu martelo e fazendo ecoar a voz que as healthtechs, na essência, são jardineiras do setor de saúde, desbravando caminhos para reembolsos dos planos de saúde, numa decisão que, em seu cerne, funde esperança e materialidade à essas entidades tecno-médicas.

CNJ - Conselho Nacional de Justiça, com um olhar estratégico sobre este jardim em crescimento, lançou, em 2021, sementes em forma de programa, visando nutrir as healthtechs com o néctar da orientação e o solo fértil da capacitação. Entretanto, nos campos da inovação, os espinhos da regulamentação se entrelaçam com a vitalidade das healthtechs, forjando um terreno que, apesar de fértil, é permeado por obstáculos e desafios. O ambiente regulatório, fragmentado e complexo, instaura uma névoa de incerteza, ofuscando o horizonte da evolução destas entidades.

E a segurança de dados? Ah! Um dilema que se tece entre o digital e o humano, uma rede onde informações pulsantes circulam, tornando-se presas fáceis para predadores cibernéticos, se não bem guardadas. Apesar dos espinhos, a justiça brasileira, com seu manto de equidade e escala, compreende e abraça o potencial pulsante das healthtechs, reconhecendo nelas as guardiãs de um futuro em que a saúde floresce em solo tecnológico. Deixe-nos, então, observar estes momentos jurisprudenciais, onde os ventos da justiça sopraram a favor das healthtechs:

  • 2022: O STF, a corte suprema, ecoando decibéis de progresso, reconhece healthtechs como semeadores legítimos no solo da saúde, garantindo-lhes direito ao reembolso por planos de saúde.
  • 2021: O CNJ, semeador de iniciativas, despeja suas sementes com um programa de apoio, objetivando forjar nas healthtechs raízes sólidas através de orientação e capacitação.
  • 2020: O STJ, guiando-se pela bússola da legalidade, decreta que healthtechs podem alçar voos na esfera da telemedicina, contanto que suas asas estejam alinhadas aos eixos da lei.

Estas decisões, marcos no jardim jurídico, simbolizam a positividade da justiça brasileira em relação às healthtechs, demonstrando um comprometimento com o florescer das inovações no terreno sagrado da saúde. E assim, o diálogo entre a inovação e a justiça se tece, na incessante busca por um futuro em que tecnologia e saúde coexistam em harmonia simbiótica.

5. Perspectivas e semeaduras para o futuro

Em meio ao complexo emaranhado de raízes, que simbolizam as intrincadas e diversas trilhas da medicina tecnológica, perscrutamos o futuro. Um futuro em que as healthtechs, não apenas florescem, mas moldam a paisagem da saúde no Brasil e no cenário global. Aqui, semeamos reflexões, provocando o germinar de novos conceitos e, consequentemente, novas trajetórias.

O campo legal, um solo ora fértil, ora árido, precisa ser nutrido para que as sementes da inovação floresçam em segurança. Nesse jardim, as healthtechs ainda desempenham um papel como uma nova planta recém-chegada (modificada geneticamente ou não) ou aquela orquídea que resolveu dar problema com outras plantas. A velocidade com que a tecnologia impacta os setores é assustador e a justiça, se quiser se manter fértil nesse jardim, precisará se adaptar, mantendo a solução de problemas ao qual é proposto e propiciando um cuidado integral e inclusivo. A implementação de políticas que reconhecem e incentivam as healthtechs é vital. A perspectiva de um futuro próspero envolve a revisão e criação de normativas, com olhares que se estendem desde a proteção de dados dos pacientes até a facilitação de trâmites para que inovações possam ser incorporadas ao sistema de saúde de maneira ágil, mas sempre eticamente embasada. A colheita esperada é uma regulamentação que não apenas protege, mas que alimenta e potencializa o crescimento de tecnologias na saúde, reconhecendo seu valor e garantindo um espaço no qual elas possam prosperar sem prejudicar o ecossistema existente.

À medida que o sol da tecnologia brilha sobre o campo da medicina, as sombras projetadas delineiam uma nova configuração na relação paciente-médico. As healthtechs são chamadas para serem pontes, conectando essas duas margens de uma forma jamais vista. Elas portam o dom de ampliar o acesso, mas também o desafio de manter a humanização na assistência. Pacientes, agora empoderados por ferramentas que lhes oferecem autonomia e informação, encontram médicos que precisam reconfigurar suas práticas. Surge, assim, uma medicina onde a tecnologia é a aliada, jamais o obstáculo, onde a relação paciente-médico é amplificada, nunca diminuída.

A viagem pelo horizonte das healthtechs é tanto um ato de exploração quanto de responsabilidade. Nossa bússola jurídica deve sempre apontar para o norte da ética, inclusão e equidade, garantindo que, ao cultivarmos o futuro, não percamos de vista a essência do que significa cuidar da saúde, que é, intransigentemente, cuidar de vidas. E a justiça tem seu papel ativo nesse cuidado.

Gilmara Nagurnhak

VIP Gilmara Nagurnhak

Gilmara Nagurnhak é advogada e fundadora do Escritório de Advocacia & Assessoria Empresarial Gilmara Nagurnhak, Mestranda e especialista em Direito Tributário, com formação pela PUCRS.

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