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O dilema das unidades de CVCs - Venture Capital Corporativo: Crescer rapidamente ou inovar de forma sustentável?

O investimento corporativo em startups cresce, mas a pressão por resultados rápidos pode comprometer a inovação a longo prazo. Estratégias equilibradas são essenciais.

quinta-feira, 27 de março de 2025

Atualizado em 31 de março de 2025 07:49

Nos últimos anos, o investimento corporativo em startups tem apresentado um crescimento significativo, consolidando o papel das unidades de CVCs - Venture Capital Corporativo como elementos chave no ecossistema global de inovação. Em 2024, mais de 2.300 empresas estavam ativamente engajadas no financiamento de startups, representando um aumento notável em relação à década anterior, quando esse número era cerca de um terço. Esse crescimento é impulsionado por uma série de fatores, como a necessidade de manter a competitividade em setores cada vez mais dinâmicos, a digitalização de processos, pressões regulatórias para a adoção de práticas inovadoras e sustentáveis, além dos desafios climáticos, sociais e econômicos que impactam as cadeias globais de valor - como, por exemplo, conflitos geopolíticos e a escassez crescente de recursos naturais.

Os investidores corporativos participaram de aproximadamente uma em cada seis rodadas de financiamento de startups, resultando em um aumento de 20% no volume total de capital investido, alcançando a marca de US$ 133 bilhões. Além disso, 2024 também registrou um crescimento de 69% no valor total de "exits" (saídas) de startups apoiadas por corporações, totalizando US$ 48,59 bilhões. Esses números indicam a maturação dos portfólios de CVCs e a maior liquidez no mercado secundário, aspectos cruciais para a sustentabilidade do modelo de venture capital corporativo.

Apesar dos avanços, uma pesquisa recente da GCV Keystone revela que, após dois anos de retração, muitas unidades de CVC estão reorientando seus investimentos para atender prioritariamente às necessidades estratégicas de curto prazo de suas empresas controladoras. Esse cenário levanta uma questão central: como equilibrar a necessidade de retorno financeiro imediato com a busca por inovação disruptiva e vantagens competitivas sustentáveis?

Embora os investimentos em inovação demandem tempo para gerar impactos significativos, as corporações frequentemente impõem pressão por resultados financeiros rápidos, especialmente em períodos de incerteza econômica, altas taxas de juros e expectativas dos acionistas. Essa dinâmica pode resultar em decisões de investimento mais conservadoras, favorecendo startups com retornos imediatos e limitando o apoio a tecnologias emergentes de maior risco - justamente aquelas com potencial disruptivo.

Para enfrentar esses desafios, é fundamental adotar uma governança sólida e um alinhamento estratégico entre os interesses de curto prazo das empresas controladoras e os objetivos de longo prazo das unidades de CVC. Algumas práticas essenciais incluem:

  1. Definição de diretrizes claras e mandatos bem estabelecidos: O investimento deve estar alinhado à estratégia da corporação, garantindo retorno sustentável e evitando desvios que possam comprometer o valor gerado.
  2. Criação de métricas de desempenho híbridas: Além dos KPIs financeiros tradicionais, é crucial avaliar o impacto estratégico dos investimentos, levando em consideração o desenvolvimento de novas capacidades tecnológicas e a colaboração entre startups e unidades de negócios. Em setores tecnológicos, é importante que os investidores compreendam os direitos de propriedade intelectual gerados e as formas de monetização.
  3. Gestão equilibrada do portfólio: A abordagem ideal deve incluir tanto investimentos de curto prazo, que gerem retorno rápido, quanto apostas estratégicas de longo prazo, garantindo flexibilidade e resiliência na gestão do portfólio.
  4. Autonomia operacional das CVCs: Um nível adequado de autonomia permite que as unidades de CVC sigam suas teses de investimento sem interferências excessivas das empresas controladoras, incentivando a inovação disruptiva.
  5. Fomento a parcerias público-privadas: Governos e órgãos reguladores podem desempenhar um papel essencial na criação de marcos regulatórios que impulsionem o ecossistema de inovação, como a ampliação de ambientes regulatórios experimentais ("Sandbox Regulatório"), conforme a LC 182/21 - marco legal das startups.
  6. Incentivos fiscais: A criação de incentivos para investimentos em operações de alto risco pode estimular contribuições mais ousadas por parte das CVCs, ampliando seu impacto no desenvolvimento tecnológico e no fortalecimento do setor.

Além disso, o crescimento do setor de CVCs exige uma abordagem colaborativa entre diversos stakeholders, como governos, instituições financeiras, universidades e hubs de inovação. Estabelecer ambientes cooperativos, onde startups e corporações possam interagir de forma sinérgica, contribui para um ecossistema de inovação mais robusto e dinâmico.

Assim, para evitar um viés excessivamente conservador e não perder oportunidades tecnológicas disruptivas, é crucial que as CVCs adotem estratégias sustentáveis e coerentes, superando a lógica de curto prazo. Empresas que souberem integrar suas unidades de CVC com suas estratégias de longo prazo estarão em uma posição privilegiada para capturar valor e se destacar no mercado global.

O Venture Capital Corporativo desempenha um papel fundamental na aceleração do desenvolvimento tecnológico e na criação de novas oportunidades de mercado. No entanto, seu sucesso depende de um planejamento estratégico estruturado e de um compromisso contínuo com a inovação. À medida que 2025 se aproxima, é essencial que as corporações enxerguem o CVC não apenas como uma ferramenta de investimento, mas como um pilar fundamental para sua evolução e liderança no futuro da inovação global.

Felipe de Araújo Monteiro

Felipe de Araújo Monteiro

Sócio do Kasznar Leonardos. Especialista em Direito Societário e mestrando em Direito Civil.

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