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O mundo jurídico-tecnológico

A tecnologia transformou a prática jurídica. Hoje, adaptar-se às inovações é essencial para atuar com eficiência e ética no cenário digital.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Atualizado em 4 de abril de 2025 09:06

Não é novidade que a tecnologia avançou sobre o direito - sobre a prática cotidiana - de tal maneira que está tão entranhada que, hoje, é quase impossível conceber uma atuação jurídica, seja de advogados, magistrados, servidores etc., sem o uso dos meios tecnológicos. Trata-se de uma evolução que alterou não apenas a forma de acessar e processar informações, mas também os paradigmas da própria prestação jurisdicional.

Para os mais antigos da área, eram comuns atividades hoje consideradas obsoletas. Um advogado ir ao fórum "fazer carga" do processo, ou seja, retirar os autos físicos para consulta e cópia em seu escritório. Era corriqueiro também que as petições deixassem um espaço entre o endereçamento e a qualificação das partes para despachos manuscritos pelos juízes. Enfim, são apenas dois de muitos exemplos do que o mundo jurídico vivenciou num passado não muito distante. O trabalho era demorado, artesanal, demandava deslocamentos e tinha uma dinâmica totalmente diferente da atual.

Aos poucos, o mundo jurídico se integrou à tecnologia. Mas uma coisa é certa: a evolução tecnológica não se prende nem se limita a um período de tempo específico para avançar, digamos, paulatinamente. Ela avança rapidamente.

Dois dados interessantes: em 1962, surgiu a ideia de uma rede que interligaria todos os computadores no mundo inteiro, mas só na década de 1990, ou quase trinta anos depois, é que surgiu a WWW (World Wide Web). Desde então, o ritmo de inovação tem sido exponencial, e os últimos dez anos destacam-se pela intensidade e abrangência das mudanças. Nesse período, o ritmo de avanço tecnológico se intensificou significativamente devido à convergência de várias tecnologias, como, por exemplo, a explosão da IA - Inteligência artificial, a automação e a computação em nuvem.

Hoje, com a ascensão dos sistemas judiciais eletrônicos, a realidade é outra. Advogados podem acessar os processos remotamente, protocolar petições pela internet e participar de audiências virtuais. O tempo antes consumido pelos deslocamentos e procedimentos burocráticos agora pode ser investido em outras demandas, otimizando a prática jurídica.

As inovações tecnológicas citadas, como a IA, a automação e a computação em nuvem, impactam diretamente a área jurídica. Ferramentas de IA, a partir da análise preditiva, auxiliam na tomada de decisões estratégicas ao revelar tendências com base em dados massificados. Já a automação permite a criação e elaboração de documentos ou petições com uma rapidez que antes era inimaginável, enquanto a computação em nuvem possibilita o armazenamento seguro e acessível de informações.

Embora diante de muitos avanços, a integração tecnológica ao mundo jurídico também enfrenta certos desafios, que podem ser exemplificados pela resistência de alguns profissionais às novas ferramentas ou pela dificuldade de acesso à infraestrutura digital.

Além disso, um ponto fundamental em toda essa conjuntura consiste em questões éticas e jurídicas que requerem tempo, cautela e estudos para que se encontre um limite razoável para a utilização dessas ferramentas, como ocorre com a IA.

Mas não só desafios. Há uma infinidade de oportunidades. As bancas de advocacia que mergulham em tecnologias de ponta despontam por sua eficiência e capacidade competitiva, ainda mais em um contexto em que a advocacia se tornou massificada. Os profissionais que se especializam, por outro lado, têm maiores chances de ascensão e reconhecimento. Já a prestação jurisdicional entregue pelo Estado, por meio dos tribunais, tende a se tornar mais célere e efetiva.

Enfim, há uma constante de transformação e inovação que cerca o mundo jurídico, impulsionada pela tecnologia. Cabe aos atores desse cenário utilizarem as ferramentas disponíveis de maneira ética e eficiente, sem ignorar que a tecnologia continuará a redefinir e reinventar a prática jurídica, criando novas formas de interação, resolução de conflitos e acesso à justiça. Para os profissionais da área, o aprendizado contínuo e a capacidade de adaptação já se tornaram elementos fundamentais para o sucesso em um cenário cada vez mais digital.

Carlos Roberto de Souza Junior

Carlos Roberto de Souza Junior

Sócio no Mascarenhas Barbosa Advogados.

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