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Advocacia não litigante e a saúde mental dos operadores do Direito

A prática jurídica, historicamente associada ao litígio, tem imposto aos operadores do Direito níveis alarmantes de estresse, ansiedade e esgotamento emocional.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Atualizado às 14:46

A prática jurídica, historicamente associada ao litígio, ao embate constante nos tribunais e à pressão por resultados rápidos e eficazes, tem imposto aos operadores do Direito níveis alarmantes de estresse, ansiedade e esgotamento emocional. Advogados (as), juízes (as), promotores (as) e demais profissionais da área convivem diariamente com prazos exaustivos, jornadas prolongadas, metas desumanas e conflitos intensos - uma combinação perigosa para a saúde mental.

Nesse cenário, a advocacia não litigante surge não apenas como uma alternativa profissional, mas como uma estratégia concreta de cuidado com a saúde mental e com a qualidade de vida dos operadores do Direito. Trata-se de um modelo que privilegia a atuação preventiva, consultiva, mediadora e conciliadora, afastando-se da lógica adversarial para buscar soluções mais colaborativas e sustentáveis para os conflitos.

O peso do litígio sobre a saúde mental

Diversos estudos já apontam a alta incidência de transtornos como ansiedade, depressão, burnout e até dependência química entre os profissionais do Direito. O ambiente litigioso, frequentemente tóxico e competitivo, favorece a manutenção de uma cultura de sobrecarga, perfeccionismo e indisponibilidade emocional - fatores que, somados, minam o bem-estar subjetivo e afetam não apenas a saúde individual, mas também a qualidade das relações profissionais e familiares.

Além disso, o sistema judicial brasileiro, sobrecarregado e moroso, acaba por contribuir com a frustração dos profissionais, que se veem impotentes diante de um modelo que pouco favorece a escuta, o diálogo e a efetividade das soluções jurídicas.

A advocacia não litigante como alternativa saudável

Ao focar em práticas como a mediação de conflitos, a arbitragem, a negociação assistida e a consultoria jurídica preventiva, a advocacia não litigante promove um exercício profissional menos agressivo, mais dialógico e com foco na construção de soluções pacíficas e personalizadas. Esse modelo reduz a tensão emocional, evita o desgaste das longas disputas judiciais e permite que o profissional atue com mais equilíbrio, propósito e qualidade de vida.

Além disso, a atuação não litigante favorece o desenvolvimento de competências socioemocionais, como a empatia, a escuta ativa, a comunicação não violenta e a inteligência emocional - habilidades fundamentais tanto para o exercício ético da advocacia quanto para a manutenção da saúde mental em ambientes de trabalho cada vez mais exigentes.

Um novo paradigma profissional

Repensar o modelo de atuação jurídica não é apenas uma questão de estilo profissional, mas uma demanda de saúde pública e bem-estar coletivo. A valorização da advocacia não litigante representa a chance de humanizar o Direito, resgatar o protagonismo do profissional como agente de paz social e, acima de tudo, preservar sua saúde física e emocional.

Adotar práticas mais colaborativas, buscar formação em métodos alternativos de resolução de conflitos e romper com a cultura da litigância compulsiva são passos importantes para que a advocacia se reconecte com sua dimensão ética e humana. É tempo de abrir espaço para um novo paradigma: o de uma advocacia que, ao invés de alimentar o conflito, constrói pontes, reduz sofrimentos e promove saúde - inclusive para quem a exerce.

Fátima Antunes

VIP Fátima Antunes

Psicóloga clinica especializada em profissionais da área jurídica. Coch de Vida e Carreira na área jurídica. Especialista em Gerenciamento do Stress. Autora do livro Estresse em Advogados.

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