Os advogados salvaram o mundo: Uma saga épica da justiça à IA
De Cícero a Mandela, advogados moldaram o mundo! Em 2025, Castro Neves desafia: Qual nosso papel na era da IA? Um livro vibrante que une história e futuro, inspirando todos a repensar a justiça!
segunda-feira, 14 de abril de 2025
Atualizado às 13:27
Quando abri Os Advogados Salvaram o Mundo, de José Roberto de Castro Neves, o título me acertou como um soco bem dado em uma audiência tensa. Advogado há alguns anos, acostumado a lidar com prazos apertados e clientes ansiosos, sei que nossa profissão oscila entre o aplauso e a desconfiança. Mas o livro, lançado em 2018 pela Nova Fronteira e já em sua terceira edição revisada em 2020, não é um simples autoelogio da classe. É uma jornada histórica que vai de Cícero a Mandela, passando por Rui Barbosa, mostrando como os advogados foram arquitetos da civilização. E, em pleno abril de 2025, enquanto o Brasil navega entre crises políticas e a ascensão da inteligência artificial, a obra me fez refletir: qual é o nosso papel hoje e como nos encaixamos num futuro dominado pela tecnologia?
José Roberto, um advogado de trincheira com doutorado pela UERJ e passagem por Cambridge, traça um panorama impressionante. Desde a Roma antiga, com Cícero enfrentando Catilina, até a escola de Bolonha no século XI, onde o Direito Romano foi "redescoberto", ele mostra como a advocacia moldou sistemas jurídicos e freou tiranias. Passa pelas revoluções Gloriosa, Americana e Francesa - todas lideradas por advogados como Coke, Jefferson e Robespierre - e chega ao Brasil, com figuras como Rui Barbosa defendendo a república e a liberdade. Na "Nota do Autor à Terceira Edição", ele provoca: "Os advogados lideraram os movimentos mais representativos contra a tirania e o arbítrio". E não dá para discordar: sem eles, a democracia, o devido processo legal e os direitos humanos não teriam a cara que têm hoje.
Mas o que me pegou de jeito, como advogado brasileiro em 2025, foi o capítulo "Os Advogados num Mundo Líquido". Inspirado em Zygmunt Bauman, José Roberto fala da fluidez dos tempos modernos e contrapõe o "advogado robô" ao "velho pelicano" - uma metáfora para o embate entre a tecnologia e a essência humana da profissão. Estamos vivendo isso agora. A inteligência artificial já redige petições, analisa contratos e prevê decisões judiciais com uma velocidade que deixa qualquer estagiário no chinelo. No STF, discute-se a regulamentação da IA no Judiciário; nos grandes escritórios de São Paulo e Rio, sistemas como o Watson da IBM e plataformas nacionais como o Astrea são rotina. Até o pequeno advogado de interior, com um smartphone e um software de gestão, ganhou superpoderes.
Então, como convivemos com essa tal de IA sem virar coadjuvante? O livro não dá a receita pronta, mas aponta o caminho. José Roberto cita Gustav Radbruch, jurista alemão, para lembrar que o Direito é mais que técnica - é justiça, é humanidade. A tecnologia é uma aliada, não a protagonista. Ela pode processar milhares de páginas de jurisprudência em segundos, mas não entende o choro de um cliente que perdeu tudo ou a tensão de uma mãe lutando pela guarda do filho. No Brasil de hoje, com desigualdades gritantes e um sistema Judiciário atolado, a IA pode agilizar o trivial - gestão de processos, pesquisa jurídica, cálculos - e nos liberar para o essencial: criar estratégias, negociar acordos, humanizar conflitos.
O advogado do futuro, vejo eu, será um artesão da justiça num mundo de máquinas. Não basta conhecer o CPC de cor; é preciso dominar ferramentas tecnológicas e, ao mesmo tempo, preservar o que nos diferencia. Na Revolução Francesa, Tronchet e Malesherbes defenderam Luís XVI com argumentos éticos e jurídicos, não com algoritmos. Hoje, enfrentamos causas complexas - privacidade digital, crimes cibernéticos, regulações de IA - que exigem essa mesma sensibilidade. O art. 133 da CF, que nos chama de "indispensáveis à administração da justiça", não está falando de bytes, mas de pessoas.
Para os advogados brasileiros, o recado é claro: invistam em tecnologia, mas não abram mão da alma. Cursos de legaltech já pipocam nas faculdades, e a OAB debate como incluir IA na ética profissional. Para quem não é advogado, o livro e este artigo mostram que nossa profissão não é só sobre togas e jargões. É sobre construir um Brasil mais justo - e, em 2025, isso significa usar a IA para ampliar o acesso à justiça, não para elitizá-la ainda mais. José Roberto termina com Atticus Finch, de O Sol é Para Todos, como símbolo do advogado ideal: ético, humano, corajoso. Que sejamos assim, com ou sem robôs. Porque, como ele escreve na introdução, "sem advogados, o mundo seria pior". E eu, que já vi o Direito mudar vidas, assino embaixo.