Como avaliar ativos judiciais com precisão e visão financeira
Avaliações eficazes exigem sensibilidade jurídica, modelagens financeiras robustas e uso inteligente da jurimetria, sempre com foco em transparência e sustentabilidade.
quinta-feira, 15 de maio de 2025
Atualizado às 10:22
O mercado de ativos judiciais vive um momento delicado. Após a enxurrada de notícias envolvendo operações com créditos judiciais e precatórios adquiridos pelo Banco Master, tornou-se ainda mais evidente a necessidade de entender, com profundidade, no que se está investindo. Em um cenário de juros elevados, cresce a busca por alternativas que ofereçam retornos superiores - o que é legítimo. No entanto, a pressa por ganhos expressivos pode abrir espaço para promessas irreais e, pior, para golpes.
É justamente nesse contexto que o papel da análise precisa e da correta precificação se torna decisivo. O ativo judicial não é uma ciência exata. Exige o cruzamento de múltiplas variáveis jurídicas e financeiras. A jurimetria, por exemplo, tem sido vendida como a solução mágica para entender esse universo - mas atenção: quando aplicada de forma simplista, com médias aritméticas que ignoram o desvio padrão e a complexidade do sistema judiciário brasileiro, ela mais ilude do que orienta. E isso tem levado muitos investidores a prejuízos claros.
O Direito no Brasil é tudo, menos linear: temos um ordenamento jurídico extenso, repleto de divergências interpretativas e falta de padronização entre tribunais. Por isso, confiar cegamente em ferramentas automatizadas que tratam todos os processos como iguais é um erro perigoso. Avaliar riscos em ativos judiciais exige mais: requer sensibilidade jurídica, conhecimento técnico, modelagens financeiras bem estruturadas e, acima de tudo, experiência no setor.
A avaliação correta de um crédito judicial envolve entender o perfil do devedor, o tipo da ação, os prazos médios de tramitação em diferentes cortes e os históricos de julgamento de cada jurisdição. Não basta aplicar uma taxa de desconto genérica: é necessário traduzir riscos jurídicos reais em lógica financeira, de forma personalizada e criteriosa.
É aí que a jurimetria deve ser usada com inteligência - não como um fim, mas como uma ferramenta auxiliar. Quando bem aplicada, ela permite identificar padrões, antecipar cenários com maior segurança e enriquecer a análise com dados relevantes. Isso oferece aos investidores uma base sólida para a tomada de decisão, com menos achismo e mais fundamento.
Outro fator crítico nesse mercado é o tempo. A máxima "tempo é dinheiro" nunca fez tanto sentido. A previsibilidade de quando um crédito será efetivamente recebido impacta diretamente a rentabilidade da operação. Por isso, estimar prazos com precisão é tão importante quanto definir o valor nominal do ativo. E esse cálculo exige leitura qualificada, experiência prática e domínio técnico - caso contrário, as expectativas podem se distorcer e comprometer toda a estratégia.
É fundamental também tomar cuidado com as chamadas "teses bilionárias", que prometem retornos altíssimos baseados em disputas com risco binário - ou seja, tudo ou nada. Quando grandes promessas de rendimento vêm acompanhadas de pouca clareza sobre a estrutura do ativo e do risco envolvido, a recomendação é simples: fuja. Prefira gestores com histórico comprovado, que já demonstraram capacidade de retorno ao investidor - inclusive com liquidações realizadas e capital devolvido. O que não falta hoje no Brasil são fundos robustos que nunca devolveram um centavo, por terem apostado em ativos judiciais complexos, travados há décadas no sistema.
Empresas que unem gestão de risco jurídico com inteligência financeira ganham uma vantagem competitiva robusta. Elas não apenas identificam boas oportunidades, como estruturam operações com segurança, transparência e visão de longo prazo - algo que investidores mais exigentes valorizam profundamente.
No fim das contas, investir em ativos judiciais é sobre método. É sobre transformar decisões jurídicas em valor financeiro com estratégia, não com apostas. Quando o risco é bem calculado, o retorno é uma consequência natural. É nesse ponto que o mercado deixa de ser apenas promissor e se torna verdadeiramente rentável - e sustentável.


