MIGALHAS DE PESO

  1. Home >
  2. De Peso >
  3. Compliance e NR-1: O fim da segurança no trabalho de aparência

Compliance e NR-1: O fim da segurança no trabalho de aparência

A convergência entre compliance e a NR-1 sinaliza o declínio da segurança meramente formal, inaugurando um modelo pautado na ética, na eficácia e na responsabilidade empresarial.

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Atualizado às 05:08

A saúde do trabalhador brasileiro está entrando em uma nova era. Com a atualização da NR-1 - Norma Regulamentadora 1, que passou a vigorar com a substituição do antigo PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais pelo PGR - Programa de Gerenciamento de Riscos, o país dá um passo importante rumo a uma cultura mais madura de prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.

Durante anos, programas de segurança no trabalho foram tratados por muitas empresas como mera formalidade. Os documentos eram elaborados por obrigação, com diagnósticos genéricos e pouca efetividade prática. O resultado dessa negligência é conhecido: altos índices de acidentes, afastamentos e adoecimentos relacionados ao trabalho.

Dados exclusivos do Ministério da Previdência Social revelam que em 2024, foram quase meio milhão de afastamentos do trabalho por transtornos mentais, o maior número em pelo menos dez anos.

Nesse sentido, a mudança advinda da NR-1, porém, não se resume a uma atualização técnica: ela exige das empresas um novo comportamento, mais comprometido, transparente e alinhado ao conceito de compliance.

A nova NR-1 busca reverter esse cenário ao exigir uma gestão ativa dos riscos, com planejamento, monitoramento contínuo e medidas efetivas de controle. E é justamente aí que entra o papel estratégico do compliance.

Compliance, nesse contexto, não é apenas estar em dia com a legislação. É transformar obrigações legais em ações concretas, com governança, treinamento e rastreabilidade. É garantir que a saúde e a segurança dos trabalhadores deixem de ser tratadas como um custo ou um anexo burocrático e passem a integrar o núcleo da gestão empresarial. Mais do que prevenir multas e autuações, o compliance protege vidas, melhora o ambiente de trabalho e fortalece a reputação da organização.

A nova norma também traz inovações importantes, como a possibilidade de realizar treinamentos à distância, desde que com controle de qualidade e efetividade. Essa flexibilização amplia o acesso à capacitação, mas também exige maior responsabilidade por parte das empresas quanto à formação de seus profissionais.

Apesar do avanço, o grande desafio continua sendo cultural. Ainda há resistência por parte de empresários que veem a saúde ocupacional como gasto e não como investimento. Essa visão limitada precisa ser superada. Os custos de um acidente de trabalho - sejam eles financeiros, jurídicos ou humanos - são infinitamente maiores do que os investimentos em prevenção e conformidade.

Portanto, a atualização da NR-1 deve ser compreendida como uma oportunidade. Empresas que se adiantarem e internalizarem uma cultura de compliance voltada à saúde do trabalhador estarão mais preparadas para lidar com riscos, reduzir passivos e construir ambientes produtivos e éticos. Ignorar essa realidade é, cada vez mais, uma aposta arriscada - e socialmente insustentável.

Evoneide Beserra da Silva

VIP Evoneide Beserra da Silva

Advogada e especialista em Direito do Trabalho e Previdenciário. Cursa MBA em Gestão do Direito nas empresas com foco em prevenção de riscos e compliance nas relações empresariais.

AUTORES MIGALHAS

Busque pelo nome ou parte do nome do autor para encontrar publicações no Portal Migalhas.

Busca