O humor no banco dos réus: Os casos Larry Flynt e Léo Lins
Liberdade de expressão e humor: O caso Léo Lins expõe o contraste entre EUA e Brasil no limite entre sátira, ofensa e discurso de ódio.
terça-feira, 24 de junho de 2025
Atualizado em 23 de junho de 2025 14:47
Em 2022, escrevi sobre a liberdade de expressão e a paródia no cinema, analisando o filme O Povo Contra Larry Flynt, baseado em fatos reais. O caso envolvia uma sátira publicada pela revista Hustler, de Larry Flynt, com uma entrevista fictícia e ofensiva ao pastor Jerry Falwell. A Suprema Corte dos EUA decidiu que, mesmo sendo de mau gosto, a paródia era protegida pela Primeira Emenda. Para a corte americana, figuras públicas não podem ser indenizadas por sátiras ou críticas, pois o humor é uma forma legítima de expressão.
Lembrei desse episódio ao acompanhar a condenação criminal do humorista Léo Lins, sentenciado a mais de 8 anos de prisão por piadas consideradas discriminatórias. Embora controverso e frequentemente ofensivo, Léo Lins se defende com base na liberdade artística e no humor como crítica social. Em seu show, fez piadas sobre nordestinos, pessoas com deficiência, negros, judeus, autistas, entre outros. A Justiça Federal brasileira entendeu que suas falas ultrapassaram os limites da liberdade de expressão e configuraram discurso de ódio.
A comparação entre os dois casos evidencia um abismo entre os sistemas jurídicos dos EUA e do Brasil no tratamento do humor. Enquanto a Suprema Corte americana protege até discursos dolorosos para garantir o debate público, o Judiciário brasileiro tem atuado como mediador do que é engraçado e do que é ofensivo. Aqui, a liberdade de expressão pode ser relativizada diante de outros direitos, como a dignidade e a não discriminação.
Como cidadão, identifico-me mais com a visão americana. Acredito que o Judiciário não deve julgar o conteúdo do humor. Piadas de mau gosto continuam sendo piadas. Como afirmou a Suprema Corte dos EUA no caso Snyder v. Phelps (2010): "Não podemos reagir à dor punindo o orador. Protegemos até discursos dolorosos para garantir que o debate público não seja sufocado."
Luciano Andrade Pinheiro
Advogado. Graduado pela Universidade Federal da Bahia. Professor de Direito Autoral. Autor de artigos jurídicos. Palestrante. Perito judicial em propriedade intelectual. Foi assessor de técnica legislativa na Câmara dos Deputados, diretor adjunto da Escola Superior da Advocacia da OAB/DF e vice-presidente da Caixa de Assistência dos Advogados do Brasil/DF.



