Esportes de aventura: Qual o verdadeiro valor do termo de consentimento do perigo?
Descubra até onde vai a responsabilidade das empresas nos esportes de aventura, mesmo com o risco assumido pelo praticante, e saiba quando existe direito à indenização.
sexta-feira, 27 de junho de 2025
Atualizado às 08:45
1. O boom dos esportes radicais e os novos desafios do Direito
O surgimento e crescimento do turismo de aventura têm atraído cada vez mais brasileiros para experiências como balonismo, trilhas em locais remotos, paraquedismo, escalada, rafting, mergulho e voo livre. Esse movimento não só impulsionou o mercado de turismo, mas também trouxe uma nova preocupação jurídica: a responsabilidade civil dos prestadores de serviço diante do risco assumido pelo consumidor.
No universo dos esportes radicais, acidentes acontecem. Mas, afinal, até onde vai a responsabilidade das empresas e instrutores? E o consumidor, ao assinar um termo de consentimento, abdica realmente do direito à indenização? Neste artigo, vamos mergulhar a fundo nessas questões, trazendo o que diz a legislação, exemplos práticos e orientações valiosas para quem busca uma atuação responsável e segura no setor.
2. Assunção voluntária do risco: Limites jurídicos do consentimento
É comum que empresas exijam do aventureiro a assinatura de termos de consentimento - que, em teoria, reconhecem os riscos e afastam a responsabilidade da empresa. Mas, do ponto de vista jurídico, será que esse termo tem o poder de isentar a empresa de toda e qualquer culpa?
O que diz a lei
Segundo o art. 14 do CDC:
- "O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos."
O art. 6º, inciso III, do CDC também dispõe:
- "São direitos básicos do consumidor: - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentam."
Ou seja, mesmo diante da assunção voluntária do risco, a empresa deve agir, no mínimo, de acordo com a diligência exigida, proporcionando as condições mais seguras possíveis e comunicando claramente os perigos envolvidos. Se houver omissão, falha operacional ou negligência, surge a obrigação de reparar o dano.
3. Teoria do risco e responsabilidade objetiva: Ganho e dever andam juntos
O CDC e o CC consagram a chamada teoria do risco do empreendimento, que determina: Quem aufere lucros com uma atividade, assume os riscos inerentes a ela e deve responder pelos danos causados.
O art. 927, parágrafo único do CC reforça:
- "Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem."
Portanto, ainda que o consumidor saiba dos riscos de pular de paraquedas, escalar montanhas ou participar de uma trilha de alta periculosidade, a responsabilidade da empresa permanece caso exista qualquer falha na prestação do serviço.
4. Excludentes de responsabilidade: Em que situações a empresa se isenta de indenizar?
Mesmo existindo a responsabilidade objetiva, há exceções claras previstas na legislação. O próprio art. 14, §3º do CDC elenca as excludentes:
- "O fornecedor só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro."
É importante entender que assumir o risco não é o mesmo que agir com imprudência ou ser o único culpado pelo acidente. Para que a empresa seja isenta, é necessário comprovar que o dano foi causado exclusivamente por atuação do consumidor em franca desobediência às orientações dadas, ou por culpa integral de terceiros - como, por exemplo, um animal que invade uma trilha e provoca um acidente, mesmo com todos os protocolos seguidos.
5. Prevenção, transparência e responsabilidade: Com o que o empresário deve ficar atento?
Para as empresas, é fundamental investir em treinamentos constantes, equipamentos de última geração, planos de emergência e informações claras e acessíveis. Também é imprescindível que as equipes estejam preparadas para lidar com imprevistos e prestem o devido suporte em caso de incidentes.
Assinar um termo de consentimento, por si só, não resguarda a empresa de responder por acidentes nos esportes de aventura. A legislação e a jurisprudência reforçam que é obrigação do prestador adotar um conjunto de medidas preventivas e de contenção de danos. Veja o que é indispensável:
- Treinamento prévio aos clientes: Explicações teóricas e práticas sobre como proceder em situações de emergência;
- Plano de evacuação: Estruturação de rotas de fuga e retirada rápida em caso de acidentes;
- Presença de brigadista e socorrista: Ao menos um profissional treinado em resgate e primeiros socorros por expedição;
- Equipamentos em perfeito estado: Inspeção e manutenção constantes de todos os itens utilizados (botes, coletes, capacetes, cordas, etc.);
- Kit de primeiros socorros completo: Disponível e de fácil acesso;
- Seguro obrigatório para participantes: Cobertura em casos de acidentes;
- Comunicação eficiente: Rádio, telefone satelital ou outro sistema para contato rápido com resgates/emergências;
- Avaliação do perfil do cliente: Coletar informações de saúde, experiência e condição física;
- Monitoramento contínuo: Supervisão por profissionais durante toda a atividade;
- Assinatura do termo de consentimento: Sim, mas com clareza e linguagem acessível.
Essas obrigações são INDISPENSÁVEIS. Caso alguma delas falhe e resulte em dano, há presunção de defeito na prestação do serviço.
A atuação preventiva é, sem dúvida, a maior aliada dos dois lados, evitando litígios e promovendo experiências mais seguras e satisfatórias.
6. Conclusão: Esporte radical não é território sem lei
Nos esportes de aventura, o risco faz parte do jogo - mas não elimina o dever de cautela das empresas. O termo de consentimento é somente UM dos mecanismos exigidos. O consumidor pode até assumir o risco, mas jamais poderá ser totalmente responsabilizado por falhas que cabiam ao prestador evitar.
A experiência mostra que empresas que informam, treinam, equipam e monitoram seus clientes não apenas evitam tragédias, como também se resguardam judicialmente.
A jurisprudência é clara: sempre que houver falha na prestação do serviço, o fornecedor responde objetivamente, mesmo diante do risco assumido.
7. Você já passou por isso?
Os esportes de aventura trazem desafios e emoções, mas também podem gerar dúvidas e conflitos em caso de acidentes. Você já se deparou com uma situação semelhante? Já teve dúvidas sobre quem é o responsável em caso de falha nos equipamentos ou omissão de segurança?
Compartilhe esta notícia com algum fã de esportes que você conheça!


