Evite multas e embargos com defesa ambiental técnica
Este artigo explica como funciona o processo administrativo ambiental, os erros mais comuns na defesa e como um assessoramento especializado pode evitar multas, embargos e outras penalidades severas.
domingo, 29 de junho de 2025
Atualizado em 27 de junho de 2025 14:18
O avanço da fiscalização e a necessidade de resposta técnica
Com a intensificação da fiscalização ambiental no Brasil, cresce o número de produtores rurais, empresas e empreendimentos autuados por infrações à legislação ambiental. Em muitos casos, essas autuações são emitidas automaticamente com base em dados remotos, como imagens de satélite, sem considerar a realidade operacional da propriedade.
Essa tendência tem gerado insegurança jurídica e penalidades indevidas, exigindo uma resposta técnica e jurídica qualificada desde o início do processo. A atuação defensiva, quando bem estruturada, pode resultar na anulação de autos de infração, na mitigação de penalidades e na manutenção da regularidade da atividade produtiva.
O que é um processo administrativo ambiental?
O processo administrativo ambiental é um procedimento formal instaurado pelo Poder Público para apurar eventuais infrações à legislação ambiental vigente. Geralmente, inicia-se com a lavratura de um auto de infração por agente fiscal ou com base em monitoramento remoto ou denúncias.
Tem como finalidade a responsabilização administrativa do infrator, conforme previsto na lei 9.605/1998 (lei de crimes ambientais) e no decreto 6.514/08, podendo acarretar multas, embargos, interdições e outras sanções.
Quais órgãos podem aplicar sanções?
O processo pode ser instaurado por diversos entes da Administração Pública ambiental:
- IBAMA (nível Federal);
- Secretarias estaduais de meio ambiente (como SEMAD, SEMA, CETESB);
- Órgãos e secretarias municipais com competência ambiental;
- Autarquias e agências reguladoras específicas.
Cada um possui regimentos próprios, mas todos estão submetidos aos princípios constitucionais do contraditório, ampla defesa, legalidade e devido processo legal.
Motivos mais comuns de autuação
As principais infrações que levam à instauração de processos administrativos incluem:
- Desmatamento ou supressão de vegetação nativa sem autorização;
- Queima de vegetação fora dos critérios legais;
- Instalação ou operação de empreendimento sem licença ambiental válida;
- Poluição de recursos naturais acima dos limites legais permitidos;
- Descumprimento de condicionantes impostas em licenças ambientais;
- Intervenções não autorizadas em APPs - Áreas de Preservação Permanente ou em unidades de conservação.
Etapas de um processo administrativo ambiental
- Lavratura do auto de infração: Documento inicial que registra a infração alegada, identificando o suposto infrator e a base legal da penalidade.
- Notificação para apresentação de defesa: O autuado é intimado para apresentar defesa prévia em prazo que pode variar entre 10 e 20 dias úteis, conforme o órgão responsável.
- Julgamento em primeira instância: O setor jurídico do órgão ambiental analisa a defesa e emite decisão fundamentada.
- Aplicação da penalidade: Caso a defesa não seja acolhida, é aplicada a sanção administrativa cabível, com definição de prazos para cumprimento.
- Recurso administrativo: O autuado pode recorrer à instância superior dentro do próprio órgão, apresentando argumentos adicionais.
- Encerramento ou inscrição em dívida ativa: Se não houver pagamento ou reversão da penalidade, a multa pode ser inscrita em dívida ativa, gerando cobrança judicial.
Sanções possíveis em casos de condenação
- Multas simples, diárias ou cumulativas (variando de R$ 1.000 a R$ 50.000.000, conforme a infração e seu impacto);
- Embargos de áreas, obras ou empreendimentos;
- Suspensão ou cancelamento de licenças ambientais;
- Interdição temporária ou definitiva das atividades;
- Confisco de bens e equipamentos utilizados na infração.
Como apresentar uma defesa técnica eficiente
A resposta à autuação deve ir além da contestação genérica. Uma defesa consistente exige:
- Análise técnica do auto de infração: Verificação de sua legalidade formal, motivação e adequação da sanção à conduta;
- Documentação de suporte: Licenças, mapas, registros fotográficos, laudos técnicos e declarações que comprovem a legalidade da atividade;
- Contestação fundamentada: Indicação de erros de interpretação técnica ou jurídica por parte da fiscalização;
- Provas técnicas especializadas: Pareceres ambientais, estudos de georreferenciamento, perícias ou análises laboratoriais;
- Demonstração de boa-fé: Especialmente nos casos em que não houve dolo ou em que a infração não causou dano relevante.
Erros comuns que devem ser evitados
- Perder prazos processuais: Omissão quanto às notificações ou falta de resposta dentro dos prazos pode resultar em sanções automáticas;
- Apresentar defesa genérica: Defesas sem base técnica são facilmente rejeitadas;
- Confiar exclusivamente na fase recursal: O recurso deve ser complementar, não a primeira resposta séria ao auto;
- Ignorar as obrigações acessórias: Algumas sanções podem ser mitigadas com medidas compensatórias ou ajustamentos, que devem ser solicitados tempestivamente.
E se a penalidade for mantida?
Caso o processo administrativo se encerre com a manutenção da penalidade, ainda é possível:
- Propor ação judicial para anular ou revisar o auto de infração, especialmente em casos com vício de forma, ausência de dano ou desproporcionalidade da sanção;
- Solicitar parcelamento da multa com base em resoluções do órgão competente;
- Converter a multa em prestação de serviços ambientais, quando previsto;
- Acompanhar a execução fiscal para evitar bloqueios ou penhora de bens, caso a multa não seja paga.
Conclusão
Processos administrativos ambientais devem ser enfrentados com seriedade, estratégia e apoio técnico-jurídico desde o início. A forma como se responde à autuação pode definir se a penalidade será revertida, reduzida ou aplicada integralmente.
A defesa bem construída, com base em argumentos legais, documentos e provas técnicas, é o caminho mais seguro para preservar os direitos do autuado e garantir a continuidade das atividades econômicas com respaldo jurídico.



