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Vício em jogos (ludopatia) e o direito à saúde

Quando jogar deixa de ser entretenimento e vira uma doença.

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Atualizado às 11:29

O que é ludopatia e por que ela preocupa tanto?

A ludopatia, também conhecida como vício em jogos, é uma doença mental reconhecida pela OMS - Organização Mundial da Saúde. Ela não é apenas uma "mania de jogo" ou um hobby fora de controle - trata-se de um transtorno sério, com impactos devastadores na saúde emocional, financeira e social da pessoa.

Com o crescimento das plataformas de apostas online e jogos de azar acessíveis 24 horas por dia, milhares de pessoas estão adoecendo em silêncio, muitas vezes sem nem perceber que precisam de tratamento - e que têm direitos!

Ludopatia é problema de saúde? Sim, e pode ser judicializado

Pouca gente sabe, mas a ludopatia é classificada pelo CID-10 como F63.0, um distúrbio que compromete a capacidade de tomar decisões com discernimento. Em outras palavras: o viciado em jogos perde o controle sobre suas ações, entra em ciclos de endividamento, mentira e isolamento - e isso pode e deve ser tratado como um problema de saúde pública.

E o mais importante: quem sofre com essa doença tem direitos garantidos por lei, inclusive o direito ao tratamento custeado pelo SUS ou por planos de saúde.

Sintomas comuns do vício em jogos

  • Aposta para aliviar ansiedade ou frustração;
  • Mentiras para esconder o vício;
  • Endividamento para continuar jogando;
  • Crises de abstinência ao tentar parar;
  • Prejuízo no trabalho, nos estudos ou nas relações pessoais.

Esses sinais devem ser levados a sério. A pessoa não está no controle da situação - ela precisa de apoio médico, psicológico e, muitas vezes, jurídico.

O que o Direito da Saúde tem a ver com isso?

O Direito da Saúde existe para garantir o acesso ao tratamento adequado, independentemente da condição financeira do paciente.

Se a ludopatia estiver comprovada por relatório médico (como de um psiquiatra), e o tratamento for indicado (seja internação, psicoterapia, ou uso de medicamentos), o plano de saúde ou o Estado tem a obrigação de custear.

Quando é possível acionar a Justiça?

  • Quando o plano de saúde nega cobertura para o tratamento da ludopatia;
  • Quando o paciente precisa de medicação controlada e o SUS não fornece;
  • Quando há necessidade de internação psiquiátrica, mas não há vagas ou a cobertura é recusada.

Nesses casos, um advogado especializado pode ajuizar uma ação com pedido de liminar, garantindo o início imediato do tratamento.

E se o vício gerou dívidas ou apostas abusivas?

O Direito da Saúde pode se complementar com outras áreas, como o Direito Civil e o Direito Bancário. Isso porque, em casos de ludopatia comprovada:

  • É possível anular dívidas feitas sob impulso do transtorno;
  • É possível pedir reembolso de valores apostados em plataformas que não cumpriram medidas de proteção ao jogador;
  • É possível incluir o paciente em programas de repactuação de dívidas, com base na lei do superendividamento (lei 14.181/21).

Tudo depende de provar, com documentos e laudos, que o jogador agiu em um estado de compulsão, sem discernimento. Essa é uma das maiores batalhas jurídicas envolvendo ludopatia atualmente.

Como funciona na prática? O que é necessário para entrar com ação?

  • Laudo médico ou psicológico com diagnóstico de ludopatia (CID F63.0);
  • Relatório com histórico de comportamento compulsivo;
  • Comprovantes financeiros, como extratos bancários, faturas de cartão e comprovantes de apostas;
  • Testemunhos de familiares e pessoas próximas que atestem o comportamento do paciente;
  • Cópias de negativas de atendimento por parte do SUS ou plano de saúde, se houver.

Com esses documentos, é possível construir um processo robusto e solicitar a intervenção do Judiciário para garantir tratamento e reparação de danos.

Conclusão: Jogar pode ser um lazer - mas vício é doença e precisa de cuidado

A ludopatia não é frescura, não é falta de força de vontade. É um transtorno grave, com impactos reais na vida de quem sofre e de toda a família. E como tal, precisa ser tratado com seriedade pela saúde e pelo direito.

Se você ou alguém próximo enfrenta esse problema, não hesite em buscar ajuda jurídica especializada. O Direito da Saúde existe para proteger e garantir tratamento digno a quem precisa.

Fabrício Nemetala Guimarães

VIP Fabrício Nemetala Guimarães

No mundo jurídico desde 2007, atuando na área de saúde, com especialidade em quebra de carência de plano de saúde, negativa de tratamento, medicamentos, cirurgia entre outras matérias voltadas à saúde

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