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A importância da organização societária

Frente ao risco de responsabilização pessoal do empresário.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Atualizado às 12:13

A organização societária não é apenas uma formalidade legal, mas uma estratégia essencial de proteção patrimonial para o empresário. Em tempos de crescente judicialização das relações comerciais, é cada vez mais comum que o patrimônio pessoal dos sócios seja atingido por dívidas da empresa, sobretudo diante de falhas administrativas e confusão patrimonial. A desconsideração da personalidade jurídica, nesse contexto, deixou de ser uma exceção e passou a ser uma realidade frequente, especialmente quando a empresa não mantém uma gestão diligente e transparente.

A desconsideração da personalidade jurídica é um tema que tem ganhado cada vez mais espaço nos tribunais e, por isso, merece a atenção de todos os empresários. Muitas vezes, ao constituir uma empresa, o empreendedor acredita que seu patrimônio pessoal estará automaticamente protegido das dívidas e obrigações assumidas pela pessoa jurídica. Contudo, essa blindagem patrimonial não é absoluta: ela depende da adoção de condutas diligentes, organização societária consistente e respeito aos princípios legais que regem a atividade empresarial.

O que tenho observado com frequência crescente na prática forense é que os credores estão cada vez mais capacitados e estratégicos na busca por satisfação de seus créditos. O uso do IDPJ - incidente de desconsideração da personalidade jurídica, previsto no CPC, tem sido um dos instrumentos mais utilizados nesse contexto. E, em muitos casos, os pedidos são acolhidos não necessariamente por fraudes evidentes, mas por situações de confusão patrimonial, ausência de registros contábeis fidedignos ou encerramento irregular das atividades da empresa. Em outras palavras, pequenos descuidos administrativos podem expor o patrimônio pessoal do empresário.

Além disso, um fator que merece especial atenção é a sucessão empresarial. Não raras vezes, empresas encerram formalmente suas atividades e reabrem com outro nome, mesmo quadro societário e na mesma localidade. Os tribunais vêm reconhecendo essa prática como uma forma de fraude contra credores e, por isso, têm admitido a desconsideração da personalidade jurídica com base na sucessão empresarial. Essa tendência jurisprudencial demonstra que a tentativa de "reinício" por meio de outra pessoa jurídica não exime os sócios das obrigações assumidas anteriormente.

Diante desse cenário, o empresário precisa se antecipar aos riscos. Uma estratégia eficaz para proteger o patrimônio pessoal é manter uma separação rigorosa entre o que é da empresa e o que é pessoal. Isso inclui não misturar contas bancárias, manter a contabilidade em dia, registrar formalmente todas as deliberações societárias, e não utilizar a empresa para fins particulares. Outras medidas relevantes incluem a constituição de uma holding patrimonial, a criação de cláusulas de responsabilidade limitada em contratos sociais e a adoção de práticas de governança corporativa.

É nesse contexto que a assessoria jurídica preventiva se torna fundamental. Não se trata apenas de um suporte para "apagar incêndios", mas de uma ferramenta de planejamento estratégico que pode garantir a sobrevivência do negócio e a segurança do empresário. O advogado pode identificar pontos de vulnerabilidade, propor soluções legais e acompanhar a implementação de boas práticas administrativas. Essa atuação proativa faz toda a diferença em um ambiente de negócios cada vez mais competitivo e judicializado.

Por fim, é importante refletir sobre os efeitos práticos da desconsideração da personalidade jurídica: o patrimônio pessoal dos sócios pode ser bloqueado via sistemas como o SISBAJUD, penhorado e leiloado para pagamento de dívidas da empresa. Isso compromete não apenas a saúde financeira do empresário, mas também sua reputação e estabilidade familiar. Evitar esse tipo de consequência depende de uma postura consciente, responsável e tecnicamente orientada.

Assim, a desconsideração da personalidade jurídica deixou de ser uma hipótese excepcional e passou a ser uma realidade que ronda qualquer empresário desatento. A boa notícia é que, com informação, planejamento e organização, é perfeitamente possível exercer a atividade empresarial de forma segura e responsável.

Diante da crescente utilização da desconsideração da personalidade jurídica no cenário jurídico brasileiro, é fundamental que o empresário compreenda que a proteção do patrimônio pessoal não é automática, mas construída diariamente por meio de boas práticas empresariais, transparência e organização.

O ambiente de negócios exige não apenas visão estratégica e capacidade de inovação, mas também atenção rigorosa aos aspectos legais e formais da gestão empresarial. Ignorar esses pontos pode abrir caminho para a responsabilização pessoal e comprometer o esforço de uma vida.

Portanto, mais do que temer a desconsideração da personalidade jurídica, é necessário conhecê-la, entendê-la e preveni-la. O empresário que atua de forma diligente, com apoio técnico qualificado e estrutura jurídica sólida, não apenas evita surpresas desagradáveis, como também fortalece sua empresa e assegura longevidade ao seu empreendimento.

Alonso Santos Alvares

VIP Alonso Santos Alvares

O advogado é sócio da Alvares Advogados, escritório de advocacia especializado nas mais diversas frentes do Direito Empresarial, Civil, Trabalhista e Tributário.

Roberta Maiuri da Silva

Roberta Maiuri da Silva

Advogada especialista em Direito de Família, Sucessões e Contencioso Cível, e integrante do núcleo cível da Alvares Advogados, escritório de advocacia especializado nas mais diversas frentes do Direito Empresarial, Cível, Trabalhista e Tributário.

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