Causas e consequências da tarifa de 25% impostas sobre os produtos japoneses e de 50% sobre os produtos brasileiros
Trump impõe tarifas de 25% ao Japão e 50% ao Brasil. Medidas visam proteger a economia dos EUA, mas geram impactos comerciais, diplomáticos e jurídicos.
terça-feira, 5 de agosto de 2025
Atualizado em 4 de agosto de 2025 13:58
No último dia 7 de julho o presidente americano, Donald Trump, impôs uma tarifa de 25% para os produtos japoneses, com vigência a partir de 1º de agosto de 2025.
Esse surpreendente tarifaço nada tem em comum com o tarifaço de 50% imposto a produtos brasileiros que se trata claramente de uma sanção político-ideológica. Daí porque inútil buscar uma justificativa no campo econômico, como veremos mais adiante.
Examinemos, em rápidas pinceladas, as causas desse tarifaço de 25% imposto sem prévio aviso, para vigorar a partir de 1º de agosto de 2025.
Causas
a) desequilíbrio enorme na balança comercial.
Donald Trump acusa o Japão de ter acumulado um superávit de cerca de US$ 69 bilhões em 2024 considerado injusto para os Estados Unidos.
b) necessidade de proteger a indústria automobilística americana.
Trump pretende revitalizar a fabricação doméstica e proteger os empregos nos EUA e financiar cortes de impostos.
c) relativa insatisfação nas negociações comerciais
O presidente norte-americano sustenta que as negociações com o Japão e Coreia do Sul, desde o tarifaço de 26 de março de 2025, não avançaram satisfatoriamente. Daí a nova pressão tarifária.
Consequências:
No Japão
a) Com a tarifação de 20% em março de 2025 as exportações de carros para os EUA despencaram quase 25% em maio de 2025, causando um déficit comercial japonês da ordem de US$ 4,4 bilhões.
b) As montadoras (Toyota, Honda, Nissan, Subaru) estimam perdas de em torno de US$ 27,6 bilhões ao ano:
c) Impacto profundo na cadeia produtiva
Fornecedores de autopeças sofrem com a queda na demanda, e executivos japoneses classificam a situação como "crise nacional".
d) Trump não aceita acordo que dispensa ou reduza a tarifa, mediante concessões em agricultura ou energia, e ameaça elevar a tarifa para 35%. É uma postura intransigente que poderá romper a tradicional aliança com o maior parceiro dos EUA
Consequências nos EUA
a) aumento de preços para consumidores americanos.
Um automóvel importado do Japão pode ficar entre US$ 5.000 a US$ 10.000 mais caro. Seguros e peças subirão igualmente.
b) queda nos mercados financeiros.
Após o anúncio do tarifaço, o S&P500, Nasdaq e Dow caíram cerca de 0,8%.
c) risco de recessão econômica
Economistas e líderes democratas, como Chuck Schumer, alertam que as tarifas "preparam o terreno para uma recessão nacional" e pincelam a economia com uma "crise".
Repercussões geopolíticas
a) Parceria EUA - Japão sob tensão.
Esse tarifaço de 25% ameaça a aliança estratégica bilateral, exacerbando tensões no momento em que o Japão enfrenta eleições internas.
b) Realinhamento global.
Pressionado, o Japão avalia fortalecer parcerias comerciais com outros países.
A China, por sua vez, pode se beneficiar dessa nova abertura.
c) Desafios jurídicos internacionais
Procedimentos no WTO (OMC) e tribunais americanos questionam a legalidade das tarifas.
Entretanto, Donald Trump não vem cumprindo de imediato as decisões do Tribunal de Comércio Internacional dos EUA que considerou ilegais a imposição de tarifas amplas com base na IEEPA - Lei de Emergência Econômica Internacional, incluindo o pacote chamado de "Liberation Day". Trump vem interpondo recursos protelatórios conseguindo obter a suspensão temporária dessas proibições judiciais enquanto se aprecia o mérito dessas ordens judiciais.
Considerações finais
Essas tarifações impostas a vários países visam pressionar por acordos comerciais mais favoráveis aos EUA, porém, geram riscos econômicos domésticos e diplomáticos significativos, prejudicando potencialmente empregos nas montadoras americanas e minando as relações com um aliado-chave como o Japão.
Como se sabe, os EUA é a maior potência econômica e militar do mundo, mas são, igualmente, o maior devedor do mundo com trilhões de dólares de dívida, sendo o Japão um dos países que detém uma quantidade considerável de títulos da dívida pública americana.
Como consequências do tarifaço de março de 2025 o Japão vendeu bilhões de dólares em títulos da dívida pública americana, causando sérios abalos nas finanças do EUA que precisam pagar juros cada vez mais caros para a captação de créditos financeiros.
Seria um desastre total para o tesouro norte americano se o Japão reagisse a esse tarifaço de julho de 2025 com nova venda maciça desses títulos americanos, o que não é provável, mas, não é impossível.
Causas e consequências da tarifa de 50% imposta por Trump sobre produtos brasileiros em 9 de julho de 2025 para vigorar a partir de 1/8/2025.
Esse tarifaço nada tem a ver com a balança comercial que é favorável aos EUA. Examinemos.
Causas
a) "caça às bruxas" contra Jair Bolsonaro definido por Trump como "líder altamente respeitado".
Qualificou o processo penal contra ele de "vergonha nacional" e uma tentativa de perseguição política.
b) alegação de censuras de mídias sociais dos EUA.
Acusa o STF de ordenar censura "secreta e ilegal" contra plataformas americanas como Meta e X prejudicando a liberdade de expressão dos americanos.
c) seguidas provocações do presidente Lula ao Trump, desde início de 2023 combatendo a moeda americana, insistindo na adoção de moeda no âmbito do Brics.
Donald Trump repetiu reiteradas vezes que sancionaria com tarifas pesadas os países que defendessem a nova moeda para substituir o dólar no âmbito do BRICS.
Por isso, China e Rússia, cautelosamente, não foram à reunião da cúpula do Brics no Rio de Janeiro nos dia 6 e 7 de julho de 2025.
Apenas Índia, um país sem expressão, compareceu à reunião.
O presidente Lula, ignorando as advertências de Trump, fez sérias críticas ao dólar como moeda padrão internacional.
Do alto do seu desconhecimento sobre a matéria bradou: quem disse que o dólar deve ser a moeda de referência internacional?
É claro que foi o mercado que elegeu o dólar como moeda padrão, pelo seu elevado teor de confiabilidade ao logo dos séculos.
Alimentou de novo a ideia de criar moeda de troca nos comércios entre os países do Brics. Rússia, parceira do Brasil, dedou o presidente Lula informando por meio do chanceler Sergei Lavrov que foi Lula quem originalmente lançou a ideia de criar uma moeda alternativa no âmbito do BRICS.
O governo norte-americano, então, cumpriu a promessa e impôs a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.
O presidente Lula logo bradou com a aplicação da lei de reciprocidade para retaliar o tarifaço americano.
É claro que o país não tem força econômica para contra-atacar a economia americana quinze vezes maior que a nossa. Seria a briga de um pinscher contra um pitbull.
Há tentativas de grupos empresariais buscando canal de comunicação com o governo americano para sentar à mesa de negociações.
Mas, o presidente brasileiro continua fustigando os EUA dizendo que eles estão interferindo na soberania brasileira.
Esse discurso é muito estranho partindo de alguém que violou a soberania do Peru mandando um avião militar resgatar uma presa por corrupção nas operações da Odebrecht, e concedendo o asilo político, como se ela fosse uma presa política, e não uma criminosa comum de alta periculosidade.
Mais recentemente, o presidente Lula foi a Buenos Aires e visitou outra presa por atos de corrupção, a Cristina Kinchner, ex presidente argentino, ostentando cartaz para libertá-la.
A tarifa de 50% no caso brasileiro nada tem a ver com a balança de pagamentos que até acusa um superávit para os EUA.
Essa tarifa tem o sentido de sanção político-ideológica.
Trump quer punir o governante brasileiro que se alia com países ditatoriais como Cuba, Nicaragua, Venezuela, China, Rússia, Irã, além de simpatizar com grupos terroristas como hamas e hezbollah, além de pretender minar o dólar americano.
Logo, não há como as autoridades brasileiras demonstrar surpresas, sendo absolutamente inútil buscar explicações desse tarifaço no plano econômico.
Diz o velho ditado extraído da Bíblia "quem semeia vento colhe tempestade".
Se o presidente continuar brandindo a espada contra a maior potência econômica do mundo poderá provocar a imposição de uma tarifa ainda maior, como aquela imposta à China em março de 2025 que acabou afugentando os empresários americanos para EUA ou outros países como Vietnan, Coreia do Sul etc., e as fábricas chinesas tiveram que fechar suas portas, causando a maior insatisfação da população desempregada.
China, então sentou na mesa de negociações e firmou um acordo pela qual promete importar os produtos agrícolas dos EUA e baixar a sua tarifa de importação. Isso significou o redirecionamento da importação de produtos agropecuários brasileiros.
Com esse tarifaço de 50% o setor de agronegócios mergulhará em uma crise profunda, arruinando o único setor econômico que vinha dando certo.
É lamentável que isso venha a ocorrer por conta de diferenças ideológicas.
Ideologias diferentes, por si só, nunca foram barreiras para desenvolvimento de comércio entre os diferentes países. O que não é admissível é que um governante de um país ataque e ridicularize o governante de outro país, importante parceiro comercial há mais de um século, por questões puramente ideológicas.
Kiyoshi Harada
Sócio do escritório Harada Advogados Associados. Especialista em Direito Tributário pela USP. Presidente do Instituto Brasileiro de Estudos de Direito Administrativo, Financeiro e Tributário - IBEDAFT.


