Da estética à estratégia: Por que o Legal Design precisa falar a linguagem dos algoritmos
Legal Design alia clareza e estratégia para criar documentos jurídicos precisos, auditáveis e compatíveis com IA, reduzindo riscos e otimizando compliance.
terça-feira, 26 de agosto de 2025
Atualizado em 25 de agosto de 2025 13:12
As inteligências artificiais modernas já processam textos com uma eficiência surpreendente.
Elas reconhecem padrões linguísticos complexos e geram respostas úteis para tarefas como resumir documentos, classificar informações ou até analisar contratos extensos.
Entretanto, essas ferramentas não interpretam informações jurídicas com a mesma profundidade e contexto que profissionais especializados. Estudos da Stanford University mostram taxas de imprecisão entre 17% e 33% mesmo em modelos de IA treinados para contextos jurídicos, especialmente ao interpretar precedentes ou cláusulas complexas.
Ainda assim, a adoção de ferramentas de IA no setor jurídico cresce progressivamente, levando escritórios e departamentos jurídicos a repensarem suas metodologias de estruturação documental.
É nesse contexto que o Legal Design amplia seu escopo. Além de clareza, usabilidade e experiência do usuário, a metodologia passa a considerar a lógica de leitura dos algoritmos.
Por isso, testar documentos em diferentes modelos de IA, comparar interpretações e ajustar a redação tornam-se etapas importantes do workflow jurídico contemporâneo. O objetivo não é apenas "usar IA", mas criar documentos capazes de manter consistência interpretativa mesmo quando processados por diferentes sistemas.
Quando design estratégico, tecnologia e metodologia jurídica convergem, o resultado são documentos claros, auditáveis e prontos para integração com sistemas de versionamento, rastreabilidade e extração automatizada de dados.
Essa abordagem reduz riscos, otimiza o compliance e reforça a segurança jurídica. Mais que isso, representa a materialização de uma prática jurídica predominantemente preventiva, em contraste com o modelo tradicionalmente reativo.
E o Legal Design passa a ser, cada vez mais, um componente essencial da infraestrutura operacional do jurídico empresarial.
Em um ambiente regulatório crescentemente orientado por análise de dados e automação de processos, os profissionais capazes de traduzir complexidade jurídica em estruturas claras e consistentes posicionam-se estrategicamente no mercado.
As ferramentas para essa transição já estão disponíveis.
Agora, cabe ao jurídico transformar a metodologia em prática.
Luciana Martins
Sócia do escritório Martorelli Advogados.


