O silenciador de carreiras na advocacia

Estudos apontam que o estresse contínuo altera o funcionamento cerebral, reduz a capacidade de argumentação e fragiliza a inteligência emocional - pilares do sucesso jurídico. Ignorar esse inimigo invisível é aceitar uma queda drástica na produtividade, na qualidade técnica do trabalho e até expor a carreira ao risco de burnout.

No Brasil, cerca de 30% dos afastamentos por questões médicas entre advogados estão ligados a transtornos mentais, e mais de 54% dos profissionais que buscaram atendimento psicológico online apresentavam sintomas depressivos. Além disso, entre 2012 e 2018, 30% das licenças médicas foram motivadas por adoecimento mental, o que levou a OAB a criar o Plano Nacional de Saúde Mental da Advocacia.

Nos Estados Unidos, um levantamento da Bloomberg Law revelava que 52% dos advogados experimentaram burnout com frequência, o mais alto índice desde que começaram as medições em 2020. Além disso, uma pesquisa da plataforma Axiom com advogados in-house mostrou que 78% se sentem estressados ou exaustos, e 57% estão abertos a buscar novas oportunidades fora do seu atual emprego, evidenciando um alerta real de evasão profissional.

Um levantamento divulgado em abril de 2025 mostrou que muitos advogados em início de carreira estão considerando abandonar a profissão. O estudo, realizado por universidades da Austrália, revelou um nível significativo de sofrimento psicológico entre jovens profissionais, causado por jornadas exaustivas, baixa remuneração e cultura que enaltece o sacrifício pessoal.

E não são apenas os novatos: no estudo Stress, Drink, Leave, com advogados da Califórnia e Washington D.C., 24,2% das mulheres consideraram deixar a advocacia por causa de problemas de saúde mental, burnout ou estresse, contra 17,4% dos homens.

O mito do advogado indestrutível

A ideia de que o advogado deve resistir à pressão extrema sem sofrer é não só antiquada, como extremamente perigosa. Ignorar o sofrimento psicológico é aceitar a erosão lenta, mas eficaz, da qualidade técnica, do bem-estar e, finalmente, da carreira.

Reconhecer e combater o "silenciador de carreiras" é um imperativo ético e estratégico. Não basta simplesmente oferecer qualidade técnica, é hora de implementar mudanças estruturais: programas de saúde mental, cultura de autocuidado, flexibilização real de horários e reconhecimento da vulnerabilidade como parte da modernidade profissional.

Você sente que o "silenciador de carreiras" já começou a interferir no seu caminho? Esteja atento aos sinais - seus resultados, seu clima emocional, sua disposição contam a história. E se a dúvida existe, o eco dos dados deixa claro: é hora de agir. Procurar suporte especializado, investir na saúde mental e romper este ciclo silencioso não é apenas autocuidado - é sobrevivência, sustentabilidade e qualidade da advocacia como um todo.