Energia e inovação: O futuro do mercado brasileiro
Do pioneirismo à era digital, o setor elétrico brasileiro avança rumo a uma matriz renovável, descentralizada e inteligente, guiada por inovação e sustentabilidade.
segunda-feira, 1 de setembro de 2025
Atualizado em 29 de agosto de 2025 09:15
O Brasil começou a produzir energia elétrica no final do século XIX, sendo Campos de Goytacazes, Rio de Janeiro, a primeira cidade da América Latina a receber iluminação elétrica, em 18831, o que revela a postura de vanguarda de nosso país no setor de energia.
De 1900 até os anos 2000, a atividade passou por aperfeiçoamento e regulamentação, para consolidar a nacionalizar a exploração do mercado energético, incluindo as privatizações.
Da criação da Hidrelétrica de Itaupu, feita com parceria dos Brasil e Paraguai, dois das maiores potências latino-americanas, cujo projeto até a inauguração, de 1960 até 1984, percorreram cerca de 24 anos, a tecnologia vem apoiando o setor e, hoje, é parte do próprio sistema de geração, transmissão e distribuição de energia.
Nos últimos 20 anos, tivemos acelerado aperfeiçoamento do sistema, tempo cinco vezes menor do que o que foi gasto para estruturar e regulamentar o sistema energético no país, e só foi possível com o desenvolvimento de tecnologias voltadas para a digitalização de redes, com foco em confiabilidade, eficiência e descentralização do sistema, ampliando os beneficiados e multiplicando os recursos.
Nesse estágio, a visão foi ampliada para novas formas de produzir energia, tendo em vista a escassez dos recursos naturais e o estágio de superpopulação de nosso planeta, abrindo frentes na produção de energia renováveis, como a eólica, solar, energia de biomassa, geotérmica e outras.
À medida que a humanidade evoluiu, a forma de produzir e consumir energia mudou, moldando as concessionárias e transformando-as em plataformas de energia, fazendo parcerias com startups, focadas em inovação, criando novos modelos de negócio, onde, ao invés de pagar por KWh, por exemplo, o consumidor pagará por conforto, autonomia ou serviço energético como a climatização, iluminação, entre outros, a exemplo do que já ocorre com a geração distribuída.
Essa tendência de descentralização do serviço público e do próprio sistema de energia é possível graças a tecnologias emergentes, como as Smart Grids, que permitem o monitoramento e controle das redes de energia em tempo real, os medidores inteligentes que permitem tarifas dinâmicas, gestão remota e consumo consciente, a geração distribuída de energias eólica e solar, armazenamento de energia por ar comprimido, hidrelétrico por bombeamento ou de hidrogênio, volantes de inércia, feitos de forma eficaz.
Não pode esquecer das tecnologias voltadas para a manutenção e prevenção do sistema elétrico, que incluem o monitoramento da rede com inteligência artificial, implementação de I.A para detecção de fraudes e otimização da rede, digitalização dos processos e utilização de big data para previsão de demanda, as quais tornam o sistema mais hígido em situações críticas, considerando a crescente crise climática e os conflitos ao redor do planeta.
Essa evolução molda o próprio consumidor, tornando o que chamamos de "prosumer" (produtor + consumidor), termo que se refere a um indivíduo que, além de consumir produtos e serviços, também participa ativamente da criação ou produção da energia2, colocando-o no protagonismo do sistema energético, lugar que sempre foi seu, visto que a energia é um direito coletivo e os serviços de geração, transmissão e distribuição são públicos.
As concessionárias, agentes públicos e a sociedade já estão trabalhando para que o nosso sistema de energia seja composto de maioria de redes de geração distribuída, de plataformas de blockchain para transações de energia e contratos inteligentes para o gerenciamento automático do consumo, redes urbanas inteligentes com gerenciamento de resíduos, otimizando recursos, mantendo a integração de todos os personagens e a eficiência do sistema energético.
A orientação focada em regulação e compliance, não só ambiental, mas empresarial de negócios, será essencial para acompanhar a evolução do sistema de energia, garantindo segurança jurídica e mitigando riscos multilaterais, focando em planejamento estratégico e governança corporativa, para alcançar a proteção de dados necessária à cibersegurança e à propriedade intelectual envolvidas nas tecnologias que compõem o sistema, garantindo a sua rentabilidade e competitividade no mercado.
Pode-se esperar, para os próximos 50 anos, que a matriz energética de nosso país seja 100% renovável, limpa e distribuída, com geração descentralizada, inteligente e automatizada, tonando o mercado mais dinâmico, digital e transparente, através do armazenamento diversificado, onipresente e acessível, trazendo mais mobilidade elétrica, incluindo a diversificação com a o hidrogênio verde, a fusão nuclear, com apoio de políticas flexíveis e focadas na sustentabilidade e desenvolvimento socioeconômico alinhado com a meta Net Zero 50.
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1 SÃO PAULO, Prefeitura de. História da Iluminação. Publicado em 16/01/2024. Disponivel em:< https://prefeitura.sp.gov.br/web/spregula/w/iluminacao_publica/historia/312#:~:text=Em%201873%2C%20j%C3%A1%20havia%20700,%C3%BAltimos%20lampi%C3%B5es%20foram%20definitivamente%20apagados.&text=Em%201879%2C%20registra%2Dse%20a,da%20estrada%20de%20Ferro%20D.> Acesso em: 12/8/2025.
2 SEBRAE, Minas. Prosumer: entenda o novo consumidor. Disponivel em:< https://amei.sebrae.com.br/auth/realms/externo/protocol/openid-connect/auth?client_id=portalinovacao-frontend&redirect_uri=https%3A%2F%2Fwww.inovacaosebraeminas.com.br%2Fartigo%2Fprosumer-entenda-o-novo-consumidor&state=b278697b-5b7a-40a0-a9ce-79a3d940cbad&response_mode=fragment&response_type=code&scope=openid%20offline_access&nonce=c99d8ed8-e533-4c0f-890f-ce9a49671f0d&prompt=none> Acesso em 12/8/2025.
Malirre Abadi Ghadim
Advogada do Setor Elétrico do escritório Mascarenhas Barbosa, atuando com foco no Direito Fundiário e Regulatório, especializada em Direito Processual Civil pela Faculdade Damásio de Jesus.
Lênina Armôa
Advogada Sócia do escritório Mascarenhas Barbosa, responsável pelo Setor Elétrico, Presidente da Comissão Especial de Energia e Vice Presidente da Comissão Especial de Águas e Saneamento Básico, ambas da OAB/MS, especialista em Direito Ambiental e Compliance.



