Reforma tributária: Um novo jogo para o C-Level
A reforma tributária não é um problema fiscal, é um desafio para o C-Level. O antigo planejamento morreu. Conheça o novo jogo onde finanças, marketing e operações se unem para não quebrar.
sábado, 4 de outubro de 2025
Atualizado em 3 de outubro de 2025 14:17
Nós continuamos descemos à casa de máquinas da reforma tributária. Analisamos as engrenagens do split payment, a incerteza dos créditos de marketing, o problema do ITCMD para as holdings e o risco do "credit score fiscal". Cada peça, um desafio. Agora, é hora de subir para a ponte de comando e encarar a verdade mais importante: a reforma tributária não é só um problema fiscal. É um problema de estratégia.
O jogo que os executivos brasileiros aprenderam a jogar nas últimas três décadas - o jogo de encontrar brechas, explorar a guerra fiscal e usar a complexidade como um escudo - acabou. A reforma tributária não mudou somente as regras; jogou o tabuleiro pra cima.
Agora é a hora de aprendermos um novo jogo. Um jogo onde o "planejador tributário", aquele gênio que encontrava a última brecha legal, parece estar meio cambaleante. Em seu lugar, nasce o "estrategista fiscal", e esse papel não pertence a um único departamento. Ele pertence a toda a diretoria executiva.
O fim de uma era de "gato e rato"
O planejamento tributário tradicional no Brasil era uma arte de guerrilha. Era sobre:
- Arbitragem geográfica: Mudar o CNPJ para uma cidade com ISS de 2%, ou explorar a guerra fiscal entre os Estados e os respectivos benefícios tributários.
- Arbitragem estrutural: Criar complexas estruturas de empresas para otimizar o fluxo de pagamentos e JCP.
- Arbitragem temporal: Usar a lentidão do sistema para financiar o capital de giro com o dinheiro do imposto.
A reforma tributária ataca sistematicamente cada um desses pilares. O IVA com tributação no destino mata a guerra fiscal, também está previsto acabar todos benefícios tributários. A transparência do split payment e o cruzamento de dados em tempo real eliminam a arbitragem temporal e estrutural. A era do "jeitinho" fiscal, da elisão criativa que beirava a evasão, está sendo substituída por uma era de fiscalização em tempo real.
Tentar jogar o jogo antigo neste novo cenário não é apenas ineficaz; é suicida.
O novo papel do C-Level na era da reforma tributária
A alta carga tributária, agora mais explícita e difícil de contornar, deixa de ser uma linha no DRE para se tornar uma variável central no modelo de negócio. A gestão fiscal migra do porão para a sala do conselho, e as responsabilidades são redefinidas:
- O CFO - Chief Financial Officer: Deixa de ser um guardião do compliance para se tornar o arquiteto do risco e da precificação. Sua principal função será modelar o impacto da reforma tributária nas margens, no fluxo de caixa e na estrutura de capital. É ele quem deve liderar a análise do "credit score fiscal" de toda a cadeia de suprimentos, transformando o risco de contraparte em um KPI.
- O COO - Chief Operating Officer: A eficiência operacional agora tem um componente fiscal mandatório. Onde construir uma nova fábrica? A decisão não envolve mais apenas logística e mão de obra, mas a maturidade do ecossistema de fornecedores locais e sua capacidade de gerar créditos confiáveis. A gestão de estoques e a negociação com fornecedores ganham uma nova e complexa camada tributária.
- O CMO - Chief Marketing Officer: Como vimos, o CMO não pode mais operar em um silo criativo. A eficiência do gasto com marketing será medida não apenas pelo ROI de vendas, mas pelo seu "ROI fiscal" - sua capacidade de gerar créditos. A escolha de canais e a negociação com agências se tornam uma decisão conjunta com o financeiro.
- O CEO - Chief Executive Officer: O CEO que delega a reforma tributária ao seu CFO como "um problema de impostos" está falhando em sua função mais básica: a de estrategista-chefe. É ele quem deve garantir que esta nova mentalidade fiscal permeie toda a organização, liderar o lobby setorial por regulamentações inteligentes e, acima de tudo, tomar as decisões difíceis de reposicionamento de mercado que a nova realidade de custos exige.
O aumento da carga tributária efetiva, sentida por muitos setores, é o catalisador que força essa integração. Quando o imposto é baixo, ele é um detalhe. Quando ele se torna a maior ou a segunda maior linha de custo, como a reforma tributária fará para muitos, ele se torna o negócio.
Conclusão: Adapte-se!
A reforma tributária é o maior evento de seleção natural no mundo corporativo brasileiro em uma geração. As empresas que sobreviverão e prosperarão não serão aquelas que encontrarem a última brecha, mas aquelas que se redesenharem fundamentalmente.
Os vencedores serão aqueles que:
- Integrarem a gestão fiscal à estratégia de negócio de forma simbiótica;
- Usarem a tecnologia não apenas para o compliance, mas para modelar cenários e gerenciar riscos em tempo real;
- Colaborarem de forma radical, quebrando os silos entre finanças, operações, marketing e vendas.
O tempo de reação acabou. A reforma tributária está aqui. A pergunta que cada CEO deve fazer a si mesmo não é "Como vamos pagar menos impostos?", mas sim:
"O meu modelo de negócio, a minha equipe e a minha cultura estão preparados para vencer no novo Brasil?"
A resposta a essa pergunta definirá o futuro.


