MIGALHAS DE PESO

  1. Home >
  2. De Peso >
  3. Juros elevados pressionam agronegócio e ameaçam sustentabilidade dos produtores

Juros elevados pressionam agronegócio e ameaçam sustentabilidade dos produtores

Lando Bottosso

Alerta para os riscos da combinação entre taxa Selic alta e crédito rural endividado.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Atualizado em 24 de outubro de 2025 13:44

A manutenção da taxa Selic em níveis elevados, adotada pelo BC - Banco Central do Brasil para controlar a inflação, está gerando efeitos adversos no agronegócio,  setor que representa cerca de 30% do PIB brasileiro. Segundo a Farsul - Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, no primeiro trimestre da safra 2025/26, os recursos para custeio recuaram 23% e para investimento caíram 44% frente ao ciclo anterior.

A combinação de juros elevados e escassez de crédito cria uma falsa sensação de estabilidade: muitas vezes o produtor opta por renegociar dívidas ou alongar contratos fiduciários, na expectativa de que os preços das commodities melhorem.

A perpetuação da elevada taxa Selic e dos juros no mercado financeiro, visando combater a inflação, cria uma falsa percepção de melhoria econômica, afetando diretamente o agronegócio. O produtor rural, na tentativa de manter sua atividade, busca prorrogar dívidas e renegociar contratos financeiros, em sua maioria vinculados à alienação fiduciária, na esperança de uma melhora nos preços das commodities. Contudo, essa estratégia pode levar à insolvência de muitos produtores, pois a alta dos juros compromete a capacidade de pagamento e a normal produção agrícola, gerando um ciclo de endividamento sem garantia de recuperação.

A retração no crédito rural e o aumento da inadimplência, que em algumas regiões ultrapassa 5%, elevam o risco de colapso de produtores com histórico de financiamento. A vulnerabilidade do setor exige atenção ainda maior às condições de financiamento, ao tipo de contrato assinado e à estrutura de pagamento. A liquidez apertada e o custo elevado dos empréstimos comprometem não apenas a safra atual, mas também a capacidade de investimento e inovação para as próximas.

Recomenda-se que pequenos e médios produtores avaliem conjuntamente com consultores ou advogados agrários a viabilidade dos créditos contratados e negociem não apenas prorrogações, mas reestruturações que considerem a real capacidade de pagamento e as perspectivas de mercado. Evitar a insolvência passa por antecipar riscos, revisar contratos e buscar alternativas como cooperativas ou linhas de financiamento com juros moderados.

Em um momento em que o agronegócio enfrenta desafios sem precedentes, a decisão de apenas renegociar dívidas pode não ser suficiente. A saúde financeira de produtores e o desempenho do setor dependem de estratégias ativas, estrutura adequada e condições de crédito compatíveis com a nova realidade dos mercados e dos custos elevados.

Lando Bottosso

Lando Bottosso

Advogado do escritório João Domingos Advogados Associados.

AUTORES MIGALHAS

Busque pelo nome ou parte do nome do autor para encontrar publicações no Portal Migalhas.

Busca