Cibercrimes no Brasil
O crescente uso da tecnologia e da internet em diversos setores da sociedade brasileira, tanto no âmbito privado quanto público, tem proporcionado um avanço significativo no desenvolvimento do país.
quinta-feira, 27 de novembro de 2025
Atualizado às 09:20
1. O cenário atual dos cibercrimes no Brasil
Cibercrimes são crimes praticados por meio da internet, que envolvem uma grande variedade de infrações, como fraudes bancárias, roubos de dados pessoais, crimes de ódio, pornografia infantil, ataques de ransomware, phishing e até mesmo crimes envolvendo o tráfico de armas e drogas na dark web.
O Brasil ocupa uma posição preocupante no ranking mundial de crimes cibernéticos. De acordo com a Panda Security, o Brasil é um dos países com maior número de ataques de ransomware e dados roubados, com empresas e pessoas físicas constantemente sendo vítimas de cibercriminosos. Esses crimes têm um impacto significativo nas finanças pessoais e corporativas, além de ameaçarem a segurança nacional e internacional.
2. Avanços legislativos no combate aos cibercrimes
Nos últimos anos, o Brasil tem se esforçado para aprimorar sua legislação de forma a responder a essa nova onda de criminalidade. Vários avanços legislativos foram feitos, destacando-se principalmente a criação de leis específicas para a regulamentação dos crimes cibernéticos.
Lei Carolina Dieckmann (lei 12.737/12)
A lei 12.737/12, conhecida como lei Carolina Dieckmann, foi um marco importante no enfrentamento dos cibercrimes no Brasil. Ela foi sancionada após um caso de invasão de computadores da atriz Carolina Dieckmann, cujo conteúdo privado foi publicado sem sua autorização. A lei tipifica como crime a invasão de dispositivos eletrônicos, o que inclui computadores, celulares e outros dispositivos, com o objetivo de obter, adulterar ou destruir dados ou informações.
A lei Carolina Dieckmann também prevê penas para quem divulgar conteúdos íntimos sem o consentimento da pessoa, algo que tem se tornado cada vez mais relevante diante do crescimento de crimes como o revenge porn.
Marco civil da internet (lei 12.965/14)
Outro marco significativo foi a criação do marco civil da internet, que estabelece direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Embora seu foco principal não seja o combate aos cibercrimes, a lei cria um ambiente jurídico mais seguro ao regulamentar questões relacionadas à privacidade, liberdade de expressão e responsabilidade das plataformas digitais. Ela também obriga provedores de internet e redes sociais a cooperarem com as autoridades para identificar e punir crimes cometidos no ambiente digital.
LGPD - Lei Geral de Proteção de Dados (lei 13.709/18)
A LGPD - Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, sancionada em 2018, também trouxe um avanço significativo para o Brasil no combate aos crimes cibernéticos, pois trata da proteção de dados pessoais e impõe regras mais rígidas sobre como as empresas devem tratar as informações dos usuários. A LGPD não apenas fortalece os direitos dos cidadãos em relação ao uso de seus dados pessoais, mas também cria um arcabouço legal que pode ser utilizado no combate a fraudes, vazamento de dados e crimes relacionados à privacidade.
Criação de crimes no CP
Além das leis específicas, o CP brasileiro tem sido ajustado para prever crimes relacionados a delitos no ambiente digital. Por exemplo, o art. 266 do CP tipifica a violação de correspondência eletrônica como crime, e o art. 171 já aplica a fraude eletrônica a diferentes tipos de fraudes.
3. Desafios no combate aos cibercrimes
Apesar dos avanços legislativos, o combate aos cibercrimes no Brasil enfrenta uma série de desafios:
Falta de capacitação e infraestrutura
Um dos principais obstáculos no combate aos cibercrimes é a falta de capacitação das autoridades e da infraestrutura necessária para investigar e processar crimes digitais. A polícia e os tribunais precisam de recursos, equipamentos e treinamento específicos para lidar com questões tecnológicas, como análise forense digital e investigação de redes cibernéticas.
Jurisdicionalidade e cooperação internacional
A natureza global da internet e dos crimes digitais implica em desafios de jurisdição. Muitas vezes, os criminosos operam de fora do Brasil, o que torna difícil a aplicação da legislação nacional. Além disso, a cooperação internacional é fundamental, mas nem sempre eficaz, especialmente quando se trata de crimes como lavagem de dinheiro, tráfico de dados ou fraudes bancárias que envolvem múltiplos países.
Proteção dos dados pessoais
Apesar da LGPD, o Brasil ainda enfrenta grandes desafios relacionados à proteção de dados pessoais, tanto na esfera pública quanto privada. O vazamento de dados em grandes empresas e instituições públicas continua a ser uma preocupação crescente. Além disso, muitas empresas ainda não estão totalmente preparadas para implementar as exigências da LGPD, o que aumenta a vulnerabilidade a crimes cibernéticos, como o roubo de identidade e fraudes.
A evolução das técnicas de ataque
Os criminosos cibernéticos estão em constante evolução, sempre buscando novas formas de fraudar, roubar ou prejudicar suas vítimas. Técnicas como phishing, malware, ransomware e botnets estão se tornando mais sofisticadas, dificultando a detecção e o combate a esses crimes. Além disso, a deep web e a dark web continuam a ser espaços onde atividades criminosas como o tráfico de informações sensíveis e o comércio de produtos ilícitos prosperam.
4. O caminho a seguir: Propostas de melhoria
Embora o Brasil tenha dado passos importantes na criação de uma estrutura legal e institucional para combater os cibercrimes, ainda existem várias melhorias a serem feitas. Algumas sugestões incluem:
- Fortalecimento da capacitação policial e judicial para lidar com crimes digitais, incluindo o aumento do número de peritos em ciberinvestigações.
- Adoção de novas tecnologias de monitoramento e prevenção de crimes cibernéticos, como inteligência artificial e blockchain, para ajudar na identificação precoce de ataques e na proteção dos dados.
- Fortalecer a cooperação internacional com outros países para combater cibercrimes transnacionais e melhorar a troca de informações entre as autoridades.
- Aprimorar a proteção de dados pessoais, incentivando as empresas a adotar práticas robustas de segurança da informação e a garantir a privacidade dos cidadãos.
Conclusão
O combate aos cibercrimes no Brasil é um desafio multifacetado que exige uma resposta coordenada entre o poder público, o setor privado e a sociedade civil. Apesar dos avanços legislativos, como a lei Carolina Dieckmann, o marco civil da internet e a LGPD, o país ainda enfrenta dificuldades significativas na luta contra o crime cibernético. A adaptação constante das leis e a formação de uma infraestrutura robusta de segurança digital são essenciais para garantir que a sociedade brasileira consiga se proteger das ameaças virtuais de maneira eficaz.
Com o crescimento contínuo do uso da tecnologia e da digitalização de processos e informações, é urgente que o Brasil se prepare para os novos desafios que surgirão no ambiente digital. O combate aos cibercrimes, portanto, deve ser uma prioridade estratégica para garantir um futuro mais seguro e sustentável no mundo digital.


