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Desafios do ambiente empresarial brasileiro para o próximo ano

Empresários enfrentarão, no próximo ano, um cenário de baixo crescimento, crédito oneroso, inflação pressionada, instabilidade regulatória e escassez de mão de obra qualificada.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Atualizado às 08:37

A travessia empresarial rumo a 2026 se delineia como um período em que lucidez estratégica, disciplina financeira e capacidade de adaptação serão características indispensáveis para qualquer organização que pretenda preservar competitividade. Relatórios recentes de organismos nacionais e internacionais, consultorias econômicas e entidades empresariais convergem para um diagnóstico comum: o ambiente de negócios brasileiro será marcado por desafios simultâneos e interdependentes, exigindo do empresário leitura fina do cenário macroeconômico e domínio dos aspectos regulatórios.

O primeiro vetor de atenção reside no crescimento econômico moderado previsto para o país. As projeções apontam para uma expansão do PIB aquém do potencial, o que tende a reduzir dinamismo setorial, prolongar ciclos de investimento e tornar o mercado mais seletivo. Em contextos assim, o risco de desaceleração não é meramente estatístico: ele se converte em retração de consumo, postergação de projetos e maior sensibilidade a movimentos externos. O empresário, portanto, entra em 2026 sabendo que opera num ambiente menos expansivo e mais competitivo.

O segundo eixo estrutural refere-se ao custo do crédito. A manutenção da taxa básica de juros em patamar elevado impõe restrições claras ao financiamento empresarial. Empréstimos tornam-se mais caros, capital de giro perde acessibilidade e investimentos precisam superar taxas de retorno mais exigentes para justificar sua execução. O crédito, que poderia ser alavanca de crescimento, transforma-se em obstáculo para quem não dispõe de reservas ou estratégias sofisticadas de gestão financeira.

A esses fatores soma-se a persistente complexidade tributária e regulatória, tema recorrente entre as principais barreiras à atividade empresarial no Brasil. A elevada carga tributária, combinada a uma burocracia frequentemente mutável e de difícil compreensão, cria um ambiente em que planejar torna-se exercício de cálculo, prudência e constante atualização normativa. A incerteza regulatória amplia esse desafio ao exigir do empresário não apenas conformidade, mas também antecipação - especialmente diante das recentes alterações promovidas em regimes de investimento, tributação setorial e obrigações acessórias.

O ambiente inflacionário constitui outro ponto de tensão. A inflação acima da meta, mesmo que em processo de acomodação, tem efeitos tangíveis: corrói margens, pressiona reajustes salariais, encarece insumos e compromete previsibilidade de custos. Para muitos setores, especialmente aqueles expostos a commodities e logística, o repasse de preços não acompanha o ritmo da elevação dos insumos, gerando compressão de rentabilidade.

Há, ainda, o desafio da mão de obra qualificada, que se mantém como problema estrutural. Diversas atividades sentem a escassez de profissionais com formação técnica adequada, o que eleva o custo de contratação e impõe às empresas a necessidade de investir em capacitação interna. Em um mercado cada vez mais orientado por tecnologia, produtividade e automação, a qualificação torna-se variável crítica - e, paradoxalmente, deficitária.

Paulo Bernardino

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