Herdeiros - Breve reflexão sobre sua importância na sustentabilidade da empresa: Visão, riscos, impactos e gestão
Sucessores, vistos como investidores em empresas familiares, devem equilibrar direitos e responsabilidades para garantir a sustentabilidade e continuidade do patrimônio.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2025
Atualizado em 19 de dezembro de 2025 14:13
Dizer ser herdeiro por vezes pode parecer depreciativo. Pode, aos olhos de quem recebe esta informação, ser entendido como sinônimo de que o declarante é alguém que não trabalha, não tem responsabilidades e não passa de um bon-vivant. Mas, refletir sobre a importância do papel financeiro do herdeiro merece mais atenção.
Não! Não estamos falando de sucessor - aquele que ocupa o lugar na gestão e administração direta do patrimônio - e, sim, de herdeiro e seu conceito e, assim, propor contribuição para a mudança de perspectiva daqueles que ainda julgam mal sua figura e posição e para refletirem sobre uma nova perspectiva e minimizar a não discriminação de seu significado.
Para a maioria das pessoas herdeiro é somente a pessoa que tem direito a receber bens, direitos e dívidas de alguém que faleceu. Dentre os bens que podem ser recebidos, destacam-se dinheiro, imóveis, veículos, quotas de empresas, jóias e até ativos digitais. Em muitos casos estes bens podem ser até de pouco valor financeiro. Mas, em outros, a quantidade de patrimônio e a forma como são recebidos pelos herdeiros podem ser significativos e até de difícil administração.
Como exemplo, pode-se imaginar uma fazenda em plena produção agrícola ou pecuária, uma indústria ativa com centenas de colaboradores, alguns galpões logísticos alugados para transportadoras onde os detentores dos direitos hereditários não estão ligados diretamente no dia a dia da gestão e administração. O acompanhamento do negócio que estava sob controle apenas de quem faleceu, agora passa a ser de seus sucessores e herdeiros.
De filho do dono, alguém se torna um possível sucessor (será investidor e coordenará a operação em busca de manutenção e ampliação do negócio) ou herdeiro (um investidor que espera o melhor resultado do negócio, receber dividendos, mas não pretende exercer a gestão). Se o investidor (herdeiro) retirar o seu capital do negócio pode até provocar ou representar a impossibilidade de continuidade da empresa.
Desta ideia parte/decorre a importância da análise financeira, da governança, das regras a serem cumpridas e de outras contribuições que os cuidados com o investidor demandam. Enfim, os cuidados e respeito com patrimônio alheio (foco do gestor, familiar ou não) deve atender critérios lógicos e principalmente éticos.
O herdeiro tratado como investidor na empresa familiar merece a atenção que qualquer outro teria quando investe em uma empresa, como acontece, por exemplo, em uma organização listada na bolsa. Em resumo, o herdeiro deixa seu dinheiro na empresa esperando receber dividendos, mais do que seus recursos em outras aplicações poderiam gerar. Como obrigação, em contraponto de seus direitos, deve o herdeiro investidor compreender que, havendo prejuízos, assumirá este ônus.
O fato é que investidor e gestor devem estar atentos no compromisso de tratar o capital investido com muita responsabilidade. Caso contrário, o desinvestimento pode ser um problema bem sério na sustentabilidade da organização. Nos casos que sejam inevitáveis, os desinvestimentos e movimentações jurídicas decorrentes de sua decisão devem ser feitos com cautela e, para evitar maiores riscos, as empresas podem usar ferramentas jurídicas a fim de minimizar seus impactos, como seguros específicos, acordos de sócios, regras em contrato social e operações financeiras específicas que auxiliam a gerir os efeitos da retirada de recursos da sociedade.
Carlos Felipe Camiloti Fabrin
Sócio na área de Sucessão do escritório Oliveira e Olivi Advogados Associados.


