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Carta de um advogado ao Papai Noel

Se não for demais, fica aqui o pedido: dá uma força pra advocacia. A gente promete continuar fazendo a nossa parte, mesmo com prazo curto, sistema fora do ar e café frio.

terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Atualizado às 09:10

Querido Papai Noel,

Eu sei, eu sei. Atrasado. Confesso que demorei para escrever e, sendo bem honesto, nem sei se ainda dá tempo de pedir alguma coisa. Mas, como advogado, uma das coisas que aprendi é que não custa tentar.

Sei que o senhor já foi muito generoso comigo este ano, e não quero abusar. Prometo ser objetivo.

Organizei meus pedidos em três eixos, porque a gente aprende cedo que tudo fica mais claro quando é bem estruturado. Se não for demais (e se o senhor ainda tiver um espacinho no trenó) conto com a sua ajuda, mano véi.

O primeiro pedido é para o Poder Judiciário. Aqui, Papai Noel, o pedido é simples, quase singelo, mas aparentemente complexo de executar: respeito às nossas prerrogativas.

Que sejamos atendidos, ouvidos e tratados com dignidade. Nada de favor, é direito mesmo (daqueles que não deveriam precisar ser lembrados).

Se puder incluir no pacote uma atenção especial aos alvarás, eu agradeço. Que eles não atrasem, não se percam em gavetas virtuais e não fiquem presos em algum limbo administrativo que só existe no mundo jurídico.

Advogado não vive de petição bonita, vive de resultado (e, às vezes, de alvará).

O segundo pedido é para os clientes. Aqui o senhor pode precisar de um pouco mais de magia!

Que os clientes nos paguem em dia (prometo não exagerar: pode ser só no dia combinado). Que entendam que "dar uma olhadinha" no processo com outro colega não ajuda, não acelera e, geralmente, só gera ruído.

E, principalmente, que tenham paciência. Processo demora. Sempre demorou. Não é má vontade, não é desleixo, e definitivamente não é culpa do advogado. Se o senhor conseguir colocar isso no coração (e no WhatsApp) dos clientes, já é milagre suficiente para um Natal inteiro.

O último pedido é quase filosófico. Esse é para a sociedade em geral. Que ela entenda, de uma vez por todas, qual é o nosso papel.

Que parem de nos confundir com nossos clientes, com as causas que defendemos ou com as manchetes mal explicadas do dia seguinte. Advogar não é concordar, é garantir direito. Não é compactuar, é assegurar que o jogo seja jogado conforme as regras.

Se conseguirmos isso, Papai Noel, talvez o debate público fique um pouco menos raso, um pouco menos agressivo e um pouco mais justo.

Enfim, sei que é muita coisa.

Sei também que o senhor anda sobrecarregado. O mundo anda complicado para todo mundo, inclusive para quem trabalha uma vez por ano.

Mas, se não for demais, fica aqui o pedido: dá uma força pra advocacia. A gente promete continuar fazendo a nossa parte, mesmo com prazo curto, sistema fora do ar e café frio.

Com estima, respeito e uma pontinha de esperança.

Thalles Vinícius de Souza Sales

VIP Thalles Vinícius de Souza Sales

Presidente do Instituto dos Advogados do Acre - IAAC. Membro da Comissão Nacional de Defesa de Prerrogativas e Valorização da Advocacia, do CFOAB. Diretor da Escola de Prerrogativas da OAB/AC.

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