Agentes de IA como colegas de trabalho
Durante anos, a IA nos escritórios funcionou como um recurso isolado: você fazia uma pergunta, recebia uma resposta, seguia em frente. Pronto. Em 2026, esse modelo morre.
terça-feira, 30 de dezembro de 2025
Atualizado às 13:57
O colapso do modelo "ferramenta passiva"
Durante anos, a IA nos escritórios funcionou como um recurso isolado: você fazia uma pergunta, recebia uma resposta, seguia em frente. Pronto. Em 2026, esse modelo morre. O que chega é a consolidação de agentes de IA em modo autônomo, sistemas capazes de executar jornadas completas sem necessidade de supervisão constante.
Conforme especialistas apontam, o foco não estará mais na substituição, mas o advogado se concentra na estratégia, na validação da informação, no raciocínio complexo e, principalmente, no relacionamento com o cliente.
Isso não é ficção. Está acontecendo agora. Existem ecossistemas de assistentes de IA personalizados treinados com a base de conhecimento interna do escritório. Esses assistentes funcionam exatamente como colegas: eles conhecem os precedentes, as teses, os estilos da casa.
O que um agente de IA faz (e como diferencia do seu estagiário)
Imagine um associado que nunca dorme, nunca tira férias, não comete erros por fadiga e consegue processar simultaneamente centenas de documentos em minutos. Isso é um agente de IA em um escritório moderno.
Tarefas que agentes já executam em 2025:
- Triagem automatizada de processos no mesmo dia do recebimento;
- Análise de grandes volumes de documentos em due diligences com maior precisão;
- Elaboração de minutas iniciais de petições e contratos alinhadas à tese do escritório;
- Classificação e priorização de demandas;
- Organização de informações dispersas em documentos caóticos;
- Análise de depoimentos em litígios e sinalização de casos fora do padrão;
- Pesquisa de jurisprudência com geração de agentes próprios quando as soluções de mercado falham;
- Acompanhamento em tempo real de processos via dashboards personalizados;
- Triagens iniciais complexas em websites de escritórios.
O diferencial? Tudo isso opera em paralelo, sem interrupção.
Enquanto você dorme, seu agente classifica demandas, segmenta clientes, atualiza o CRM e prepara análises.
A "guerra das IAs" que define vencedores e perdedores
O mercado jurídico brasileiro está em transformação sem precedentes, e há consenso na vanguarda: a questão já não é se os escritórios vão usar IA, mas quão rápido conseguirão fazê-lo com governança, segurança e alinhamento à sua identidade.
Três abordagens estão emergindo:
Abordagem 1: Internalização total
Desenvolvimento de plataformas proprietárias completamente customizadas. Realização de 18 oficinas práticas de IA entre 2024 e julho de 2025, transformando advogados em coautores dos robôs, não em usuários passivos.
O foco foi fortalecer a internalização, personalização e governança.
Abordagem 2: Arquitetura própria sobre soluções de mercado
Trabalho com modelos de base de provedores consolidados, mas com desenvolvimento interno de toda a camada de produto, fluxo de trabalho, segurança, governança e experiência do usuário.
A estrutura conta com mais de 20 cientistas e engenheiros de dados trabalhando ao lado dos advogados. Criação a Akdia, uma academia de capacitação permanente, e estruturou uma área de Sandbox para experimentação controlada.
Abordagem 3: Híbrida com foco em dados internos
Desenvolvimento de modelos próprios e integração de soluções open source, sempre treinadas com dados internos para garantir precisão, segurança e aderência à realidade jurídica.
O denominador comum? Nenhum escritório de ponta está apenas comprando ferramentas prontas. Todos estão trabalhando com dados internos, governança estruturada e equipes multidisciplinares.
O novo perfil do advogado: Do executor ao arquiteto
A chegada dos agentes redefiniu completamente o que significa ser advogado. O profissional não desaparece, mas muda radicalmente de função.
Segundo especialistas do setor, o advogado de 2026 precisará:
- Fluência digital para operar seus "copilotos" de IA;
- Noções de análise de dados para interpretar os insights gerados pelas plataformas;
- Mentalidade de gestor de projetos para conduzir fluxos de trabalho automatizados.
Isso cria um novo arquétipo: o "advogado-estrategista" que utiliza o ecossistema tecnológico para entregar respostas mais rápidas, precisas e alinhadas aos objetivos de quem o contrata.
Conforme sintetiza Caio Kuster, referência em inovação jurídica: "A IA vai reorganizar o mercado. Vai separar quem opera no piloto automático de quem pensa estrategicamente. O papel do advogado será ressignificado, menos executor, mais arquiteto de soluções; menos repetitivo, mais analítico; menos operacional, mais decisor''.
Os agentes de IA nos websites: O atendimento muda para sempre
Não são apenas internamente que os agentes operam. Os websites jurídicos de alta performance em 2026 integrarão agentes de IA (copilotos) diretamente na interface de usuário. Em vez de um chat simples, teremos assistentes capazes de:
- Realizar triagens iniciais complexas;
- Organizar documentos para o cliente;
- Oferecer atualizações de processos em tempo real através de dashboards personalizados.
Isso transforma o website de um escritório em um verdadeiro ecossistema de colaboração entre máquina e profissional. O cliente não espera uma resposta em 24 horas, recebe atualizações em tempo real, segmentadas por sua situação específica.
A convergência para a "advocacia aumentada"
O conceito que une todas essas iniciativas é a "advocacia aumentada": não se trata apenas de IA generativa criando textos isolados, mas de sites, sistemas e fluxos inteiros que funcionam como ecosistemas de inteligência.
Nesse modelo:
- Inteligente: usa IA e dados para dar escala ao relacionamento;
- Técnico: exige governança, compliance, mensuração e foco comercial;
- Humano: a confiança, que é o que realmente compra advocacia, continua sendo construída na interseção entre clareza, reputação e experiência.
Conforme especialistas documentam, o marketing jurídico entra em 2026 mais inteligente, técnico e humano simultaneamente. Os agentes não eliminam a necessidade de confiança, a potencializam através de transparência e resultados previsíveis.
A realidade brutal: Diferencial vira requisito mínimo
Para Felipe Lima, sócio e head de Inovação do BKM, três movimentos principais marcarão os próximos anos: migração da IA de diferencial para requisito mínimo, maior foco em governança e ética, e expansão além do contencioso, transformando a IA em camada transversal de inteligência do escritório.
Isso significa algo crucial: em 2026, usar agentes de IA deixará de ser opcional. Será tão esperado quanto ter um website ou responder e-mails. Escritórios que não fizerem isso não serão ''tradicionais", estarão sendo incompetentes competitivamente.
O mercado que emerge
De acordo com pesquisa da Future Market Insights, o mercado global de tecnologia para o setor jurídico deve alcançar US$69,7 bilhões em receita até 2032. Não é crescimento incremental, é explosão exponencial.
Esse mercado não será capturado por escritórios que apenas "compram ferramentas". Será capturado por quem integra agentes às suas operações, treina pessoas, governa dados e cria vantagem competitiva sustentável.
O dilema final: Adoção vs. obsolescência
A questão que toda liderança jurídica enfrenta em dezembro de 2025 é brutal:
Meu escritório tem a estrutura, as pessoas e a mentalidade para integrar agentes de IA nos próximos 12 meses?
Porque conforme resume a experiência dos escritórios de ponta: não é mais uma questão de "se" adotar agentes, mas de "quão rápido" e "com qual nível de governança".
Os que anteciparem a tendência, investirem em capacitação e estruturarem governança terão acesso a um novo tipo de colaborador, infinitamente mais produtivo, confiável e escalável que qualquer equipe humana. Os que esperarem demais descobrirão que seus concorrentes já estão dois passos à frente, com sistemas que entendem seus clientes melhor, entregam respostas mais rápidas e cobram preços mais competitivos.
O futuro da advocacia não é menos humano, é mais aumentado. E esse aumento começa agora.


