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Filhotes de Leões

Eles acham que a ancestralidade lhes garante uma blindagem à prova de bala. Ou à prova da mais antiga verdade. Inalcançáveis, nem precisam mostrar coragem para atacar.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Atualizado em 18 de janeiro de 2008 08:20


Filhotes de Leões

Edson Vidigal*

Eles acham que a ancestralidade lhes garante uma blindagem à prova de bala. Ou à prova da mais antiga verdade. Inalcançáveis, nem precisam mostrar coragem para atacar.

Procuram mostrar-se mansos, inseridos, mas não escolhem hora. Pode ser dia, pode ser noite, estão sempre ávidos, querendo mais.

E olhem que são só filhotes.

Por falar em filhotes, me lembrei de Álvaro Pacheco, um ser humano extraordinário, vocacionado para vítima da exploração e da chantagem emocional de alguns amigos.

Poeta e notívago, nem estava querendo ver, mas viu, numa boate no Rio de Janeiro, a cena constrangedora da moça metida a cantora, em alegrias desmedidas, assediando o pianista. Não era o piano, era o pianista.

Mas não foi por isso que me lembrei do ousado editor, responsável por geniais, polêmicos e também medíocres lançamentos poéticos. Me lembrei do Álvaro por causa de um causo que ele gostava de contar sobre filhotes.

Teria se passado numa daquelas igrejas antigas do interior, tombadas pelo patrimônio histórico. Ih caramba, lá vem a maledicência daqui e alhures querendo associar o cenário de igreja antiga, recheada de santos velhos, com o causo dos filhotes.

Sei que vocês estão ansiosos, mas acho melhor retomar o mote inicial, os leões, os filhotes de leões. E também não me façam associações maldosas com aqueles do Palácio, os quais, sei lá porque, começam a mostrar sinais de ferrugem.

Nosso machismo só costuma enxergar o leão, sua juba, sua força, seu jeito majestoso. Quase ninguém presta atenção nas leoas. Poucos sabem que elas são mais perigosas, mais rápidas, mais instigantes e melhor lutadoras.

Dizem os pesquisadores, não esses de eleições, que os leões são caçadores notívagos. É que eles, no escuro, enxergam até mais. Por isso, as caçadas à noite quando os outros estão a dormir ou a bebericar.

Depois do assalto, abatida a presa, se estão em quadrilha ou bando, quem pega mais e primeiro é o leão mais velho, o grande chefe. Se o que assaltaram é pouco, o chefão fica com tudo. Nada fica para os filhotes e, talvez, por isso os bichinhos, quando se vêm sós, se danem no mundo com uma ansiedade danada.

Ah, sobre o roubo na igreja? Vou contar.

Começaram a sumir santos dos altares. A cada domingo abria-se a igrejinha para a santa missa e os fies notavam que havia menos santo para adorar. Até que sumiu o padroeiro. Não me peçam o nome do padroeiro porque, diz-se por aqui, é o nome é que faz a intriga.

Então, o padre falou ao bispo que falou ao prefeito que falou ao deputado que falou ao governador que acionou a Policia que destacou uns agentes para dormirem na igrejinha. Numa noite, foram acordados por um barulho de alguma coisa caindo.

Ladroes, sem vergonhas, roubando santos. Uma voz disfarçada, vinda de detrás do altar, falou. Nós não somos ladrões, nós somos é anjo. Ah são anjos? Retrocou o policial. Então sai um de vocês voando agora. Nós não voamos ainda, nós não temos asa, justificou o outro. Ah, são anjos e não têm asas? É, disse um deles, nós ainda somos fiotes.

Agora, Caetano, toca aquela - gosto muito de te ver, leãozinho / para desentristecer, leãozinho... / um filhote de leão, raio da manhã...

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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA







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