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Coisas que incomodam

Todos nós, a partir de uma época da vida, começamos a acumular coisas que nos incomodam. Algumas são deletadas, usando uma palavra da moda, mas com outras somos obrigados a conviver, queiramos ou não.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Atualizado em 27 de junho de 2008 10:42


Coisas que incomodam

Sylvia Romano*

Todos nós, a partir de uma época da vida, começamos a acumular coisas que nos incomodam. Algumas são deletadas, usando uma palavra da moda, mas com outras somos obrigados a conviver, queiramos ou não.

Não vou me aprofundar na questão do cigarro, por ser fumante, mas percebo que cada vez mais o cigarro dos outros me inquieta, assim como reconheço que o meu cigarro perturba muita gente. Crianças também me incomodam muito, principalmente aquelas que os seus pais ou responsáveis não colocam limites.

Filhos de pais ricos são apenas apresentados e depois voltam aos seus quartos ou espaços sempre acompanhados de uma babá. Meninos e meninas pobres, coitadinhos, são humildes e quietinhos. Chatas são as crianças da classe média, que os pais nos impingem em lugares públicos e em suas próprias casas quando os visitamos, e que são transformadas em centro das atenções e da má educação. Só quem gosta delas são seus próprios pais e parentes. Crianças são sempre muito chatas e inconvenientes - e vejam que em breve devo ser avó.

Tenho também cachorros e os amo muito; já os dos outros me importunam, pois avançam, mordem, soltam pêlos, pulam no meu colo, cheiram mal e alguns até querem fazer sexo com as minhas pernas. Sem falar nos cães dos vizinhos, que latem muito, principalmente na madrugada. E como se não bastassem animais barulhentos, os alarmes das casas e dos carros sempre disparam quando estou pegando no sono.

Os programas de televisão também continuam cada vez mais chatos. Tem os de notícia, que só trazem desgraças, e os de pastores e padres e sei lá mais o que, que só pedem dinheiro e prometem tudo para quem dá. Deus não importa apenas as doações e, assim, estes falsos arautos divinos continuam ficando mais e mais ricos. Programas de entrevistas sempre trazem o óbvio; só os escândalos é que interessam principalmente se forem ligados a sexo, traição e outros fatos normais de todos os hipócritas.

Celebridades de plantão e formadores de opinião surgem logo após os "big brothers" e somem, graças a Deus, com a mesma velocidade que apareceram, mas até que isto venha a ocorrer, estes famosos "quem" perturbam e incomodam muita gente. A moda também chateia e muito. Aquela blusa que comprei há um mês já está fora de moda, mas o apartamento com churrasqueira no terraço é a última tendência, mais "jeca" impossível.

Incomoda-me demais ter de ouvir, por descuido, discursos no rádio e na TV das nossas autoridades, bem como os tão freqüentes escândalos federais, estaduais e municipais, que nunca são punidos. Também me aborrece como advogada, ter de enfrentar diariamente a morosidade da nossa Justiça, que nunca anda, nunca decide e que pouco faz. É inoportuno ser politicamente correta e ter de conviver com cotas raciais, mesmo sabendo que somos todos iguais perante a Lei e que vivemos hoje em um País de minoria branca, como já anunciado por diversos Censos amplamente divulgados. Do mesmo modo, incomoda muito ter de conviver com a mediocridade que assola uma grande parcela da humanidade, mesmo sabendo que ainda tenho muito que aprender.

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*Advogada do escritório Sylvia Romano Consultores Associados










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