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Além do horizonte

Essas crianças sosseguem. A cada tempo despontam as horas das novidades. Muitas nem tão novas assim. De tão esquecidas acabam recicladas. Outras nem tanto. E para quem não sabe sobre a história ou não a viveu naquelas emoções encardidas, isso de agora aí não é nada. Pode parecer coisa nova, mas não é não.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Atualizado em 8 de abril de 2009 14:04


Além do horizonte

Edson Vidigal*

Essas crianças sosseguem. A cada tempo despontam as horas das novidades. Muitas nem tão novas assim. De tão esquecidas acabam recicladas. Outras nem tanto.

E para quem não sabe sobre a história ou não a viveu naquelas emoções encardidas, isso de agora aí não é nada. Pode parecer coisa nova, mas não é não.

Desde que até as sardinhas mesmo depois de mortas passaram a ter, elas também, o seu tempo de lata contado em começo, meio e fim que os poetas respiram aliviados.

A poesia, afinal, não tem prazo de validade. Valem os vales no amanhecer. Estes não têm prazo de validade. Valem as buganvílias no vermelho ou no branco de suas flores e no verde das suas folhas.

Nas muitas manhãs dos dias que ainda nem bem nasciam as espirradeiras cederam flores para os buquês matinais. Quando se tenta desgarrar as flores da espirradeira o galho resiste, expele uma gosma leitosa.

Complicado não é isso. Complicado é quando se tem de lidar com gente complicada. Gente carente, que precisa de ajuda e não quer ser ajudada.

Você olha as duas calçadas, uma de um lado, outra do outro. O trânsito é horrível, a avenida é estreita e com mão dupla. Tudo nesse cenário se resume a uma travessia, que nem seria tão complicada. Mas está sendo.

Comprei numa livraria de um supermercado em Sidney, na Austrália, um livro que me pareceu interessante, 'Como Lidar Com Pessoas Complicadas'.

De tanto me interessar por esse tema - gente complicada e essa dificuldade que é ter que conviver com elas, acho até já que tenho um certo dom para atraí-las.

Fui encontrando outros livros, verdadeiros manuais, de outros autores, uns psiquiatras, outros só psicanalistas.

São pessoas realmente muito difíceis, avisam os doutores. No começo a gente imagina que fazem aquele gênero boboca, dissimulado, tipo coveiro se fingindo de morto. Qual nada. São doentes mentais mesmo, estancados no estágio primário.

Tem aquele outro tipo que não querendo compreender nada já sai discordando. De nada serve o esforço danado para contornar as coisas, mesmo abrindo mão da razão para dizer que ele está certo. Aí muda de idéia só para contrariar.

Então, esse negócio de arrancar flores manhã bem cedo das espirradeiras na volta da caminhada e chegar em casa com o buquê na mão se resume a nada, seca o romantismo, se no meio do caminho nem tinha uma pedra, tinha um cara complicado no meio do caminho.

É bom não esquecer, essas crianças, que os caras complicados não chegam a ser assim tão perversos quanto os das perversidades mentais prévias.

Os das perversidades mentais prévias são também uns doentes em estágios mais avançados. Muito piores, porém, do que os caras complicados, que parecem satisfazerem-se apenas com a complicação com que enredam os outros, chateando os que lhes ajudam e eles, precisados, reagindo como se não precisassem.

Os caras das perversidades mentais prévias são piores na potencialidade do mal que fazem aos outros.

Gastam as esperanças dos outros, tripudiam sobre a fé dos outros, roubam as idéias dos outros, e sufocam os sonhos dos outros se esses sonhos se explodem em verdades divergentes.

São os que se imaginam nascidos para dominar e se vocês, essas crianças, abaixarem a guarda eles dominam mesmo.

Essas crianças, quem foi que lhes disse que o horizonte acaba aqui? Acaba não. É levantar a vista e encarar o sol de frente. Ou a tempestade que pelo sinal das nuvens turvas vai desabar na ilha deles, não na nossa aqui.

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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA





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