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Olhos nos Olhos

O olhar sorumbático, totalmente macambúzio, diz tudo. Mas vendo assim quase de longe a impressão que dá é que é um daqueles espécimes extraordinários que conseguem seguir com as ondas, indo e vindo, quase encostar na areia, não encalhar e voltar.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Atualizado em 17 de junho de 2009 10:15


Olhos nos Olhos

Edson Vidigal*

O olhar sorumbático, totalmente macambúzio, diz tudo. Mas vendo assim quase de longe a impressão que dá é que é um daqueles espécimes extraordinários que conseguem seguir com as ondas, indo e vindo, quase encostar na areia, não encalhar e voltar.

Os meus ouvidos se alongam distraídos no som monofônico do marulhar. O meu caminhar apressado mas sem pressa segura o ritmo dos batimentos, nem a mais nem a menos.

O meu olhar se encomprida e passeia entre o cinza das nuvens e o nada azul do mar, céu e mar quase se encontrando como se fossem se confundir adiante.

O planeta que se chama terra tem mais água do que terra.

Só que do total dessa água, noventa e sete virgula dois por cento é salgada, não dá para beber.

Significa dizer que como a população do mundo cresce e as potencialidades hídricas não crescem, ao contrário se deterioram, não vai demorar muito e vamos ter mais um grande problema, talvez o mais sério.

O Brasil, apesar de ter uma das maiores bacias hidrográficas do mundo, não está fora desse perigo. Desrespeitamos muito a natureza.

Já temos rios mortos e rios muito doentes, rios que estão morrendo. Já temos contaminações terríveis em muitas águas de que somos dependentes.

A poluição ambiental que temos encarado mais em discussões acadêmicas e em enfadonhos discursos eleitoreiros, se amplia enfumaçando o ar. As bocas de esgotos exalam um mau hálito horrível, isso tudo instigando, ainda bem, as indignações coletivas.

O olfato não se acostuma. Beijos não se completam. Amores se frustram. Não há sentimento sem asseio. Não pode haver ternura sem perfume, sem alguma fragrância. Se não há fragrância é preferível o só cheiro da natureza, o seu ar puro.

O caminho já é o da volta, e ele, o folgado, lá no balanço da onda, indo e vindo, como se fosse um surfista. O encanto se quebra se você disparar seu olhar direto nos olhos dele. É um peixe enganoso, que consegue enganar mesmo depois de morto.

Tem gente que nem precisa de ondas do mar para surfar. Tem um faro danado para saber o rumo da maré das coisas e nunca se contrapõe, adere sempre e se nota alguma resistência adula, adula, essa é a sua coerência.

Não sei porque mas me ocorre recitar em silêncio o verso de Drummond. Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução.

A hipótese me assusta. E me dano agora a recitar a agenda.

Inovações conceituais e melhores práticas para promover a qualidade e a excelência da gestão pública. Estratégias e reforma político-institucional para incrementar a capacidade do governo na democracia republicana.

Formação de lideranças e identificação das capacidades diretivas para o fortalecimento institucional no âmbito do poder público. Emprego público e profissionalização da função pública para a promoção do desenvolvimento.

Os desafios do governo eletrônico para universalizar a cidadania digital. Coordenação de políticas publicas e compensação dos desequilíbrios regionais. E a gestão para resultados de desenvolvimento.

Caminhando assim apressado mas sem pressa, me defendendo da sujeira, a moral instintivamente escapando de garrafas quebradas e de todo tipo de sujeira, despejo no bojo das ondas o olhar quase distraído, os ouvidos quase desligados, como se para transformar melhorando isso tudo aqui eu tivesse que fazer de mim um barco e sair por aí, mar a dentro, navegando.

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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA





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