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20 de Novembro

Joaquim Nabuco: "a escravidão é sempre um erro"

Entre as tantas contribuições do escritor, político, advogado e diplomata, uma se destacou: a luta implacável pelo fim da escravidão.

Da Redação

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Atualizado em 18 de novembro de 2015 15:52

Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, escritor, político, advogado e diplomata, nasceu em Recife/PE, em 19 de agosto de 1849, e faleceu em Washington, EUA, em 17 de janeiro de 1910. Nestas seis décadas de vida, Nabuco muito produziu em prol das letras e da política, deixando ao país um rico legado e vasto acervo de obras que serve como referencial, passado mais de um século de sua morte.

Entre suas tantas contribuições, entretanto, uma se destacou amplamente em detrimento das demais, em termos de importância ao país e à humanidade: a luta implacável pelo fim da escravidão.

"O abolicionista é o advogado gratuito de duas classes sociais que, de outra forma, não teriam meios de reivindicar os seus direitos, nem consciência deles. Essas classes são: os escravos e os ingênuos."

O político

"A pátria varia em cada homem."
(O abolicionismo, 1883)

Formado em Ciências Sociais e Jurídicas na Faculdade de Direito do Recife, Joaquim Nabuco foi eleito deputado geral pela província de Pernambuco em 1879, passando no ano seguinte a participar do parlamento. O fato marcou o início de sua campanha em favor da abolição, que logo se tornou causa nacional.

Poucos anos depois, em 1880, Nabuco deu outro importante passo nesta direção, ao organizar e instalar em sua casa a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. A atitude teria sido um desafio à elite conservadora da época, que considerava a escravidão uma instituição indispensável ao desenvolvimento do Brasil.

Com a movimentação no sentido de aprofundar as discussões a respeito da questão, as divergências entre Nabuco e seu partido arraigaram, fato que tornou inviável a sua reeleição. Derrotado nas eleições para a Câmara dos Deputados, como representante dos abolicionistas, ele partiu para a Europa, em 1882.

Foi lá, em 1883, que Joaquim Nabuco produziu e publicou uma de suas obras mais emblemática em prol da causa, o livro "O Abolicionismo".

O escritor

"Os partidos desaparecem, mas a ideia, o movimento, a aspiração são eternos."
(O abolicionismo, 1883)

No prefácio da obra, Nabuco comemora o fato de, no país, à época, já existir uma consciência nacional em formação, que ia introduzindo a dignidade humana na legislação brasileira e para a qual a escravidão, apesar de hereditária, "é uma verdadeira mancha de Caím".

Essa consciência, segundo o autor, resultaria da mistura de duas correntes diversas: o arrependimento dos descendentes de senhores, e a afinidade de sofrimento dos herdeiros de escravos.

"Não tenho, portanto, medo de que o presente volume não encontre o acolhimento que eu espero por parte de um número bastante considerável de compatriotas meus, a saber: os que sentem a dor do escravo como se fora a própria, e ainda mais, como parte de uma dor maior - a do Brasil, ultrajado e humilhado; os que têm a altivez de pensar - e a coragem de aceitar as consequências desse pensamento - que a pátria, como mãe, quando não existe para os mais dignos; aqueles para quem a escravidão, degradação sistemática da natureza humana por interesses mercenários e egoístas, se não é infamante para o homem educado e feliz que a inflige, não pode sê-lo para o ente desfigurado e oprimido que a sofre; por fim, os que conhecem as influências sobre o nosso país daquela instituição no passado e, no presente, o seu custo ruinoso, e preveem os efeitos da sua continuação indefinida."

No texto, Joaquim Nabuco afirma que se sentiria recompensado, se as sementes "da liberdade, direito e justiça, que estas páginas contêm, derem uma boa colheita no solo ainda virgem da nova geração"; se o livro concorresse, unindo em uma só legião os abolicionistas brasileiros, para apressar, ainda que seja de uma hora, "o dia em que vejamos a Independência completada da Abolição, e o Brasil elevado à dignidade de país livre".

O abolicionista

"A escravidão é sempre um erro"
(O abolicionismo, 1883)

O escritor afirmava na obra que o nosso caráter, o nosso temperamento, a nossa organização toda, física, intelectual e moral, achava-se "terrivelmente afetada pelas influências com que a escravidão passou trezentos anos a permear a sociedade brasileira".

Neste contexto, segundo Nabuco, a animação dos abolicionistas seria para o escravo como o desejo, "o sonho dourado da sua pobre mãe, recordação indelével de infância dos que foram criados no cativeiro"; era como "as palavras que lhe murmuram ao ouvido os seus companheiros mais resignados, para dar-lhe coragem".

"Os escravos, em geral, não sabem ler, não precisam, porém, de soletrar a palavra liberdade para sentir a dureza da sua condição."

Joaquim Nabuco escancarava aos olhos da sociedade conservadora: "A escravidão não é um contrato de locação de serviços que imponha ao que se obrigou certo número de deveres definido para com o locatário. É a posse, o domínio, o sequestro de um homem".

"A escravidão não é uma opressão ou constrangimento que se limite aos pontos em que ela é visível; ela espraia-se por toda parte; ela está onde vós estais; em nossas ruas, em nossas casas, no ar que respiramos, na criança que nasce, na planta que brota do chão."

O escritor defendia que nenhum país pode subir um degrau na escada da civilização e da consciência moral se não tiver com que desapropriar a sua imoralidade e o seu atraso. "A pátria deve proteção igual a todos os seus filhos e não pode enjeitar nenhum."

O idealizador

"A influência da escravidão não se desenraiza num dia."
(O abolicionismo, 1883)

Quando retornou ao Brasil, Joaquim Nabuco seguiu na carreira política. Em 1884, realizou a campanha para a eleição, por Pernambuco, à Câmara dos Deputados, defendendo ao lado de José Mariano, a causa do abolicionismo.

No ano seguinte, Nabuco começa a atuar incisivamente em prol do projeto de lei de libertação dos sexagenários. Em 1888, teve uma audiência particular com o papa Leão XIII e relatou a luta pelo abolicionismo no Brasil.

Em março de 1888, o Gabinete João Alfredo assume o governo com o propósito deliberado de abolir a escravatura no Brasil. Nabuco, apesar do Gabinete ser conservador, o apoiou e deu uma grande contribuição à aprovação da Lei Áurea.

"Se a escravidão está morta, se não há nada que a possa ressuscitar e se por outro lado o que vem atrás dela é a abundância e a fertilidade, é preciso abreviar o mais possível o terrível interregno que estamos atravessando da escravidão para a liberdade."

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