Porandubas Políticas

Porandubas nº 360

Para o colunista não há perigo de tempestades, mas há sinais de um mar borrascoso, comparando a relação entre o governo Dilma e suas bases.

5/6/2013

Abro a Coluna com duas historinhas.

Qualquer desculpa serve

Teotônio não era apenas o apóstolo da redemocratização. Era um aplicado discípulo do Cristo. Como Ele, gostava de falar por parábolas. No Clube dos Repórteres Políticos do Rio, perguntaram-lhe por que o governo e a Arena tinham tanto medo das eleições diretas. Ele sorriu e contou :

- "A vaca do compadre pobre apareceu no pasto do compadre rico. O compadre pobre pediu ao compadre rico uma corda para tirar a vaca de lá. O compadre rico desconversou :

- Agora, eu vou à missa.

- Mas, compadre, o que é que tem minha vaca com a sua missa ?

- "Compadre, quando a gente não quer, qualquer desculpa serve".

Cuidado para não cair

Quintino Cunha, famoso advogado e poeta, estava participando de um júri em Quixeramobim. O promotor berrava na tribuna :

- Senhores jurados, estou montado na lei.

Quintino pede um aparte :

- V. Exa. tenha cuidado para não cair, porque está montado em um animal que não conhece.

O promotor se calou.

(Historinhas contadas pelo amigo e melhor contador de causos de nossa política, Sebastião Nery)

Mar borrascoso

Não há perigo de tempestades imediatas. Mas não se pode igualmente garantir que a calmaria toma conta do oceano. Digamos que há sinais de um mar borrascoso, a continuarem as nuvens plúmbeas dos últimos tempos. Estamos falando da relação entre o governo Dilma e suas bases. Os partidos da aliança governista, sem exceção, estão insatisfeitos com a indiferença da presidente para com a esfera política. Não se trata apenas de resistir às pressões para liberação de recursos destinados às bases dos parlamentares. Trata-se, sobretudo, do espírito que reina sobre a administração : ministros sentem-se limitados em suas ações ; secretários executivos fazem a ponte entre a presidente e os ministérios ; partidos não apitam nas políticas ministeriais e, assim, a política de coalizão vai se tornando em política de colisão.

PMDB faz alerta

Os presidentes da Câmara e do Senado, Henrique Alves e Renan Calheiros, foram levados pelo vice-presidente Michel Temer para uma conversa franca e leal com a presidente Dilma. Fizeram ver que o Congresso não pode e não deve trabalhar de afogadilho, sendo o escoadouro das questões de interesse governamental. Precisa agir nos trâmites estatuídos na Carta Maior, respeitando-se os princípios da autonomia, independência e harmonia entre os Poderes. Todo cuidado foi tomado para evitar críticas mais acerbas ao comportamento das ministras Gleisi e Ideli. Na verdade, as duas não têm poder de mando. Funcionam como veículos de transporte de mensagens e recados. A relação entre Congresso e Executivo precisa ser mais respeitosa.

Tensões na base

Nunca se viu, como hoje, um contencioso mais denso e polêmico que este gerado pelas tensões entre o governo e suas bases. Líderes e partidos criticam, de público, ações e atitudes da presidente e de suas ministras que promovem a articulação política. Governistas já usam expressões que sinalizam distanciamento de seus partidos do governo em face do descaso a que são submetidos. Com o PMDB, as parcerias com o PT estão ameaçadas em 7 Estados. O PMDB quer fazer o maior número possível de governadores, meta que também está na planilha do PT. O ex-presidente Lula, diz-se, após o périplo que faz em alguns países, vai se dedicar à tarefa de harmonizar os espíritos. Tarefa que, desta feita, tende ao fracasso.

De olho no pibinho

Os eventuais quatro candidatos principais à presidência da República poderão empurrar o pleito de 2014 para um segundo turno. As pesquisas mostram que se todos forem à luta – Dilma, Aécio, Marina e Eduardo Campos – as chances de um segundo turno tornam-se muito fortes. Ademais, sinais preocupantes se observam no horizonte, com as indicações de queda de 10 pontos percentuais na avaliação da presidente Dilma e de inclusão do cardápio da inflação na conversa matinal das donas de casa que fazem feira. A queda de Dilma pode não ser impactante, face à alta avaliação que dispõe – 76% de boa avaliação. Quem pode acinzentar a moldura é a continuidade de um pibinho inexpressivo sob o pano de fundo de um desemprego crescente. Isso, sim, poderia ser uma frente de obstáculos. Por isso, a economia estará no olho do furacão nos próximos tempos. Ou no olho dos pré-candidatos.

Consumo X investimento

Há uma intensa discussão no meio da equipe econômica. Como se sabe, nem todos rezam pela mesma cartilha. Há aqueles que ainda defendem o incentivo ao consumo como pista para se chegar ao pódio eleitoral. E há aqueles que acham tal receita completamente defasada. Os tempos bicudos de hoje já não facilitam medidas de impulso ao consumo, como as que o Brasil adotou para escapar da crise de 2008. O novo tom é o da orquestra que toca os arranjos dos investimentos. Diz-se que a arenga entre os pensantes de um lado e de outro é ácida. E que, por conta disso, figuras importantes estão dando adeus ao governo, como é o caso do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.

MP 609

Vem aí a MP 609, que trata da cesta básica. Nela estaria embutido o escopo da frustrada MP 605, que não foi votada pelo Senado e caducou. Pois bem, essa MP é daqueles que mexem com o governo, eis que contem matéria vital para a melhoria do clima social. Há receio de que seja vencida pelo tempo. Não tem ainda parecer do relator, deputado Edinho Araújo. O receio é que, aprovada às pressas pela Câmara, chegue ao Senado fora dos prazos regulamentares, estatuídos pelo presidente Renan Calheiros.

Partido Rede

Boas perspectivas : o Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva, deverá ser formalizado até a data fatal de princípio de outubro deste ano, um ano antes das eleições. Até julho, a entidade terá suas 500 mil assinaturas. O corredor do Tribunal Eleitoral é que pode ser longo.

PSD em baixa ?

Ouve-se, aqui e acolá, um bochicho dando conta da fuga do PSD que alguns parlamentares estariam programando caso, até outubro, novos partidos políticos apareçam no espectro partidário. Além do Rede, de Marina, espera-se que o partido que está sendo criado por Paulinho da Força também ganhe vida. No caso do PSD, fala-se da tendência de parcela do corpo parlamentar em deixar a base governista para se aliar a Aécio Neves ou Eduardo Campos. Kassab, mãos à obra !

Padilhando... ?

Dizem que o ministro Alexandre Padilha já recebeu bilhete azul para viajar no pleito de 2014 como candidato ao PT ao governo de SP. Incrível, pois o ministro tem pouca coisa a apresentar. Se há um lado feio na paisagem social é o da Saúde. A ponto de Padilhando ser chamado de ministro da Doença. Por isso, o padilhando, o gerúndio que o pré-candidato começa a semear no jardim da marquetagem, pode se transformar no vadiando ou no maltratando... !

Segurança crítica

Segurança Pública será, seguramente, temática da linha de frente nas campanhas eleitorais de 2014, principalmente nos maiores Estados, cujas metrópoles pedem SOS. Os casos de barbaridade explodem. Crimes hediondos se multiplicam. Qual a solução ? Mais policiais ? Salários melhores ? Integração das Forças ? Investimento em Inteligência ? Diminuição da maioridade penal ? Aumento do prazo de detenção do adolescente criminoso ? Mudança no Estatuto da Criança e do Adolescente ? Expansão das redes dos presídios ? Instituição de bônus-prêmio para policiais com melhores resultados na diminuição dos índices de violência ?

Horizontes do Bradesco

"As expectativas para as principais variáveis macroeconômicas passaram por ajustes, especialmente para 2013, respondendo à frustração com o resultado do PIB do primeiro trimestre, à mudança de ritmo do aumento da Selic anunciada na decisão do Copom na última quarta-feira e à rápida depreciação da moeda brasileira, observada na semana passada, conforme apontado pelo Relatório Focus - divulgado hoje pelo Banco Central, com estimativas coletadas até o dia 31 de maio. A mediana das expectativas para o IPCA passou de 5,81% para 5,80% para este ano e seguiram em 5,80% para ano que vem". (Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas do Bradesco)

PIB de 2,77%

"A estimativa de crescimento do PIB mostrou queda para 2013, passando de 2,93% para 2,77% e caiu de 3,50% para 3,40% para 2014. A mediana da projeção para a taxa Selic subiu de 8,25% para 8,50% para este ano e continuou em 8,50% para 2014. Por fim, as projeções para a taxa de câmbio apresentaram discretos ajustes na direção do real mais depreciado, passando de R$/US$ 2,03 para R$/US$ 2,05 em 2013 e de R$/US$ 2,07 para R$/US$ 2,10 em 2014, considerando a expectativa para final de período". (Bradesco)

Afif governador

Pois é, Guilherme Afif assumirá, na próxima semana, o governo de SP, substituindo o governador Alckmin, que viajará à Europa. Alckmin defenderá, em Paris, ao lado do vice-presidente Michel Temer, a candidatura da capital paulista como sede da Expo 2020. Afif pedirá afastamento temporário da Pasta da Micro e Pequena Empresa. Não há nenhum obstáculo a essa ação. O ministro segue rigorosamente a orientação da AGU. Que, em parecer, defendeu não haver nenhuma ilegalidade para que o vice-governador assuma o governo temporariamente.

Medo em bares e restaurantes

A onda de violência em bares e restaurantes da cidade deve provocar uma procura maior por segurança privada, a maneira indicada para conter os arrastões. Mas os proprietários não podem incorrer num erro primário : contratar pessoas sem experiência e, muito menos, empresas clandestinas que infestam o mercado, dessas sem autorização da Polícia Federal para funcionar. Cautela é fundamental : informe-se sobre a idoneidade da empresa na própria PF ou no Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica, Serviços de Escolta e Cursos de Formação do Estado de São Paulo - Sesvesp.

Picadinho

A propósito da mulher que fez picadinho do marido-japonês, a coluna recebe esse alerta do amigo Álvaro Lopes :

"Até a década de 70, se a mulher descobrisse uma traição ela perdoava e cuidava do marido, com medo de ser abandonada...

Na década de 80, se a mulher descobrisse uma traição, juntava as próprias coisas na mala e ia embora...

Na década de 90, se a mulher descobrisse uma traição, juntava as coisas do marido na mala e o mandava embora...

Hoje, quando a mulher descobre a traição, junta o marido em pedaços na mala e joga tudo fora".

Conselho ao novo ministro do STF

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos dirigentes da ANAC. Hoje, volta sua atenção para o ministro Luís Roberto Barroso, recém-nomeado para compor o quadro do STF :

1. A sociedade organizada acompanha com atenção a movimentação que culminou com sua nomeação para o elevado cargo de ministro da mais alta Corte do país, graças aos seus méritos pessoais e reconhecida sapiência de jurista.

2. É de esperar que a passagem de Vossa Excelência pelo STF será coroada de êxitos e brilho. O momento político-institucional mostra o acirramento de tensões entre os Poderes, motivo pelo qual sua performance – decisões, julgamentos, pareceres – deverá receber alta atenção dos operadores do Direito e das lideranças da sociedade.

3. Por isso mesmo, toda cautela se fará necessária para que os julgamentos a cargo de Vossa Excelência estejam imunes ao "viés politiqueiro", que passou a carimbar as atitudes de membros da Corte Suprema. Que a recomendação de Vossa Excelência ilumine as decisões de todos os seus futuros colegas : "STF não deve ceder à pressão da sociedade".

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.